Anos 90, trazendo o skate como salvação
Anos 90 é o primeiro filme dirigido por Jonah Hill. Nele, Stevie (Sunny Suljic) é um garoto de 13 anos, que lida com a falta de atenção da mãe (Katherine Waterston) e com a violência de seu irmão mais velho, Ian (Lucas Hedges). Ele se sente solitário perdido, até o dia em que descobre o skate e faz novos amigos.
Stevie é um menino solitário, que não se reconhece muito bem com ninguém. Sua mãe é relativamente jovem e não sabe direito como cuidar dele e do irmão. O pai não aparece no filme em momento algum. E Ian, o irmão mais velho, é violento e tem Stevie como principal alvo.
O skate
Stevie tem 13 anos e está prestes a entrar na adolescência, o que torna tudo ainda mais complicado. A situação muda quando ele descobre o skate e passa a tentar fazer algumas manobras. Não demora muito para que ele conheça outros meninos que andam de skate pela cidade: Ray (Na’kel Smith), Fuckshit (Olan Prenatt), Ruben (Gio Galicia) e Fourth Grade (Ryder McLaughlin).
Os meninos acabam acolhendo Stevie e, pela primeira vez, ele sente que encontrou pessoas como ele. Assim, o skate aparece como uma tábua de salvação para um menino de 13 anos, que se vê cada vez mais imerso em um mundo de violência e descaso dentro de casa.
O skate é, por si só, um esporte um tanto quanto violento. Vemos várias cenas dos meninos caindo, se machucando e até uma cena em que Stevie sofre um tombo sério. Mas os meninos que o rodeiam a partir do momento em que ele encontra o skate não são violentos. Eles são o exato oposto do que Ian é, dentro de casa.
Sensação de pertencimento
Mais do que uma pausa na violência constante que Stevie vê em casa, o skate também é a maneira que o menino encontra para se sentir parte de alguma coisa. Todo mundo procura pertencer a alguma coisa, e essa sensação é muito maior quando você é adolescente.
Nesse aspecto, Anos 90 é um filme universal. Tudo bem que ele fala especificamente sobre um menino, nos Estados Unidos, aprendendo a andar de skate, mas poderia ser qualquer outra coisa, porque o filme na realidade quer falar sobre a sensação de pertencer a alguma coisa maior do que si próprio.
No caso de Stevie, junto com o skate, ele também recebe as amizades e as novas experiências comuns na adolescência. Em um certo aspecto, Anos 90 é um filme de formação, onde acompanhamos Stevie se tornar adulto tentando romper o ciclo de violência existente dentro da sua família.
Os Anos 90
Como o próprio nome diz, a história se passa nos anos 90, e isso justifica as diversas escolhas presentes no filme. O próprio uso do skate faz muito sentido, já que a modalidade foi bem comum durante esta década. Além disso, os figurinos e a ambientação do filme são claramente da época. Qualquer pessoa que tenha vivido nos anos 90 vai reconhecer muitas coisas que aparecem em cena. Claro que o filme faz muito mais sentido para quem viveu os anos 90 nos Estados Unidos, mas isso não impede que encontre reconhecimento por aqui.
O filme tem uma aura de nostalgia, como as nossas memórias de infância sempre tem e essa é a impressão que fica para o público. Hill escolheu falar sobre um período que ele próprio viveu, uma vez que ele nasceu em 1983, portanto teria a idade de seu personagem mais ou menos em 95.
Essa nostalgia chega ao espectador, mesmo que você não tenha sido um adolescente nos anos 90, você foi (ou é) um adolescente em algum momento da sua vida. E, embora as modas, as músicas e as roupas mudem, ser adolescente é um sentimento universal que está presente no filme. Anos 90 poderia falar de adolescentes dos anos 70, 80, ou 2000, o importante é que ele fala sobre adolescentes.
Aspectos técnicos de Anos 90
Existe muito cuidado na produção do filme. É muito fácil reconhecer as influências da década no longa, seja na moda, seja nas referências que aparecem em tela. O próprio skate grita anos 90. O longa é filmado de uma maneira que nos remete às gravações da época, mais ou menos como gravações caseiras. Pode parecer que isso atrapalha o filme, mas na verdade, essa é uma escolha interessante, já que coloca o espectador tão dentro do período quanto os personagens.
Em muitos aspectos, Anos 90 lembra Kids, um filme de 1995 que retrata adolescentes vivendo mais ou menos na mesma época. Kids trata de temas bem mais pesados, mas os dois filmes tem assuntos em comum: amizade, adolescência e primeiras experiências. Além do mais, a estética dos dois filmes, assim como o figurino e a fotografia, são bem parecidos.
O elenco de Anos 90
Anos 90 também está repleto de boas atuações, começando por Katherine Waterston, que aparece pouco, mas tem cenas extremamente convincentes, passando por Lucas Hedges como o irmão violento de Stevie e chegando nos meninos que estão ótimos em seus papeis e tem bastante carisma. É muito fácil entender porque Stevie quer ser amigo deles. Mas claro que quem carrega o filme nas costas é Sunny Suljic. O público passa o filme todo acompanhado a história do seu ponto de vista, por isso é impossível não gostar do protagonista. O fato de Suljic ser um ótimo ator só ajuda.
Anos 90 é um filme nostálgico, que vai levar a audiência diretamente à década de 90, mas também é um filme universal. Afinal, funciona com qualquer pessoa que consegue se lembrar como é ser adolescente, e esse é o seu grande trunfo. Anos 90 entra em cartaz no dia 30 de maio.