Chacrinha – Eu Vim Para Confundir e Não Para Explicar
Documentário explora a carreira do apresentador
O documentário Chacrinha – Eu Vim Para Confundir e Não Para Explicar resgata a trajetória de Chacrinha, um dos maiores apresentadores da televisão brasileira, com entrevistas de colegas de trabalho, amigos e familiares.
A importância de Chacrinha é indiscutível, por isso, o documentário não parte da ideia de que precisa explicar quem o apresentador foi ou o fato de que ele foi – e ainda é – extremamente relevante para a televisão brasileira. O filme começa falando do começo da carreira de Chacrinha – nascido Abelardo Barbosa – no rádio e de como pouco a pouco ele foi ganhando fama.
Chacrinha – Eu Vim para Confundir e não para Explicar é bem explicativo e cobre toda sua carreira na televisão com muitos detalhes. Embora o filme passe muito rapidamente pela sua época no rádio, logo o telespectador está completamente imerso nos primeiros programas de Chacrinha.
Chacrinha – Eu Vim Para Confundir e Não Para Explicar
O longa vai, através de imagens de arquivos e de algumas entrevistas, mostrando a loucura que acontecia no palco durante os programas comandados por ele, chegando ao ponto de exemplificar os quadros que iam ao ar, como os famosos concursos de calouros e eventos que prometiam eleger a criança mais bonita do Brasil (que a apresentadora Angélica, na época com quatro anos, ganhou) e o negro mais bonito do Brasil.
Embora o documentário de fato, apresente bastante conteúdo, tudo é passado de forma leve e divertida, mais ou menos como os programas do Chacrinha eram e consegue passar seu conteúdo, ao mesmo tempo que diverte a audiência.
A vida pessoal
Embora a produção passe mais tempo falando da carreira de Chacrinha, ela também se preocupa em falar sobre a vida pessoal do apresentador.
Os membros da família de Chacrinha, como sua esposa, Florinda Barbosa e seus filhos, José Amélio de Medeiros e Jorge Abelardo de Medeiros dão entrevistas, assim como Wanderléa, que foi noiva de Zé Renato de Medeiros, o terceiro filho de Chacrinha. Além deles, o filme entrevista pessoas que trabalharam com ele, mas que também eram muito amigas do apresentador, como Elke Maravilha.
É interessante que o filme relacione a vida pessoal dele com sua carreira. Então, quando Zé Renato sofre um acidente na piscina e fica paraplégico, Chacrinha perde um pouco da vontade de fazer seu programa e, mais tarde, quando ele vê a audiência cair, entra em depressão. Eu Vim para Confundir… consegue misturar bem os dois aspectos da vida do apresentador, sem perder conteúdo.
O legado de Chacrinha
Outra questão que ganha bastante destaque é o legado do apresentador. O documentário tem entrevistas de vários outros apresentadores, que claramente foram influenciados por Chacrinha, como Pedro Bial, Luciano Huck, Gugu Liberato e João Kléber.
Para além disso, mostra vários aspectos dos programas, que foram importantes ou que influenciaram boa parte do conteúdo que veio depois. Ele foi, por exemplo, responsável pela criação do que hoje é conhecido como TV popular, uma vez que seu programa apelava para todo mundo, mesmo que algumas pessoas tivessem vergonha de admitir. O apresentador também quebrou a quarta parede, já que conversava com a câmera, o que naquela época, era impensável.
O que Chacrinha fez foi, de sua própria maneira, mudar os programas de auditório e obrigar a televisão a sair da inércia. Também é importante ressaltar que ele fez tudo isso no meio de uma ditadura militar, e que o programa prosseguiu do mesmo jeito mesmo depois de 1968, quando o AI-5 foi decretado. O documentário fala rapidamente sobre a vez que o programa foi censurado, em função das roupas curtas das Chacretes. A censura, no entanto, não surtiu qualquer efeito no apresentador, que não mudou nada do figurino das moças.
Todos os apresentadores que dão entrevista concordam que um programa como os que Chacrinha fazia, jamais poderia ir ao ar novamente, uma vez que tinha piadas politicamente incorretas e situações que, hoje em dia, seriam muito criticadas. Pedro Bial chega à conclusão que Chacrinha e seus programas foram manifestações de sua época e que, possivelmente, não seria a mesma coisa atualmente e é exatamente disso que o documentário quer falar.
Aspectos técnicos de Eu Vim para Confundir…
O que temos aqui é um documentário bem clássico. O telespectador acompanha fotos e imagens de arquivos, enquanto pessoas que fizeram parte daquilo ou foram influenciadas por aquilo dão entrevistas. O longa tem um elenco de entrevistados bem estelar como Pedro Bial, Angélica, Luciano Huck, Gugu Liberato, Elke Maravilha, Boni, a família de Chacrinha, entre outros. Outros famosos aparecem nas filmagens antigas, como Os Titãs, Leo Jaime e Simone.
O documentário tem, claramente, muita informação e coloca o público dentro dos programas que ele retrata. Fala da carreira e da vida de Chacrinha, assim como dá detalhes sobre os programas, os quadros e até a parte técnica. Claro que nem tudo pode ser abordado, mas o filme é bem informativo, mesmo para quem não acompanhou os programas na época em que eles eram transmitidos.
Mesmo com tanta informação, o longa não se torna chato, nem cansativo. A montagem é rápida e divertida, as entrevistas são instigantes, os programas são exuberantes e a personalidade de Chacrinha é tão interessante, que o telespectador se vê preso nesse mundo.
Chacrinha morreu há mais de trinta anos, mas sua figura continua emblemática e seus programas ainda são referência. Eu Vim para Confundir e não para Explicar de fato não tenta explicar o fenômeno e nem a genialidade de Abelardo Barbosa, mas mostra que dificilmente ele será esquecido. O filme chega aos cinemas no dia 28 de janeiro.