A Netflix mira no público dos clássicos do horror setentista. Com uma obra bastante autêntica e ousada para os parâmetros de hoje. Entregando um filme visualmente perturbador e autoral.

A equipe

O semi estreante Gareth Evans chamou a atenção de Hollywood com o tal do Operação Invasão. O diretor sai da ação com artes marciais, mas continua operando no campo do trash. Aqui, o gênero assumido desavergonhadamente, remetendo imediatamente a produções como O Sacrifício (me refiro ao filme de 1973, mas o de Nicolas Cage também serve).

Ao invés de Christopher Lee ou Vincent Price, temos a versão contemporânea desses tão bizarros atores.
Dan Stevens, se não é um grande ator, pelo menos compensa pela estranheza que carrega em seus trejeitos e olhar.

O que esperar de Apóstolo

A trama se passa em 1905 e acompanha Thomas Richardson, um homem que viaja para uma ilha remota com o objetivo de resgatar sua irmã, que foi sequestrada por uma seita religiosa. Ao chegar na ilha, ele conhece o líder do culto e seus seguidores, que acreditam que o lugar é abençoado por uma deusa pagã.

Com uma condução narrativa lenta e arrastada (a maneira das produções em que se inspirou), o filme cativa pelo cenário decadente, pelos personagens ordinários que caminham por aquela terra, e os mitos locais que logo apontam para um realismo fantástico, que chega de maneira natural, ainda que bastante estranha, mas amarrada na proposta.

Dos acertos do longa, temos as tomadas em larga escala; o bom uso do contraste entre luz e sombra; os resquícios de câmera; e um mistério que se sustenta até o terceiro ato, quando então engrena com um andamento mais satisfatório.

Apóstolo mistura terror psicológico com cenas gráficas de horror, promovendo diversas sensações e levantando questões bastante pertinentes sobre crença e fanatismo religioso. Ainda mais para os dias obscuros que virão. Não reinventa a roda, poderia ter uma hora a menos, mas satisfaz quem procura por clássicos nos dias de hoje.