Anna e a crueldade dos homens geniais

Anna (Bela Leindecker) é uma jovem atriz que, pela primeira vez, tem a chance de trabalhar com Arthur (Boy Olmi), um famoso diretor de teatro. Arthur deseja montar Hamlet, de William Shakespeare, e Anna faz teste para o papel de Ofélia.

Ela é escalada para o papel mas, a obsessão de Arthur em realizar a peça de maneira perfeita logo começa a dominar toda a companhia, assim como a relação de Anna e Arthur, que toma rumos pessoais e abusivos.

A companhia

O filme acompanha uma companhia de teatro comandada por Arthur, um diretor famoso e prestigiado, mas que também tem a fama de ser abusivo com os atores que trabalham com ele.

Durante o longa, assistimos ensaios e exercícios da companhia que nos colocam dentro daquele universo. Arthur é considerado um gênio e todos os atores que fazem parte da companhia se mostram agradecidos e felizes por fazerem parte desse projeto, mas também fica claro que ele é muito perfeccionista e extremamente autoritário.

Quando resolve montar Hamlet, uma peça que ele vem tentando encenar há anos e pela qual parece ser obcecado, esses aspectos de sua personalidade ficam ainda mais exacerbados. Em um ensaio, ele grita, humilha e expulsa um ator que está interpretando Hamlet.

A trama estabelece, relativamente cedo, que Arthur pode ser um homem genial, mas que tem um comportamento abusivo e isso se desenvolve de maneira cada vez mais complexa.

Anna e Arthur

A relação de Anna e Arthur começa como a de um diretor e sua atriz. Quando ela é escalada para viver Ofélia na montagem da peça, o público já nota que a escalação não se dá exclusivamente em função do talento da protagonista. Muito sutilmente, Arthur começa a flertar com Anna e a rondá-la.

A relação dos dois acaba, eventualmente, se tornando sexual, e isso reflete e, em determinados momentos, influencia na peça que eles estão montando. O surgimento de uma outra atriz, que foi escalada para interpretar Ofélia em uma outra montagem que nunca saiu do papel, prova que Anna não é a primeira atriz a se encantar por Arthur e ver sua vida e sua carreira virar de cabeça para baixo.

A ideia do filme é retratar justamente o comportamento de Arthur, que é abusivo, e que no caso de sua relação com a atriz, se torna assédio, mas o filme não vai tão fundo no tema. O longa é sutil e cabe ao telespectador entender muitos dos avanços de Arthur mas, em muitos momentos, ele parece não falar de nada e nem dar nenhuma declaração muito clara sobre o assunto, o que limita o alcance e não passa a mensagem para todo o público.

Aspectos técnicos de Anna

O filme é relativamente simples, embora tenha um roteiro intricado. Boa parte da trama se passa no teatro onde a companhia está ensaiando, o que ajuda a localizar o telespectador. O longa também coloca o público dentro dos ensaios da companhia, por isso, nos sentimos como parte daquilo.

Por outro lado, é meio difícil se conectar com a obra ou com os seus personagens. Não conhecemos Anna e Arthur a fundo, por isso, sua trama vai perdendo a força com o tempo. O fato de não deixar o assédio totalmente claro prejudica um pouco a mensagem que quer passar, mas o longa se pergunta em alguns momentos se devemos aturar tudo que um artista considerado gênio faz, simplesmente porque seu trabalho é bom. Entretanto, nada é muito profundo.

O grande problema de Anna é que o longa não é nada dinâmico e, por isso, se torna chato e cansativo. Depois de um tempo, o telespectador ainda se pergunta qual é exatamente a mensagem do filme e vai se desinteressando da trama.

Anna parte de uma boa história, mas não se aprofunda nos seus temas e, por isso, soa como um trabalho sem muito conteúdo. O filme chega aos cinemas no dia 24 de junho.