Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos

Entre a realidade e a fantasia

Os irmãos David (Reece Yates), Peter (Jordan A. Nash) e Alice (Keira Chansa) vivem uma infância feliz e cheia de fantasias, até que David morre de maneira trágica.

Os pais das crianças (David Oyelowo e Angelina Jolie) entram em um luto profundo que se acumula a algumas dívidas do pai e a tentativa da tia, Eleanor (Anna Chancellor) de transformar Alice em “uma dama”.

Alice e Peter então, resolvem ajudar seus pais, enquanto tentam manter sua infância o máximo de tempo possível.

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Alice e Peter

Os personagens que dão nome ao filme e que são também, seus protagonistas, funcionam aqui como releituras dos personagens de dois clássicos da literatura infantil mundial: Peter Pan e Alice no País das Maravilhas. No filme, Peter e Alice são duas crianças pequenas vivendo em uma Inglaterra rural. Eles ainda não viveram suas respectivas aventuras, mas criam os seus próprios mundos fantásticos.

O filme Alice e Peter tem uma série de referências às obras de J. M. Barrie e Lewis Carroll, como os piratas, o navio, o crocodilo (que aqui é um bicho empalhado), um sino que representa a fada Sininho, as sombras, e os meninos perdidos, no caso de Peter Pan; e o coelho, as cartas do baralho, o chá, o xadrez e alguns personagens de Alice no País das Maravilhas, mas tudo é bem sutil.

O filme tem algumas alusões bem mais claras, como a roupa que Alice ganha de sua tia, que é uma menção mais do que óbvia ao famoso vestido azul da versão da Disney, e o fato de Alice se apelidar de Tigrinha, como a princesa indígena de Peter Pan, mas a produção está bem longe de ser uma adaptação fiel dessas duas histórias.

Angelina Jolie em cena do filme
Angelina Jolie em cena do filme

Quem gosta dessas histórias e é um pouco mais atento, vai perceber tudo isso, mas existe grande chance de boa parte passar despercebida, já que são pequenos detalhes que aparecem em cenas pontuais.

Realidade x fantasia

Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos tem uma premissa bem básica, que já foi usada antes, mas que funciona. O filme usa a realidade e a fantasia como contrastes. No começo, David, Peter e Alice vivem brincando pela propriedade de seus pais, imaginando histórias e criando mundos fantásticos, que só eles enxergam. Nas cenas em que eles brincam, o telespectador também pode ver o que eles estão imaginando e pode, de certa maneira, participar do que eles estão vivendo.

Quando David morre, o mundo perde um pouco da cor e da fantasia, e as crianças se veem com os pés totalmente fincados na realidade, sendo quase obrigadas a crescerem de maneira abrupta. Outros aspectos da vida real, então, começam a cair no colo das crianças, como as dívidas do pai e os perigos que isso traz para a família e a tentativa da tia, Eleanor, de controlar a vida de Alice, que ela acha que deve ser criada como “uma dama”.

O longa mistura realidade e fantasia
O longa mistura realidade e fantasia

É a partir desse momento que a fantasia, que antes existia apenas na imaginação das crianças, começa a, aparentemente, tomar a realidade. No entanto, o telespectador nunca tem certeza absoluta se está acompanhando a realidade ou a fantasia, fica sempre na sugestão, o que prejudica um pouco a premissa.

É claro que, de acordo com a trama, a realidade da vida das crianças entra no caminho da fantasia presente na cabeça deles, e os obriga a crescerem antes da hora mas, quando o longa não é tão bom em deixar claro o que é realidade e o que não é, essa dualidade se perde no meio do caminho.

Releitura

Embora o filme use uma série de personagens de Peter Pan e de Alice no País das Maravilhas, o longa não é exatamente uma adaptação, isso porque ele não segue à risca nenhuma das duas histórias e usa apenas elementos que lhe interessam de cada trama.

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Para começo de conversa, Alice e Peter mistura duas histórias que não tem nenhuma relação entre si, além de serem consideradas novos contos de fadas modernos, e falarem sobre crianças vivendo aventuras em um mundo fantástico. Os outros aspectos, para além dos nomes dos personagens, são usados de maneira bem esparsa, que podem até passar despercebidos.

Isso, por si só não é um problema, já que tanto Peter Pan, quanto Alice no País das Maravilhas são tramas atemporais, que funcionam ainda hoje e que possivelmente continuarão funcionando durante bastante tempo. É justamente essa habilidade de falar com diversas gerações que fazem deles clássicos e que permite que ganhem adaptações e releituras das formas mais diversas. O problema aqui é que este filme é muito bagunçado.

É muito difícil mergulhar a fundo na história porque é complicado entender exatamente o que está acontecendo no filme. Ou sequer aonde ele quer chegar. Para piorar, o longa contradiz algumas das relações que ele mesmo faz e vai se tornando mais e mais bagunçado com o tempo, como se a roteirista quisesse colocar o maior número de referências possível, sem muito critério.

David e Peter
David e Peter

As tramas de Peter Pan e Alice no País das Maravilhas poderiam facilmente serem misturadas, mas Alice e Peter soa só bagunçado e, em alguns momentos, sem sentido.

Aspectos técnicos de Alice e Peter

Apesar do seu roteiro bagunçado, este é um filme bem feito em relação ao seu aspecto visual. As cenas são muito bonitas, os figurinos cuidadosos e a fotografia combina com a ideia do longa.

Os figurinos fazem poucas referências às tramas que inspiraram o filme, como se quisessem guardar suas surpresas, o que de certa maneira funciona. A fotografia começa bem clara, em tons que são quase oníricos, e que aumentam ainda a sensação de fantasia que paira na vida dessas crianças. Depois da morte de David, no entanto, tudo fica mais escuro, justamente para demonstrar não só o luto dos pais e a falta de compreensão da morte pelas crianças, como também o fim das brincadeiras e talvez a chegada da idade adulta. O filme estabelece bem seus cenários, o que ajuda o telespectador a entrar na trama no começo.

O longa não é uma adaptação
O longa não é uma adaptação

O longa tem boas atuações como a de Keira Chansa, que interpreta Alice, mas também apresenta alguns desperdícios, como Angelina Jolie em um papel pequeno e com pouca expressão e Michael Caine, que aparece em duas cenas.

Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos usa de duas histórias com muito potencial, mas se perde no caminho, enquanto tenta acrescentar o máximo possível de referências, sem pensar no sentido geral do filme. O longa chega aos cinemas no dia 3 de junho.

Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos

Nome Original: Come Away
Direção: Brenda Chapman
Elenco: Angelina Jolie, David Oyelowo, Gugu Mbatha-Raw, Keira Chansa, Jordan A. Nash
Gênero: Fantasia, Drama, Aventura
Produtora: Endurance Media, Hammerstone Studios, TinRes Entertainment, Fred Films, Yoruba Saxon Productions,
Distribuidora: Imagem Filmes
Ano de Lançamento: 2020
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