Brincando Com Fogo – Criança é fogo
Uma das regras implícitas de Hollywood é que todo brutamontes deve, em algum momento, estrelar um filme infantil. Talvez o grande responsável por essa vertente cinematográfica seja Arnold Schwarzenegger com o nostálgico Um Tira no Jardim de Infância. Mais recentemente, Vin Diesel (Operação Babá) e The Rock (O Fada do Dente) seguiram a tendência. Agora é a vez de John Cena entrar nessa onda com Brincando Com Fogo, que entra em cartaz no Brasil dia 12 de dezembro.
O longa infantil parece ter sido feito para girar em torno de Cena, abusando do ator, que parece estar há algum tempo lutando por seu espaço no atual time de brucutus de Hollywood. Além de ser outro exemplar de um gênero que invadiu o cinema e os games nos últimos anos: solteiros fortes sendo obrigados a tomar conta de crianças.
Brincando Com Fogo – Fale, não mostre
O roteiro é absolutamente temeroso. Seguindo o exato oposto do que é ensinado nas aulas mais básicas de roteiro cinematográfico, o filme é quase ditado para você. Se a característica cômica de um personagem for proferir citações como se fosse o começo de um artigo de Wikipedia, ele vai anunciar logo em sua primeira cena que adora isso, logo para não dar chance da plateia deduzir o que vem por aí.
A história também é babaca que só. Um bombeiro salva três crianças de um incêndio e elas aprontam altas confusões capazes de derreter o coraçãozinho do mais sisudo marombado… enfim, dá pra sacar o filme todo, do começo ao fim, só de ver o pôster.
A partir daí, o filme tem todos os elementos de um filme infantil do gênero. Até as piadas são incrivelmente previsíveis – apesar de algumas conseguirem arrancar risadas até de um público mais velho. O destaque humorístico fica com Keegan-Michael Key, que me surpreende toda vez, mas pode ser que eu sempre esqueça que o cara têm um timing cômico excelente. O humor físico funciona bem melhor do que os diálogos pobres e isso é uma coisa que o filme parece ter descoberto lá pela sua metade, quando passa a abusar do estilo.
Smokejumpers contra as chamas
Na verdade, os personagens principais não são exatamente bombeiros… São smokejumpers, uma profissão que não possui equivalente no Brasil. Os únicos países que empregam smokejumpers são Estados Unidos, Canadá e Rússia. Eles são uma espécie de bombeiros que chegam de pára-quedas, para pegar o fogo desprevenido (ou para evitar que o Leonardo Di Caprio fuja depois de iniciar uma queimada na floresta) e fazem um primeiro trabalho de controle das chamas.
Alô criançada!
Apesar de todos os defeitos, é bem possível que as crianças gostem do filme. Não me surpreenderia, por exemplo, que ele se tornasse um clássico da Sessão da Tarde daqui 20 anos, isso se as crianças ainda tivessem o conceito de sessão da tarde como o único entretenimento possível depois da escola (os serviços de streaming arruinaram com os filmes vespertinos).
O filme deve agradar as crianças e não é tedioso o suficiente para que os pais se arrependam de terem tido filhos no meio de um cinema (provavelmente eles terão melhores oportunidades para esse tipo de arrependimento). Assim, para um começo de férias, Brincando Com Fogo é uma boa pedida. Mesmo parecendo um papel deslocado no atual momento da carreira de John Cena, já que esse é o estilo de filme perfeito para um ator em decadência, é bom ver que ele não faz questão de se levar a sério e que topa fazer papel de besta.
No final, por mais previsível e tonto que seja, ainda não parece um filme tão ruim para levar a criançada. Quem sabe elas possam se inspirar na história, tacar fogo em uma caixa de sapatos cheia de playmobils e brincar de serem bombeiros durante as férias. Ainda parece mais saudável que assistir Lucas Neto.