Feliz Aniversário, comédia dramática francesa
Comemorando o aniversário da Imovision, nada mais adequado que celebrá-lo na companhia deste Feliz Aniversário, drama com toques cômicos (como os franceses são bons nisso!) estrelado pela diva Deneuve (A Última Loucura de Claire Darling), dirigido e atuado por Kahn (Guerra Fria).
É uma discussão batida (recomendo nessa linha Domingo (2018), dirigido por Clara Linhart e Fellipe Barbosa): uma D.R. familiar numa festa do chefe da casa (no caso, uma família matriarcal, comandada por Deneuve). Entretanto, há elementos bem interessantes aqui, como abordarei mais abaixo.
Feliz Aniversário
Inicialmente, o gênero do cabeça da família é quase como uma homenagem. Durante todo o tempo, a presença nem sempre evidente de Andréa (a personagem de Deneuve) mas permanentemente viva nos personagens e nos espectadores nos diz muito sobre a sensação que temos com respeito à experiente atriz francesa. Podemos não vê-la quando pensamos no cinema da terra de Godard, mas sabemos o quanto ela significa, e que bom que ela está lá.
De fato, o papel parece pensado para ela; o apoio do próprio Kahn, que atua como o filho mais velho e o mais próximo do centro das decisões familiares, é importante. Em praticamente todos os instantes em que Vincent (o personagem de Kahn) está em cena, a mãe comparece, como elemento às vezes condescendente (algo a comparar com posicionamentos de Catherine sobre feminismo?) mas sempre tranquilizador.
Há nessa dinâmica familiar muito de uma representação do cinema francês da atualidade: liderado, nos sentimentos e lembranças do público, por grandes atrizes. Mas há algo além a relatar sobre Feliz Aniversário. A ótima participação de Emmanuelle Bercot (Filhas do Sol, O Professor Substituto), muito técnica em suas mudanças de humor encarnadas na sua Claire, o elemento perturbador da paz familiar e catalisador das tensões inevitáveis que veremos na tela.
Crises de família
Durante todo o tempo, estamos a presenciar as crises e amores de um núcleo classe média francês. De todo modo, o final deverá surpreender aos que inadvertidamente se entregarem a uma certa “previsibilidade” que o filme oferece. Aqui, bem pensada a ideia de deixá-lo não muito longo. Pequenos fragmentos de Claire vão sendo depositados na trama que se expõe, e de fato Bercot aproveita a personagem desequilibrada que lhe foi entregue para dar a ela o direito da dúvida: não estamos seguros se o que vemos é uma mãe eternamente condenada às injustiças familiares e julgada por sua histeria ou se a única presença realmente honesta é a dela.
Um elenco de apoio que não compete com as fortes presenças femininas dão um acabamento sofisticado a esse que é, no limite, um longa que tem o mérito de optar por descrever um ambiente batido mas se apoiando em bons elementos. Vale assistir.