A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas
A divisão de animação da Sony supera duas de suas produções excelentes de antes: “Uma Aventura Lego” e “Homem-Aranha no Aranhaverso“, com outra obra-prima irretocável. A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas pega uma história clichê (a rebelião das máquinas, que todos já vimos nas franquias Exterminador do Futuro, Matrix e em Eu, Robô, Controle Absoluto e tantos outros) e consegue torná-la uma trama envolvente tanto para crianças quanto para adultos, justamente pela forma como realiza isso.
Michael Rianda estreia na direção desse formidável longa animado depois de uma carreira roteirizando o marcante “Gravity Falls“, se inspirando em eventos de sua infância. Saindo do CG lavado e repetitivo da Pixar, o cineasta aposta em tudo o que deu certo tecnicamente em Aranhaverso e expande isso, misturando animação 3D com a tradicional 2D e ainda brinca bastante com outros elementos de cartuns old school, memes da web e stickers típicos do TikTok e Instagram, que dão uma identidade toda única para a produção, repleta de cores vibrantes.
A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas
Enervante, poderosamente engraçada (com piadas que ora funcionam para crianças, ora somente para adultos) e personagens cativantes, a animação possui os diálogos mais espertos, bem sacados e bem escritos da atualidade. Suas gags pontuais funcionam do começo ao fim, em uma narrativa que mescla o road movie trapalhão de um “Férias Frustradas” com o núcleo familiar apaixonante de um “Os Incríveis”, mas com mais naturalidade e piadinhas totalmente certeiras quanto a dependência que a sociedade tem da internet e o quanto boomers podem ser engraçados em um contexto de humor nonsense e absurdista, que essa obra sabe trabalhar muitíssimo bem.
Ainda tem representatividade LGBT colocada de maneira naturalista e nada panfletária, uma trilha sonora bem delicinha e um pano de fundo eficiente, onde o foco reside no reestabelecimento de relações entre pai e filha. Os alívios cômicos são legais nas figuras dos robôs e duplamente incríveis na figura do pug, que é inevitavelmente engraçado.
Com uma pegada otimista e nada manipulativa (como as últimas produções da Pixar vêm fazendo tão forçadamente), A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas não só é um dos melhores filmes de 2021, como certamente merece levar o Oscar ano que vem, mas sabemos para quem as inteligências nada artificiais darão. Recomendo fortemente. E se você já viu, reveja, porque essa é uma sessão da tarde para a eternidade.