Creepshow pode ser considerada uma trilogia?
Aqui no Brasil, o filme Creepshow foi intitulado Arrepio do Medo. Este primeiro longa foi lançado em 1982. Contou com a direção de George A. Romero e roteiro do querido Stephen King. Romero foi um consagrado diretor de filmes de zumbi como A Noite dos Mortos Vivos e Despertar dos Mortos. Stephen King é um escritor que dispensa apresentações.
O filme começa numa noite de Halloween, óbvio. Numa casa, um homem discute com seu filho por conta de uma HQ de terror intitulada “Creepshow”. O pai alega que aquilo é um lixo para crianças. Então ele a joga numa lixeira. Ali, na lata, as páginas da revista são mexidas pelo vento, revelando as seguintes histórias:
Dia dos Pais
Nathan Grantham (Jon Lormer) é um velho demente que, após 7 anos, volta da sepultura para comer o bolo de Dia dos Pais e vingar-se de Bedelia (Viveca Lindfors), a filha que o matou. Ela não suportava seu jeito bruto. Além disso, Nathan matou Peter, o grande amor de Bedelia. Esse conto bizarro tem a participação de Ed Harris, na época com 32 aninhos, mas que, assim como os outros personagens, não dura muito em cena.
A Morte Solitária de Jordy Verrill
Jordy Verrill é interpretado pelo próprio Stephen King. Ele é um pequeno agricultor que presencia um meteorito cair no seu terreno. Sua ideia é então vender o aerólito por 200 dólares na faculdade. Mas ao tocar no meteorito, Jordy contrai algo que gradativamente o transforma numa planta. E não só ele. Toda a sua casa e seu terreno vão rapidamente criando uma folhagem bem verde. O conto é divertido pois Stephen King está engraçado e bem diferente do que costumamos ver. De vez em quando ele faz umas pontas nos filmes inspirados em seus livros, mas nesse caso, ele é a estrela.
Indo com a Maré
Richard Vickers (Leslie Nielsen) é um homem louco e vingativo. Ele enterra sua esposa (Gaylen Ross) e seu amante (Ted Danson) na praia. Eles ficam enterrados com a cabeça para fora para que sejam afogados pela maré. Mas precisava ter mais terror do que um “mero” assassinato frio, cruel e molhado. Então, os amantes voltam como mortos-vivos afogados dispostos a se vingar na mesma moeda. Foi também uma surpresa ver Leslie Nielsen, o veterano comediante, fazendo o papel de um homem tão malvado. E Ted Danson está lindão, como sempre, até hoje. Vocês podem vê-lo atualmente em The Good Place.
A Caixa
No 4º conto, Mike (Don Keefer), o segurança de uma faculdade, liga para o professor Dexter Stanley (Fritz Weaver) dizendo que achou debaixo da escada uma caixa de 1834. Dexter vai ao seu encontro e, ao abrirem a caixa, surge uma aterradora criatura que mata Mike. Apavorado, Dexter procura auxílio no amigo Charlie Gereson (Robert Harper), que não acredita no que ele diz e também é morto ao ir para o local. Com medo de ser acusado por estas mortes, Dexter conta o ocorrido a Henry Northrup (Hal Holbrook), outro professor, que tem a ideia de utilizar a criatura para fazer algo que sempre teve vontade mas lhe faltou coragem: matar Wilma (Adrienne Barbeau), sua esposa, que sempre o humilhou.
Vingança barata
Na última história, Upson Pratt (E.G. Marshall) é um intratável milionário que tem mania de limpeza. O terror nos é apresentado quando o homem grosso e insolente é atacado por uma infinidade de baratas. Um verdadeiro horror nojento. Nem merece uma imagem aqui para vocês.
Ao fim do filme, dois lixeiros acham a revista de quadrinhos de terror no lixo. Dentro da casa, num final violento que provavelmente não seria aprovado no dias de hoje, o pai sente várias pontadas no corpo pois seu filho Billy está utilizando um boneco vudu como vingança por ter jogado sua HQ na lixeira. Incrivelmente, Billy é interpretado pelo filho de Stephen King, Joe Hill, autor de O Pacto.
