De Volta à Itália
Reconstruindo relações
Jack (Micheál Richardson) é o gerente da galeria de arte de seu sogro e ele está se divorciando da esposa (Yolanda Kettle), que pretende vender o local. Jack então, se dispõe a comprar a galeria, mas para isso precisa vender a casa na Toscana que pertenceu à sua mãe (Helena Antonio).
O problema é que seu pai, o artista plástico Robert Foster (Liam Neeson), que tem direito a metade da casa, não parece disposto a fazer o mesmo. Os dois então, viajam até a Itália para arrumar a casa e tentar vendê-la, enquanto tentam reconstruir a relação entre eles.
Jack e Robert
Os protagonistas de De Volta à Itália, são apresentados como opostos. Jack tem um emprego mais burocrático, ainda que no meio artístico, e parece ter um pensamento mais racional, é ele que deseja vender a casa para comprar a galeria.
Robert, por sua vez, é um pintor que já não consegue mais pintar como antes, e que embora mantenha uma postura calma e faça piadas com frequência, não parece ter superado a morte da mulher. A maior diferença entre os dois, no entanto, é a posição de cada um em relação à casa: Jack quase não tem lembranças no local e, por isso, não se importa em vendê-la, enquanto Robert quer ficar com a casa porque ela o faz lembrar de Raffaella, sua esposa falecida.
Robert não fala para Jack com todas as letras que não quer vender a casa na Toscana, ele concorda com a ideia do filho e os dois viajam até o local com a intenção arrumá-la, mas a casa exige muito trabalho e Jack é o único centrado nele, enquanto Robert apenas anda pelo local, tentando pintar, enquanto adia a venda da casa.
A relação pai e filho
Também fica subentendido que a relação de Jack e Robert não é das melhores e que os dois não se falam com frequência. Ao longo do filme, o telespectador vai descobrindo o que aconteceu entre os dois e como a morte de Raffaella afastou pai e filho, mas a viagem dos dois à Toscana é uma maneira deles se reunirem.
A casa que os dois precisam arrumar antes de vender está praticamente aos pedaços e precisa de muito trabalho, e enquanto os dois – Robert com mais reticência – começam a reconstruir a casa, eles também começam a reconstruir a relação. A metáfora é um tanto quanto óbvia, mas funciona.
É quase como se pai e filho começassem a se conhecer novamente, e então, conseguissem finalmente lidar com o luto, cada um à sua maneira.
Aspectos técnicos de De Volta à Itália
O filme tem um roteiro simples e até meio clichê, ele acompanha pai e filho distantes, que vão aos poucos se reconectando. O telespectador já sabe o que vai acontecer, o que muda aqui são os detalhes.
O filme tem aspectos técnicos bem pensados, como as paisagens muito bonitas que aparecem em cena e alguns personagens coadjuvantes que acrescentam muito à trama. Ele também tem cenas divertidas, que fazem um contraste interessante com os momentos mais sérios.
Liam Neeson e Micheál Richardson, que são pai e filho na vida real, naturalmente têm uma boa química em cena, o que faz a audiência acreditar naquela relação, mas os dois também apresentam atuações potentes que conseguem transitar entre o drama e a comédia. O longa tem também algumas atuações com menos tempo de tela que também são boas, como Valeria Bilello, que interpreta Natalia, uma mulher por quem Jack começa a se interessar.
A arte imita a vida
O que chama mais atenção no filme é que ele parece ser um projeto bem pessoal tanto para Neeson, quanto para Richardson, uma vez que, como seus personagens, eles também compartilham o luto pela morte de Natasha Richardson, esposa de Neeson e mãe de Richardson, que morreu em 2009 depois de um acidente de esqui. Tanto o pai quanto o filho deram declarações dizendo que De Volta à Itália foi uma maneira deles lidarem com a morte de Natasha.
É verdade que o filme pega saídas fáceis, como seu roteiro que não é especialmente criativo, ou a forma como ele propositalmente retrata a ex-esposa de Jack como “terrível” e “cruel” para que o telespectador se sinta livre para gostar do flerte entre o protagonista e Natalia, mas ele ainda faz comentários interessantes sobre as relações familiares.
De Volta à Itália consegue misturar bem comédia e drama, ao mesmo tempo que fala de maneira realista sobre luto e perda. O filme chegou aos cinemas no dia 28 de outubro.