Blacksad 1: Algum Lugar em Meio às Sombras
Usando de fórmulas clássicas dos dramas criminais, a dupla de autores não só transforma clichês em ferramentas poderosas de narrativa, como também narra uma verdadeira história de detetive em Blacksad.
Juan Diáz Canales não busca reinventar a roda com seu roteiro redondo e enxuto, com começo, meio e fim bem resolvidos em mais uma típica trama do gênero. Sendo assim, o corpo de uma estrela de cinema é encontrado. Então o detetive particular conhecido como Blacksad sai no rastro de potenciais suspeitos. Com o detalhe de ela ter sido sua ex (namorada?), o felino carrega um peso. Um passado mal resolvido romanticamente falando, e também da brutalidade do crime.
Indo de figura suspeita à outra – enquanto a trama do vilão corre em paralelo –, chegamos num elemento óbvio nesse tipo de enredo, que já vimos dezenas de vezes antes. Com direito a cenas no cemitério, no barbeiro, no boteco e alguns gângsteres envolvidos. Mas aqui volta a funcionar pela simplicidade das ocorrências e pelas convenções que o gênero permite. Sustentada por diálogos cínicos e fortes, a graphic novel é embalada por uma arte formidável.
Blacksad
É então que entra em cena o traço singular e primoroso de Juanjo Guarnido, talvez o maior mérito do quadrinho. Em vez de antropomorfizar animais, ele os mantém humanos, mas representados como bichos. Por isso mesmo eles não tem caudas, ao mesmo tempo mantendo uma fisionomia completamente humana, sem perder as características de sua raça… anfíbia, mamífera ou qualquer outra.
Estabelecendo uma atmosfera completamente noir – e bem-vinda para esse tipo de enredo, diga-se de passagem –, com cores aquareladas ora pastéis ora frias e uma finalização no pincel, que deixa tudo mais fluído, o artista compõe em cada enquadramento um painel digno de constar numa parede ao lado de grandes pinturas. Suas escolhas de ângulos, composições de personagens, figurino, cenário e sequências de ação, enchem os olhos, à medida que mantém a atenção de qualquer leitor presa a uma página por longos minutos, senão pelo roteiro ou diálogos precisos, mas certamente pela ilustração suntuosa.
Dessa maneira, mesmo com uma história que você já assistiu ou leu por aí, Blacksad se destaca não só pela representação bestial de suas figuras ordinárias, mas por um trabalho artístico inigualável. Um verdadeiro detetive.
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