First Reformed (Fé Corrompida) – O drama do inevitável
O filme First Reformed remonta a história de um líder religioso protestante com indagações acerca da fé e da moralidade enquanto pastor de uma igreja em declínio. O diretor e roteirista Paul Schrader (que entre várias produções, também escreveu “Taxi Driver” e “Touro Indomável“) ainda aproveita para falar sobre luto e, principalmente, questões climáticas do planeta, mesclando ciência, fatos históricos (resgatando inclusive o caso de José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, assassinados no Pará em maio de 2011) e religião, fazendo curiosos paralelos entre o apocalipse bíblico e o fim do mundo moderno através do aquecimento global, com um pouco de panfletagem ativista, que não atrapalha o andamento da sessão.
Ethan Hawke merecia o Oscar por sua performance aqui, com sua ira contida e sua melancolia e insatisfação crescente, muito bem acompanhado por Amanda Seyfried que, só pela presença, irradia uma tensão sexual improvável. Cedric the Entertainer e Victoria Hill estão bem, enquanto que Michael Gaston assume uma persona vilanesca estranha, como se desse um “rosto” ao mal que assola a Terra (que não pode ser representado por um, mas por vários).
First Reformed – Fé Corrompida
Schrader certeiramente sufoca o público e os personagens em sua projeção 4×3, trabalhando simetrias e assimetrias em igual medida, closes em paisagens e objetos, dando espaço para o silêncio, desenvolvendo tudo sem pressa (mas isso não significa que a trama não tenha ritmo), conseguindo construir uma atmosfera de severidade situacional e inevitável para o filme, onde os elementos surgem sutis e são revisitados lá na frente.
E ainda que First Reformed perca um pouco a mão naquela cena de abstração que jamais orna com o restante, logo a obra se recupera em desfecho arrebatador e, justamente por ir na contramão das expectativas construídas até ali, é que surpreende.
O diretor adora trabalhar com protagonistas perturbados e à margem da sociedade, chegando em pontos críticos ou trágicos em suas resoluções. Pode-se dizer, então, que Paul Schrader “trai” seus princípios ao oferecer aqui redenção e uma segunda chance para os seus.