Caminhos da Memória – “Que seja eterno enquanto dure”
Hugh Jackman está de volta! Depois de aposentar a sua trajetória como Wolverine em Logan (2017), não o vimos mais em nenhum grande filme, desde então. Não é de hoje que o galã se aventurou em várias atuações diferentes do mundo dos X-Men, e é ótimo vê-lo em filmes musicais como O Rei do Show (2017), Os Miseráveis (2012), em filmes mais artísticos como Peter Pan (2015), ou em dramas complexos como O Grande Truque (2006) e Os Suspeitos (2013). Não é diferente aqui em Caminhos da Memória, e Jackman segura nas costas o filme com uma ótima atuação.
A história é bem simples: em um futuro submerso pela água, com efeitos de uma grande catástrofe ambiental que deixa o dia muito quente, forçando os habitantes de Miami a coexistirem à noite, existe um submundo de drogas estranhas, traficantes, policiais corruptos, em um cotidiano pós-catástrofe já estabelecido, com suas leis e rotinas.
Caminhos da Memória
Dois ex-militares de uma recente guerra, Nick Bannister (Hugh Jackman) e Emilly Watts (Thandiwe Newton) trabalham nos fundos de um local desativado, onde operam uma máquina que consegue reviver memórias
do passado. Essa máquina foi usada para investigações policiais de crimes anteriormente, mas agora serve como ganha pão de ambos personagens.
Clientes excêntricos vão ao local para reviver memórias, das mais simples até as mais bizarras. Até que um dia, a bela Mae (Rebecca Ferguson – atuou com Hugh Jackman em O Rei do Show), vai ao local para lembrar onde havia deixado uma chave importante. Neste meio tempo, Nick e Mae trocam olhares obscenos, e daí nasce a força motriz da trama: o clássico amor à primeira vista hollywoodiano, que nem a morte, nem o esquecimento, irão separar.
Influenciado por clássicos da ficção científica, mas preso ao desgastado drama do romance impossível
Está bem claro que a ideia da máquina de memórias, o visual futurista noturno, e as camadas existenciais/filosóficas que são apresentadas no filme fazem uma forte referência ao clássico escritor de sci-fi Philip K. Dick (ele escreveu os livros que inspiraram os filmes Minority Report (2002), O Vingador do Futuro (1990) e Blade Runner (1981)), mas a grande diferença é o foco exagerado do enredo no romance impossível.
Aqui que surge a negativa do filme: fui ao cinema esperando um longa complexo de ficção científica, e sai de lá com um filme de drama/romance não linear com algumas pitadas de futurismo apocalíptico e cenas de ação. Parece um Ghost – Do Outro Lado da Vida (1990), mas sem fantasmas. Tanto que no filme, a referência da história da mitologia grega de Orfeu e Eurídice, que simboliza o amor eterno, que supera os limites da morte, está presente nas falas de Nick, formatando todo o enredo do filme e esgotando-o e diluindo todas as possibilidades mais criativas. Obviamente que o foco é o grande público, e o filme é coerente com isso.
No geral, vale a experiência, mas se você for uma pessoa fissurada em ficção científica, não vá com tanta sede ao pote. Esta mega produção foi dirigida pela estreante Lisa Joy (roteirista, produtora e diretora de alguns capítulos da série Westworld). Caminhos da Memória estreia hoje nos cinemas brasileiros.