Cicatrizes, a dor e o luto de uma mãe
Em Cicatrizes, Ana (Snežana Bogdanović) é uma costureira, que, supostamente, pariu um filho natimorto há 18 anos. Como a mulher nunca viu o túmulo da criança, ela acredita que o filho, na verdade, foi vendido para um esquema de adoção ilegal.
Quando ela escuta o relato de outras mulheres que acreditam terem passado pela mesma coisa, Ana resolve investigar ainda mais e tentar descobrir o que aconteceu com seu filho. Cicatrizes é inspirado em histórias reais.
Cicatrizes e a perda
O filme que se centra na perda de Ana, independentemente de qual seja essa perda de fato. Embora Ana tenha suas desconfianças do paradeiro do filho e o espectador assista ao filme do seu ponto de vista, ninguém sabe com certeza o que aconteceu com o filho da protagonista. O longa se coloca nessa posição de dúvida, que permite que o público faça suas especulações, uma vez que ele nos dá as pistas, mas também mostra o luto e a solidão dessa mulher.
Ana também é uma mulher que parece ser incompreendida, tanto pela médica (Vesna Trivalić), que acredita que Ana está ficando louca, mas que talvez esteja envolvida no sequestro ou morte da criança, quanto pelo seu marido (Radoslav Milenković) e sua filha (Jovana Stojiljković), que não conseguem compreender porque a mãe ainda sofre esse luto.
É assim que Cicatrizes se coloca como um filme que reflete um possível crime, mas que também quer falar sobre a solidão, o luto e o desespero dessa mãe.
O filho
Outro ponto importante é justamente o filho de Ana. Embora a gente não saiba muita coisa sobre ele, é ele que cria todos os conflitos presentes na trama. Primeiramente, é importante ressaltar que embora a sinopse possa parecer a de um filme de suspense sobre crianças desaparecidas, esse não é o caso. Cicatrizes não é um filme de investigação e na realidade, pouco do seu tempo é gasto com isso. O longa se preocupa muito mais em denunciar uma situação e mostrar em como essa situação altera a vida de todos.
O filme faz uma mudança brusca da metade para o fim, quando a filha de Ana também resolve procurar o irmão, mesmo sem concordar com a busca da mãe. Isso parece um pouco sem sentido, uma vez que ela mesma aconselha a mãe a esquecer o filho.
No entanto, é interessante notar a importância que o personagem do filho tem, mesmo que não tenhamos a certeza completa sobre o seu destino, uma vez que ele indiretamente empurra a trama para frente.
Aspectos técnicos
Cicatrizes é inspirado em histórias reais, embora a gente não tenha muitas outras informações sobre isso. Por outro lado, a venda de crianças de maneira ilegal é uma questão social importante na Sérvia e que ainda acontece. Por isso, o filme pode ser visto quase como uma denúncia.
O filme também é escuro, seja na sua fotografia, nos seus figurinos ou nos cenários, tudo certamente para transmitir os sentimentos de Ana, que está há 18 anos de luto. Muitas das cenas também mostram a mulher atrás de grades ou presa em lugares fechados, o que passa uma sensação de opressão, que aproxima o espectador do que a protagonista sente o tempo todo.
Cicatrizes tem boas atuações. Jovana Stojiljković tem menos tempo de tela, mas sua personagem funciona. Entretanto, é Snežana Bogdanović que carrega o filme nas costas e passa para a plateia toda aquela tristeza da sua personagem.
Cicatrizes é um filme que deseja fazer uma denúncia social, mas que funciona pois mostra a dor de uma mãe em frente a um acontecimento tão antinatural, seja a morte, seja o sequestro de um filho. O filme entra em cartaz hoje, dia 13 de fevereiro.