Creepshow 2: Show de Horrores
Já em 1987, foi lançado Creepshow 2, com a direção de Michael Gornick. Romero e King ficaram encarregados das histórias e do roteiro. Inclusive a participação de Stephen King como ator é muitíssimo menor neste longa. Seus contos são:
Velho Chefe Cabeça de Madeira
No primeiro conto, um casal de idosos administra uma loja de beira de estrada. Um velho índio de madeira enfeita a frente da loja e é muito bem tratado. Um ancião nativo americano de uma tribo local lhes dá umas joias como garantia de que a dívida da tribo será paga. Então, o casal acaba sofrendo um assalto feito pelo sobrinho do índio e dois amigos. Obviamente, as joias são levadas. O Velho Chefe Cabeça de Madeira cria vida e sai em uma expedição guerreira para matar os bandidos e assim vingar o assassinato dos idosos.
A Balsa
Quatro estudantes universitários decidem ir nadar em um lago desolado longe de tudo. Enquanto fazem seu caminho para uma balsa de madeira no meio do lago, eles percebem que estão sendo aterrorizados por uma misteriosa e flutuante mancha negra. A mancha se agarra ao braço de uma das garotas puxando-a e a consumindo. Um a um, a mancha gosmenta na água vai acabando com os jovens, que só queriam se divertir um pouco. Este conto pode ser lido na íntegra no livro Tripulação de Esqueletos, de Stephen King.
O Carona
Neste último conto, uma empresária infiel acidentalmente mata um inocente caronista na estrada. Ansiosa para chegar antes do marido em casa e vendo que ninguém testemunhou o incidente, ela foge sem pensar muito. Pouco depois, a área do incidente está lotada por transeuntes. E aqui está a mínima participação de Stephen King. A moça então começa a pensar sobre o que fez e as suas consequências, concluindo que ninguém tem nada sobre ela e que tudo vai ficar bem. Antes que ela possa continuar, no entanto, o caroneiro morto, de repente aparece fora de sua janela e grita “Thanks for the ride, lady.” (“Obrigado pela carona, senhora.”).
Nas intersecções dos contos e ao final do filme vemos Billy, o garoto que gosta de ler as histórias de terror. Essas pequenas inserções são animações bem bobinhas, acompanhadas de Creepy, o monstro entregador da revistinha. O primeiro e o segundo filme são divertidos, pra quem curte umas podreiras com sangue e risadas.
Porém, Creepshow ainda teve uma sequência não-oficial em 2006 sem o envolvimento de King e Romero.
Creepshow 3: Forças do Mal
Este é um filme para televisão, totalmente independente da franquia Creepshow. Não traz nenhuma história realmente memorável. Mas dá pra passar o tempo. As animações inseridas são bem diferentes aqui também.
- Alice: Ao chegar da escola, Alice descobre que seu pai arranjou um controle remoto universal que muda o rumo da história a cada vez que é acionado. Durante o processo das mudanças, Alice vai lentamente se transformando em um ser horrendo.
- O Rádio: Jerry compra um rádio de um mendigo para substituir o seu, mas logo o aparelho começa a falar com ele sobre riqueza e possibilidades infinitas, levando Jerry a cometer assassinatos e roubos até seu triste fim.
- A Prostituta: Victor é um cliente tímido de uma prostituta chamada Rachel. Indo a seu encontro, ela se depara com uma casa cheia de sangue e entranhas e resolve matar Victor. Mas Rachel terá algumas surpresas.
- A Mulher do Professor: Dois ex-alunos do Professor Dayton vão à casa do homem para comemorar seu casamento com Kathy, uma mulher perfeita. Desconfiados que ela seja um robô e de que tudo aquilo não passava de uma pegadinha do brincalhão professor, eles resolvem então desmembrá-la para ver seus circuitos internos.
- O Cachorro Quente do Inferno: O Dr. Farwell é um homem desprezível e sem sentimentos que certo dia resolve comprar um cachorro-quente. O produto havia sido previamente envenenado e preparado para ele, mas Farwell derruba a comida e dá a um mendigo que vendia produtos estranhos na rua. Então, coisas estranhas acontecem.
Há quem diga que o verdadeiro Creepshow 3 é o filme Contos da Escuridão, devido à colaboração de George Romero e Stephen King. Este filme contém 3 histórias muito mais maduras e bem contadas. Mas isso fica pra outra resenha…