Branco no Branco
Filme representante do Chile no Oscar 2022
O fotógrafo Pedro (Alfredo Castro) é chamado para trabalhar no casamento do Sr. Porter – que nunca aparece em cena -, um rico fazendeiro e Sara (Esther Vega Pérez Torres), uma criança, por quem Pedro fica obcecado.
Quando sua obsessão é descoberta, Pedro é punido e se vê cúmplice do genocídio do povo nativo, os Selk’nam.
O poder do Sr. Porter
O protagonista de Branco no Branco é Pedro, o fotógrafo contratado, mas o personagem que permeia boa parte do longa é o Sr. Porter, que curiosamente nunca aparece em cena.
O Sr. Porter não só pagou pelo trabalho e pelo tempo de Pedro, como também está pagando pelo casamento e é dono do lugar onde eles estão. Todos ali precisam seguir à risca todas as regras que ele impõe e é isso que acontece, até que Pedro aparece.
Sara, a noiva do Sr. Porter, é, literalmente, uma criança que se vê obrigada a se vestir como o seu noivo deseja e posar para as fotografias de Pedro. Ela vira então, uma obsessão para o fotógrafo, que claro, desafia, ainda que não diretamente, o Sr. Porter.
Os povos nativos
Branco no Branco é um filme sutil, onde nada é dito com todas as letras, mas que usa o poder – especificamente o do Sr. Porter – como mote para o que se vê em tela.
O filme fala sobre os Selk’nam, um povo nativo do Chile, que como tudo que está na região, precisa se dobrar ao Sr. Porter, e que ainda assim, é vítima de perseguição. Depois que desobedece às regras do Sr. Porter, Pedro se vê mais próximo dos Selk’nam, embora não se manifeste em favor deles.
Mas Branco no Branco não dá tanto destaque aos Selk’nam quanto deveria, uma vez que esse é um dos assuntos principais do filme, e passa boa parte do seu tempo focado em Pedro e nos seus erros.
Aspectos técnicos de Branco no Branco
O filme tem uma produção cuidadosa e se preocupa com detalhes. O branco, presente no título, também aparece em muitas cenas e, na maioria dos casos, em contraste com fundos e cenários escuros, como por exemplo, quando acompanhamos a jovem Sara, vestida de branco da cabeça aos pés, posando para fotos em uma casa toda de madeira, extremamente opressiva.
A opressão é uma questão muito presente no longa, não só no roteiro, que se baseia quase que unicamente na presença anônima do Sr. Porter, mas também no local onde o filme se passa, que deixa o telespectador em uma situação tão incômoda quanto a dos empregados da casa, ou ainda, de Sara. As cenas de Sara com Pedro, que insinuam uma obsessão erótica do fotógrafo pela garota, são terríveis e desconcertantes.
No entanto, o filme não é tão potente quando fala do genocídio e da perseguição dos Selk’nam, que mal aparecem e que sempre são vistos do ponto de vista de Pedro. Essa parece ser uma ideia presente em toda a fotografia, pois em vários momentos assistimos ao filme através das lentes da câmera dele, o que é interessante, mas não aproxima o telespectador totalmente do que está sendo mostrado.
Alfredo Castro se sai muito bem no papel de Pedro, ainda que as ações dele desagradem a audiência em boa parte do filme, já Esther Vega Pérez Torres, em um papel bem adulto para a sua idade, nos passa tudo que sua personagem está sentindo: medo, humilhação e dúvida.
Branco no Branco se propõe a falar sobre o genocídio de um povo nativo do Chile, mas deixa um pouco a desejar já que se perde em outras tramas no caminho. O longa está disponível no streaming da FILMICCA.