Ave, César e a sujeira dos bastidores Hollywoodianos

Os irmãos Coen realizam aqui um filme ingênuo que reverencia a Velha Hollywood com humor leve e pouca pretensão, que coloca o sempre excelente Josh Brolin no papel de um produtor de cinema que precisa resgatar um ator famoso, sequestrado no meio das filmagens de uma superprodução de Hollywood nos anos 1950. Enquanto resolve o problema, dá conta de vários outros rolos de bastidores em apenas um dia: um diretor insatisfeito com a escalação de um astro, a gravidez de uma atriz solteira e outros escândalos. Ele se chama Eddie Mannix – nome de um personagem da indústria de Hollywood que realmente existiu e morreu em 1963, depois de limpar a barra de várias estrelas de cinema.

Episódico e assumidamente caricato, Ave, César! usa figuras certeiras da atual cena cinematográfica para caracterizar estereótipos hollywoodianos de uma forma bem harmônica. Dessa maneira, temos George Clooney protagonizando um soldado em um épico bíblico sobre o Calvário, numa analogia muito clara entre o Império Romano, incapaz de enxergar na figura de Jesus Cristo uma ameaça ao seu status quo, e os Estados Unidos dos anos 1950. O ator é sequestrado por escritores comunistas, comandados por um impagável Channing Tatum (a cena dele como marujo sapateando e cantando já vale a sessão).

Por outro lado, Tilda Swinton interpreta duas irmãs gêmeas, que representam os dois lados da imprensa: a que busca os fatos visando derrubar carreiras, e a sensacionalista. Por fim, Alden Ehrenreich deve ter ganhado fama pejorativa nos sets de Han Solo pela sua “atuação precária” por aqui, que exige do ator um sucesso hollywoodiano limitadíssimo, que Alden consegue explicitar como poucos, cheio de carisma e dinamismo.

Mesmo com todas as subtramas se desenrolando e se resolvendo nessa masturbação sobre a Velha Hollywood e seus tipos, Ave, César trata mesmo da figura cristã, de fiel e bom esposo idealizadas pelo icônico Eddie Mannix, que tem de tomar a difícil decisão do homem comum na escolha de uma nova carreira profissional. E seu desfecho entra em comunhão com as demais soluções da história, em mais um filme improvável dos Coen.

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