Espírito de Família – lançamento A2 Filmes

It's always been the same, same old story

Em uma entrevista de 2016, quando perguntado se a sua maravilhosa música “Father and Son” era autobiográfica, o músico inglês Cat Stevens respondeu “Eu nunca realmente entendi meu pai, mas ele sempre me deixou fazer o que eu quisesse – ele me libertou. ‘Father and son’ é uma música para aqueles que não conseguem se libertar”. Assim, a resposta do cantor vai de encontro a toda a proposta do filme francês “Espírito de Família”. A produção estreia dia 17 de setembro em plataformas de streaming, afinal, encarar uma sala fechada com dezenas de estranhos baforando o mesmo ar ainda não nos soa como uma atração convidativa.

O filho é interpretado por Guillaume de Tonquédec (que belíssimo nome) e o pai por François Berléand (o pessoal pronuncia “Françoá”, francês tem essa mania de escrever uma sílaba inteira e cuspir uma única vogal). O problema de comunicação entre pai e filho se mostra evidente desde a primeira cena, porém se agrava bastante quando o pai morre. Não é spoiler: ele morre na primeira cena mesmo.

A partir daí, o filho continua vendo o espírito do pai, cheio de piadas de tio, ainda trocando umas ideias. Dessa forma, fazendo todo mundo pensar que o cara ficou meio louco, até ele mesmo. Na verdade, talvez ele tenha ficado meio louco, mas não sou eu que vou afirmar que tem alguém com psicológico inteiro depois dessa quarentena de meses aí.

Espírito de Família

From the moment I could talk I was ordered to listen

Histórias que exploram a relação de personagens com seus pais não faltam: Spielberg mesmo usa os daddy issues como parte da concepção de personagens de praticamente todos os seus filmes. Mas “Espírito de Família” faz isso de forma tão escancarada que nem o elenco estendido extremamente caricato consegue amenizar essa conturbada sessão psicológica “filho-pai morto” a qual o espectador é exposto: é uma mãe caolha, uma cunhada que mia e uma família que usa sapatos e calças pra jogar rugby na praia.

É tudo tão cru que não seria surpreendente se Fábio Júnior aparecesse cantando “Pai” em alguma das cenas – o que não acontece, já que eles não deram espaço pra nenhuma outra música brilhar que não fosse “Father and Son” do Cat Stevens.

Espírito de Família

Now there’s a way and I know that I have to go away

E se parece que essa música tá indo e voltando neste texto, ela faz a mesma coisa no filme. Sendo assim, tem um papel importante e aparece pelo menos três vezes no decorrer da história. Parece inegável que o roteiro foi escrito pensando na música e é fantástico que o Cat Stevens tenha liberado o uso dela. Corre a boca pequena que o cara é meio chato. Quiseram usar a canção no filme Moulin Rouge, ele implicou, não deixou, tiveram que reescrever uma parte toda e trocar por “Nature Boy” do David Bowie. Sei lá também, eu vi no Google e tô repassando aqui a informação, se for fake news, peço perdão ao divulgador científico Atila Iamarino.

Sem conseguir se aprofundar em nenhuma outra relação familiar, o filme fica entediante rapidamente. Lá pelo meio da projeção já dá pra torcer para o pai morrer de novo e o filho passar pra frente esse luto. Afinal, tem outros familiares para ele se preocupar, já pode mudar a estação, trocar de música.

Muito sem graça pra ser comédia e muito raso para ser drama, “Espírito de Família” pelo menos acerta em ser liberado diretamente para streaming. Não valeria a pena arriscar uma covid justo nesse filme. …I know I have to go…

Espírito de Família

Nome Original: L'esprit de famille
Direção: Éric Besnard
Elenco: Guillaume de Tonquédec, François Berléand, Josiane Balasko
Gênero: Comédia, Drama
Produtora: Cine Nomine
Distribuidora: A2 Filmes
Ano de Lançamento: 2019
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