Anna: O Perigo Tem Nome, de Luc Besson
O diretor Luc Besson ficou conhecido por seus filmes envolvendo mulheres no mundo da espionagem, como Lucy (com Scarlett Johansson), O Profissional (com Natalie Portman aos 12 anos) ou La Femme Nikita (de 1990, não confundir com a série de 1997). Assim, em Anna: O Perigo Tem Nome, que chega aos cinemas cá na terra das bananas no dia 29 de agosto, todo mundo acreditava que o diretor estaria jogando em casa, explorando territórios que ele mesmo já está cansado de rever.
Começa aí o grande problema do filme. O excesso de confiança do diretor o faz apostar em escolhas que alguém com menos experiência no gênero trabalharia com um pouco mais de esmero. Com isso, Anna acaba sendo uma imensa bagunça – por vezes surpreendente e deliciosa, mas na maior parte do tempo, apenas uma grande bagunça.
Anna: O Perigo Tem Nome
A começar, por exemplo, pelo jeito que ele decidiu contar a história: através de saltos temporais que ficam indo e voltando loucamente, como se fosse um 500 dias com ela da Viúva Negra; às vezes, simplesmente pelo prazer de estender alguma cena que parecia inútil a princípio, mas tinha sido apenas cortada no momento que ela ia dar algum andamento para a trama. Com isso ele aparentemente tenta criar a ilusão de estarmos brincando com uma boneca matryoshka. Vamos descobrindo seus segredos aos poucos; mas com uma boneca do tamanho do The Rock e com tantos saltos temporais que até Doc Brown perderia as contas de qual momento que se está na história.
E, na verdade, esse nem é o grande defeito do filme. As voltas e twists que a história dá podem até compensar por essas idas e vindas. Sasha Luss, infelizmente é um problema. O que sobra de beleza na modelo russa falta em gordura localizada e carisma para encarnar a protagonista. Em momento nenhum ela compromete nas cenas de ação. Manda bem nas lutas e tiroteios. Até dá a ideia de que o único inimigo que ela não ganharia é a anorexia. Mas falta à modelo causar no espectador aquela vontade de torcer loucamente pela personagem, mesmo executando ações altamente contestáveis. Sua chefe Olga, por exemplo, graças ao talento de uma irreconhecível Helen Mirren, consegue roubar toda cena que aparece. Acaba fazendo com que torçamos mais por ela do que pela protagonista.
E o que mais?
A trilha sonora também é desastrosa, a ponto de chamar a atenção. A música escolhida para certos momentos parece ser a que estava em primeiro lugar na playlist de recomendados da semana do Spotify. Não consegue dar o tom certo para as cenas de ação ou de perseguição em especial. Éric Serra parece ter comprado todos os sintetizadores dos anos 80/90 e aparentemente tentou justificar a compra nessa trilha que rivaliza com a composição dele para 007 Contra Goldeneye na ruindade.
Ainda assim, com todos os defeitos, a trama consegue se manter alinhada com todos seus plot-twists. Apesar de às vezes parecer estar correndo muito rápido. O mundo da moda projetado por Luc Besson é ridiculamente caricaturado, mas de um jeito que cai bem no contexto. O filme seria bem melhor se todo o restante dele fosse explorado da mesma forma. Esse pensamento, na verdade, vai contra a carreira do diretor até então, que sempre se propôs a fazer espionagens mais sérias e “pé-no-chão”. Parece que é isso o que ele tentou com Anna. Uma pena, pois se tivesse partido mais para o lado da galhofa e construído uma deliciosa farofada, provavelmente o filme seria bem melhor.
No quesito filmes com espiãs, Anna se encontra bem no meio da balança, muito superior ao enfadonho Operação Red Sparrow com Jennifer Lawrence, mas não chega aos pés do espetacular Atomic Blonde de Charlize Theron. — Texto de Paulo Velho com pitacos de Mauro Jr. e vice-versa.