FARGO – 2ª Temporada (2015)

Apesar de demorar um pouco para pegar no tranco, a segunda temporada da renomada série de “crimes baseados em fatos reais” no estado do Minnesota, compensa e fornece o mesmo incrível trabalho visto anteriormente.

Apresentando uma nova história, interligada à primeira, mas agora situada em 1979, tem início quando ocorrem vários assassinatos em uma lanchonete em Sioux Falls, Dakota do Sul, e passa a ser investigado por Lou Solverson (antes interpretado pelo premiado Keith Carradine, agora vivido pelo sempre ótimo Patrick Wilson), e como uma coisa leva a outra, novamente vemos mais tipos comuns, de rotina abatida, se envolvendo em algo maior do que suas vidas jamais esperavam: uma guerra sanguinolenta entre duas facções que disputam território, apresenta um número interessantíssimo de novos personagens e deixa o dobro de corpos pelo caminho, se comparado a primeira temporada.

Kirsten Dunst assume a personagem de Peggy Blomquist, esposa de um açougueiro que só quer viver o sonho americano. A cabeleireira, ao lado de outras fortes figuras femininas (como a respeitável Jean Smart e a lindíssima Rachel Keller), além de abrir discursos feministas completamente integrados ao enredo, também faz o papel de uma mulher além do seu tempo, sonhadora e com um parafuso a menos (afinal, quem atropela alguém e segue rumo com a vítima enfiada vidro adentro até a garagem de casa, não é?).

Noah Hawley mantém sua edição sofisticada, roteiro primoroso, brincando com as frases de efeito e diálogos primorosos (Tarantino se orgulharia), além de metáforas repletas de significado e humor negro, mesclando absurdismo com brutalidade, tal qual já fez muito bem antes, acrescentando ainda uma brisa envolvendo OVNIs, que eu realmente não entendi.

Antecipando em décadas algumas figuras que tornaríamos a ver na primeira temporada (inclusive algumas muito sutilmente, como visto no último episódio), essa segunda sessão possui um elenco tão incrível quanto. Além dos citados, vale destacar o belo trabalho realizado por Bokeem Woodbine (um típico personagem tarantinesco que conta com um dos desfechos mais terríveis e cômicos da antologia), Jeffrey Donovan (que faz aquele personagem que todos já vimos em algum filme do gênero e mesmo assim surpreende), Ted Danson (o xerife da vez, replicando o papel do pai/sogro de maneira natural), além de Angus Sampson (um tipo comum, sensível, mas que guarda um lado sombrio que não deveria ser surpresa pra ninguém, ainda que tenha sido para mim) e Zahn McClarnon (que faz um dos melhores personagens da série, com um gancho aberto que me deixou bastante curioso).

Improvável e virtuosa, a segunda temporada de Fargo continua tão boa e deliciosa de acompanhar quanto a primeira, encerrando um ciclo de sangue de maneira brilhante, antes do próximo capítulo.