As Crianças Do Crepúsculo, Editora Panini

de Gilbert Hernandez e Darwyn Cooke

Lançado originalmente em 2015, essa HQ claramente sinaliza o fim da Vertigo. Sua história não só é fraquíssima, como falha em todos os aspectos em que se propõe, o que já torna a ideia de sua publicação algo inacreditável. Talvez os nomes envolvidos tenham convencido os editores, pois nem a premissa justifica o investimento.

Gilbert Hernandez se popularizou escrevendo ”Love and Rockets” e Darwyn Cooke… bem, este é um mestre. Apesar de ser uma co-criação da dupla, Cooke não parece o mesmo, seja por estar perdendo a luta contra o câncer (ele viria a falecer em 2016) ou por não acreditar no que estava desenhando, com um traço pouco inspirado, bem distante do que vimos em ”DC: A Nova Fronteira”, o novo ”Spirit” e tantos outros trabalhos memoráveis.

As Crianças Do Crepúsculo

Já o roteiro pobre, caminha por uma toada de estranheza na pequena comunidade, que veio a se popularizar depois em ”Stranger Things” (e ”Paper Girls” e uma infinidade de outros enredos do tipo), com esferas brancas que aparecem num vilarejo mexicano, ora cega uns, ora desaparece com outros, ora queima alguns, ora retorna com os desaparecidos, e tudo isso mesclado com dramas daquele povo.

As Crianças do Crepúsculo

Colocando dessa maneira, realmente não parece o fim do mundo. Mas nada no quadrinho dá liga. A narrativa proposta no roteiro é uma das mais horrendas já apresentadas na nona-arte. Os quadros nunca se conectam, a ambientação se alterna o tempo todo entre um enquadramento e outro, os ângulos são injustificáveis, com personagens aparecendo e desaparecendo (não só no contexto da trama) sem explicação, sem lógica, como se uma criança tivesse planejado o escopo das páginas (e não vamos subestimar os pequenos, pois meu sobrinho de 5 anos andou esboçando HQs com lógica na arte sequencial infinitamente superiores do que é apresentado por aqui).

Tudo fraco

Além de uma condução completamente esquizofrênica e ilustrações apáticas (nem Dave Stewart, outro mestre, salva a obra com suas cores, que também parecem pouco inspiradas por aqui). A história também não faz sentido e isso não se deve pelos mistérios propostos. LOST fez escola e uma infinidade de outras publicações e produções seguiram o gênero que, independentemente de suas conclusões serem boas ou ruins, ao menos tinham ganchos poderosos.

As Crianças do Crepúsculo
Outra capa para As Crianças do Crepúsculo

Nada em As Crianças do Crepúsculo realmente cativa, realmente levanta um suspense ou sequer interesse do leitor. As crianças do título só aparecem no começo, depois são esquecidas; o arco de um velho é jogado no começo e retomado aleatoriamente no final; um cientista surge do nada e de repente a garota com poderes já está amando ele, sem qualquer relacionamento prévio.

Tudo é tão aleatório, que parece que Hernandez só queria criar o mistério pelo mistério, sem relacionar uma coisa a outra. Subestimou a inteligência de seu público – que aliás, convenhamos, já é a de velhos nerds; moleque algum vai querer (ou poder) ler essa HQ. Ela inclusive é direcionada a maiores de 18, já que uma de suas personagens é ninfomaníaca (mas nenhum nude de fato aparece, pois nem na pornografia se tem a ousadia).

Ouvi dizer que essa lástima ainda tem uma continuação, mas que não chegou no Brasil. Espero que não seja verdade. No mais, é muito triste saber que Darwyn Cooke tenha feito essa HQ como uma das últimas de sua carreira. Um dos piores quadrinhos da década, não vale seu tempo, nem se for por doação.

As Crianças do Crepúsculo

Nome Original: As Crianças Do Crepúsculo
Autor: Gilbert Hernandez e Darwyn Cooke
Editora: Editora Panini
Gênero: Quadrinho
Ano: 2019
Número de Páginas: 144

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