De Volta Para Casa, de Seanan McGuire

Tudo o que é bom um dia acaba. Mas isso tem um preço.

Crianças sempre desapareceram nas condições certas: escorregando pelas sombras debaixo da cama, atrás de um guarda-roupa ou caindo em buracos de coelhos e em poços velhos, para emergir em algum lugar… diferente.

Nancy viajou para um desses lugares, e agora está de volta. As coisas que ela viu… mudam uma pessoa para sempre. E as crianças sob os cuidados de Eleanor West compreendem isso muito bem: cada uma delas procura a porta de volta ao seu próprio universo fantástico, mas poucas conseguem encontrá-la. Afinal, mundos mágicos têm pouca utilidade para crianças cujos milagres já foram usados.

A chegada de Nancy marca também uma terrível mudança no internato. Há uma escuridão pairando em cada esquina, e quando a tragédia ataca, Nancy e seus colegas precisam desvendar o mistério. Não importa o custo.

De Volta Para Casa

Com uma escrita arrojada, a californiana Seanan McGuire entrega um livro honestamente delicioso de se ler, no sentido literal, já que faz com que o leitor saboreie cada frase e parágrafo, na junção certa de palavras, significados e sonoridades. Ela entrega uma história curta, com 180 páginas para se ler em um dia, numa única sentada. Ou seja, em um fôlego só (e antes de virar a última página, você vai acabar sem).

Com personagens cativantes e identificáveis para todos os públicos, a autora vencedora do Hugo, do Nebula, do Locus, entre outros tantos prêmios literários de fantasia e ficção científica, aborda diversidade e fala de sexualidade de um jeito natural, nada panfletário.

De volta para casa

Ainda que às vezes se veja repetindo mais de uma vez sobre uma explicação (como sobre a assexualidade de uma, ou a troca de sexo de outro), enquanto se esbalda nos estereótipos fantásticos para narrar um enredo sobre aceitações na juventude (seja por parte da família em compreender para onde seu filho foi parar durante todos esses anos, seja da parte da criança que retornou ao mundo de origem, mas precisa admitir sua atual condição mundana) e elabora uma intrincada e inventiva trama de mistério e assassinato.

Seanan McGuire

Claro que McGuire não é nenhuma Agatha Christie e a identidade real do assassino pode ser desvendada capítulos antes da grande revelação (ao menos para os leitores mais acostumados com o gênero). Porém, o grande foco de sua obra é o desenvolvimento dos personagens a partir de seus traumas, ou desejos, ou sentimentos de luto e raiva mal resolvidos.

Para tanto, é muito bem sacado o uso de um tipo de sanatório como instituição para reparos psicológicos nessas figuras. E é impossível não se cativar pela bizarra Jack ou a super ativa Sumi, ao sensato Kade ou ao divertido Christopher, incluindo sua atípica protagonista, na figura de margem com Nancy, uma garota que prefere ficar na sua (muitas vezes literalmente), do que pisar onde não é chamada.

A autora jamais trai as próprias regras e até brinca com a própria complexa mitologia que criou com os tipos de mundos ou portais, como se apesar de certa importância, a compreensão plena de seus sentidos não fosse realmente relevante e sim a interação entre os desajustados, suas particularidades e o que podem oferecer para ajudar quando todos estão em perigo.

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De Volta Para Casa é assim, um soco no estômago seguido de massagem, acompanhado de um chocolate quente. Uma fantasia que transita entre diversos temas, sem deixar o entretenimento de lado, enquanto suga o leitor para dentro de uma aventura estranha e apetitosa. Sendo assim, para todos os apreciadores de mundos impossíveis. E que, antes do final, ainda nos levará de volta para o nosso verdadeiro lar: a fantasia.

De Volta Para Casa

Nome Original: De Volta Para Casa
Autor: Seanan McGuire
Editora: Editora Morro Branco
Gênero: Literatura e Ficção, Ficção Científica e Fantasia
Ano: 2018
Número de Páginas: 184

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