Fantasmas do Século XX, de Joe Hill

Com histórias de pais e filhos, assassinos que escondem crianças no porão, memórias de infância, dates mal resolvidos e situações que variam do estranho aceitável para o improvável, com algumas figuras insuspeitas e outras com deficiências diversas, Joe Hill mostra o melhor do horror e principalmente do realismo mágico em 15 contos (e mais um de brinde após os agradecimentos), que provam porque o filho superou o pai com Fantasmas do Século XX.

Cria de Stephen King, Hill tem muito do genitor, ainda mais nas passagens mundanas e suburbanas, transitando entre os anos 1980, 1990 e 2000, mas tal qual Neil Gaiman, o autor aqui também bebe muito do mestre Ray Bradbury, colocando seus personagens em situações sensíveis e maravilhosamente humanas, mesmo com aquele toque esquisitinho.

Mesmo que “O Telefone Preto” acabe figurando como o texto mais famoso da coletânea (porque ganhou um filme com Ethan Hawke), nem de longe é o mais marcante da edição, que conta com “Pop Art”, de um menino que tem como melhor amigo um garoto inflável – esse pega tanto na alma quanto o emocionante “Boby Conroy Volta dos Mortos”, que se passa durante a filmagem do clássico Despertar dos Mortos, de George Romero, mas na verdade te faz lembrar daquilo que não viveu.

“Internação Voluntária” é um ponto fora da curva e vai te impressionar mais de uma vez, mesmo sabendo onde essa história pode terminar. O mesmo dá para se dizer sobre “A Capa” e “Fantasmas do Século XX”, onde Hill coloca o leitor na pele do personagem. “Último Suspiro” é creepy e sutil na medida certa e “Vocês Irão Ouvir o Canto do Gafanhoto” eleva Kafka para o gore. Entre tantas outras histórias envolventes, nenhuma supera “A Máscara do Meu Pai”, que sabe mesclar lembrança, pesadelo e um aceno de incredulidade bastante táctil que eu nunca li por aí. Arrepia e impacta de igual maneira.

Comprei esse livro num sebo em 2015 e adiei a leitura por anos. Sempre digo que algumas histórias levam o tempo certo para chegar até o leitor. Essas não poderiam ter chegado em momento ideal. Sendo meu primeiro contato com Joe Hill, não poderia ter começado melhor. Releituras virão.