Cry Havoc
Aflitivo e canastrão
Ellen (Emily Sweet), uma ambiciosa jornalista, consegue uma entrevista com um famoso serial killer conhecido como o Voyeur (Richard Tyson) e descobre que ele conseguiu libertar Havoc (J.D. Angstadt), outro serial killer, e que os dois têm um plano sinistro.
Dois serial killers
Filmes de terror têm uma tendência a serem muito parecidos e usarem de técnicas e clichês praticamente iguais. Isso acontece especialmente nos subgêneros do slasher, que só muda pequenos detalhes nos seus roteiros. Cry Havoc, no entanto, segue outros caminhos.
O longa é um slasher que vai mostrando outras facetas com o tempo, apresentando não um assassino, mas dois. O primeiro deles é o Voyeur, que está foragido, mas que ainda assim aceita dar uma entrevista a Ellen. O segundo é Havoc, que como a grande maioria dos assassinos de filmes slasher é praticamente uma máquina de matar imortal.
O Voyeur aparentemente não mata mais e é apresentado em um contexto totalmente diferente, ele vive escondido em uma casa luxuosa e aceita dar a entrevista a Ellen desde que ela não leve câmeras e que use uma roupa que ele escolheu para que os dois possam simular uma espécie de jantar romântico. Já Havoc é mostrado naquele contexto clássico, numa floresta distante, onde ele persegue e mata jovens moças de maneira sádica.
A ideia até é bem interessante e diferente, e embora pareça por boa parte do tempo que estamos acompanhando dois filmes completamente distintos, eles se ligam de uma maneira bem pensada, o resto do filme, no entanto, não se sai tão bem.
Apelativo e aflitivo
Um dos problemas de Cry Havoc é o fato dele ser apelativo demais. Tudo bem que um filme de terror normalmente é apelativo, ele geralmente não apela só para a violência, muitas vezes gratuita, como também apela para cenas de sexo e de nudez desnecessárias.
No slasher, que é basicamente um filme onde adolescentes são assassinados por maníacos, sem que exista qualquer explicação para tal, a violência é brutal e mostrada até de maneira fútil. A graça desse tipo de filme é assistir esses personagens, que são quase sempre desumanizados, morrerem de maneira cada vez mais cruel e mais sanguinária. A nudez, geralmente feminina, é outro aspecto comum a esse subgênero.
Cry Havoc é um slasher com um roteiro um pouco diferenciado, que de uma certa forma faz referência a esse tipo de filme, e como é comum, abusa tanto da violência quanto da nudez. Havoc só mata moças e todas as moças que são perseguidas por ele acabam com as roupas rasgadas antes de morrerem, até Ellen, que é a protagonista e que deveria ser a personagem humanizada dessa trama, acaba sem roupa antes que o filme termine.
Claro que, como já dito, é uma referência ao subgênero do slasher, mas depois de um tempo, começa a incomodar, primeiro porque as mortes dessas personagens se tornam cada vez mais violentas, em um nível que beira a torture porn, segundo porque não existe a necessidade de que todas as vítimas de Havoc morram seminuas.
Assim como também é comum que o filme slasher seja violento, essa é, inclusive, uma das características mais marcantes desse subgênero, mas não é que Cry Havoc seja só violento, ele apela para a aflição em diversos momentos, vemos closes de membros sendo cortados, corpos brutalizados e cenas de tortura quase explícitas. Já que o longa praticamente não assusta, ele apela para a torture porn de maneira bem pesada.
Aspectos técnicos de Cry Havoc
É óbvio que esse é um filme de baixo orçamento, e isso prejudica alguns aspectos, embora ele consiga se sair bem em outros sentidos. Algumas cenas parecem ser caseiras e a princípio isso causa estranhamento, mas ao longo do filme descobrimos que existe um motivo e que faz sentido que assim o seja. Por outro lado, os efeitos são quase nulos e mesmo as cenas de violência se baseiam mais em truques de maquiagem do que em qualquer outra coisa.
A ideia por trás de Cry Havoc é bem interessante e ele até aborda algumas questões que, se bem trabalhadas, poderiam se tornar um bom filme, mas o roteiro se perde demais e o filme é muito canastrão. As atuações sofríveis não ajudam em nada no resultado final.
Também é bem incômoda e desagradável a maneira com que o longa explora as imagens de mulheres com poucas ou nenhuma roupa, relacionando essa visão praticamente sexual dos corpos seminus com a violência descomunal que vem depois. Suas cenas aflitivas têm a intenção de agradar o público já acostumado com o terror, que espera ver esse tipo de momento no filme, mas o longa peca pelo exagero e isso também se torna excessivo.
Cry Havoc poderia ser um filme interessante e um pouco mais sério, mas acaba exagerando de maneira negativa em quase todos os seus aspectos e é uma experiência não muito agradável e um longa cheio de problemas.