Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado
Um clássico do autor
Nacib é um sírio que está vivendo em Ilhéus e Gabriela é uma sertaneja que precisa sobreviver. Ela quer arrumar um emprego como empregada para se manter.
Quando os dois se conhecem, parece lógico que ela passe a trabalhar como cozinheira na casa de Nacib. A convivência, então, faz com que os dois acabem se apaixonando.
Ao mesmo tempo que acompanhamos o dia a dia de Gabriela e Nacib, também acompanhamos as mudanças sociais de Ilhéus e uma série de outros personagens que vivem por ali.
O vasto universo de personagens de Gabriela
Este livro representa uma mudança na produção literária de Jorge Amado. Nos livros anteriores, o autor aborda temas sociais, no entanto, a partir de Gabriela, Cravo e Canela, Amado passa a explorar o universo pelo qual ele ficou famoso, que envolve personagens como coronéis, prostitutas e mulheres sensuais.
A obra tem como protagonista um homem sírio que resolve viver em Ilhéus e que, uma vez lá, se encanta pelo lugar e por seus habitantes. É a partir dos olhos de Nacib que nós, leitores, também conhecemos o cenário.
Gabriela, por sua vez, é a definição da mulher sensual típica das obras de Jorge Amado. A personagem inclusive, é uma das mais lembradas da literatura nacional. A moça se comporta de maneira quase animalesca, sendo uma mulher selvagem em quase todos os aspectos. E isso se contrasta com Nacib, que é contido e quase tímido.
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Além dos protagonistas, Amado explora uma série de personagens que cercam a vida de Nacib e Gabriela e constrói uma trama tão próxima da realidade que parece que o leitor também vive naquela cidade.
Os personagens secundários que Amado apresenta não estão muito diferentes do que ele apresenta em Dona Flor e seus Dois Maridos – que também faz parte da mesma fase literária – mas isso também traz uma sensação de que todo o universo do autor faz mais sentido ainda.
Questões sociais
O livro faz parte do ciclo do cacau, que é a fase literária que não dá tanta ênfase aos problemas sociais do Nordeste e, em muitas medidas, do Brasil. Mas, mesmo assim, isso não está completamente fora da trama.
A trama se passa na década de 1920 e, por isso, aborda as mudanças que aconteceram na época, como a abertura do porto aos grandes navios, o que aumentou a possibilidade da exportação e acabou fazendo com que a cultura do coronelismo – um assunto que Amado aborda com frequência – declinasse. Além disso, também aborda o período áureo do cacau na região de Ilhéus.
Gabriela, sempre Gabriela
A construção da personagem Gabriela pode soar um pouco machista e certamente não cai tão bem nos dias de hoje. Ela é quase um estereótipo da mulher sensual, inocente, mas que deixa todos os homens completamente apaixonados. Entretanto, ela representa as mudanças de hábitos e renovações políticas e sociais que estavam surgindo na época.
Justamente por ser muito sedutora, Gabriela faz com que todos os homens se apaixonem por ela. Nacib, que é um homem ciumento, não gosta da situação. As duas ideias são bem batidas para os dias de hoje e, em muitos momentos, temos a sensação de que estamos lendo Nacib culpar Gabriela pela ação de outros homens, mas isso muda quando Amado vira essa visão a favor da moça.
O livro discute o direito da mulher de manter relações românticas e sexuais com quem ela quiser através de Gabriela e traz uma crítica sobre o direito do marido sobre o corpo feminino, já que na época em que Gabriela, Cravo e Canela foi publicado, ainda era aceitável que um marido se vingasse da sua esposa, caso ela o traísse, inclusive a matando.
Gabriela, Cravo e Canela na mídia
Como boa parte das obras de Jorge Amado, esta também já ganhou várias adaptações. Jorge Amado, como Nelson Rodrigues, é um clássico brasileiro não só em termos literários, mas também audiovisuais, teatrais e cinematográficos. O livro virou um quadrinho em 1960, um romance de cordel em 1970, uma fotonovela da revista Amiga em 1975 e até um espetáculo de dança.
Gabriela, Cravo e Canela também inspirou um filme de mesmo nome, em 1983, dirigido por Bruno Barreto e estrelado por Sônia Braga. A obra teve ainda mais sucesso na televisão, onde ganhou três adaptações diferentes.
A primeira foi em 1960, com Janete Vollu no papel de Gabriela e Paulo Autran. Em 1975, a Globo produziu uma novela que também tinha Sônia Braga no papel principal. Em 2012, a emissora fez um remake da novela, que dessa vez contava com Juliana Paes como Gabriela e Humberto Martins como Nacib.
Talvez Gabriela, Cravo e Canela tenha aspectos que não envelheceram muito bem, mas o livro também traz à tona questões muito à frente do seu tempo e que ainda precisam ser discutidas.