Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania
Tal qual o clássico Mary Poppins, produzido por Walt Disney em 1964, o novo filme da Marvel “Homem Formiga e a Vespa: Quantumania” também é composto de atores de verdade interagindo e trocando ideia com desenhos animados em um enredo onde o protagonista sofre em prover educação para uma criança meio rebelde. A tecnologia evoluiu: agora a produção usa fundos verdes e os personagens fantásticos são um pouco mais realistas do que os pinguins que dançavam com Dick Van Dyke. Mas Quantumania, ainda assim, a despeito do visual, parece um filme meio ultrapassado.
Marvel, cadê você?
Os últimos lançamentos da gigante rubro-branca dos quadrinhos foram considerados pelo público como “decepcionantes”. Oras, natural: nos últimos anos, a única coisa capaz de saciar o nerdola que ficou 3 horas de pau-duro assistindo a “Vingadores: Ultimato” foram os golpes baixos de nostalgia (não estou reclamando, inclusive gosto) de “Homem Aranha: Sem Volta Para Casa“.
A nova fase de filmes foi acusada de não avançar a história de um modo geral, como se cada filme tivesse a obrigação de antecipar uma catástrofe de proporções universais para unir cada vez mais esses hominhos que se vestem estranho, voam e dão soquinho.
Porra, o Thor repete exaustivamente durante “Love and Thunder” que aquela história seria uma “classical Thor adventure” e mesmo assim os fãs reclamaram que era um filme de escopo muito pequeno, sendo que o roteiro diz exatamente isso repetidas vezes.
Parece que Quantumania veio para satisfazer a ânsia desse fã, que quer que os filmes da Marvel tenham uma serialidade e sequencialidade de novela ao invés de simplesmente contar histórias maneiras com as diferentes formas que cada um tem de salvar o mundo. Para isso, eles trouxeram o vilão dessa nova fase: Kang, O Conquistador, além de jogar o filme lá no universo quântico, que poderia ser encarado como a operadora central para o multiverso.
Só é estranho eles trazerem tudo isso como parte da história de um herói que costuma ter aventuras de escopo pequeno (com a intenção do trocadilho), como o Homem Formiga.
Pequenas criaturas, grandes problemas em Quantumania
O primeiro filme do Homem Formiga é um heist movie meio bobo, cujo objetivo principal é colocar uma formiga dentro de um prédio. Fora isso, é uma baita aventura legal, com a comédia na medida certa, e todo o carisma de Paul Rudd carregando o filme nas costas.
O segundo foi vendido como uma comédia romântica, mas passa longe do formato. Mesmo assim, ele abusa das piadinhas deliciosas de objetos fora de proporção como carros minúsculos ou saleiros gigantes.
Este filme não tem nada disso. Metendo desde o começo toda a galera em um mundo paralelo, o poder do personagem e o grande trunfo do roteiro de brincar com o tamanho das coisas é subaproveitado. O visual é incrível, com criaturas e cenários que poderiam muito bem estar no próximo filme da franquia Avatar. Michelle Pfeiffer e Michael Douglas têm grande destaque e é ótimo vê-los atuando.
Mas o humor, tão característico do personagem, é praticamente inexistente. Quantumania é um filme que tenta ser sério, que tenta ser profundo e que tenta ser mais relevante do que ele parece no final. Porque, se por um lado, ninguém precisa assistir Loki para entender quem é Kang, por outro, a apresentação do vilão no filme parece redundante para quem viu a série.
Difícil de engolir
Infelizmente, o filme tem mais pontos negativos do que positivos. Não tem como defender muito: Quantumania é um dos piores filmes da Marvel. Até mesmo M.O.D.O.K., um dos personagens mais legais dos quadrinhos, ficou péssimo na versão deste filme. E sim, é um personagem difícil de se adaptar, porém a Hulu já fez isso primorosamente em 2021, numa série disponível no Brasil pela Star+ (cuidado: assistir a série vai deixar qualquer pessoa sensata com raiva da adaptação do personagem no filme).
Ao fã, que ansiava tanto por avanços no escopo geral da história, talvez Quantumania vai trazer o bom-senso ao coraçãozinho: os filmes nominais de heróis tem que se preocupar com os próprios heróis em si. Da mesma forma que nem todo filme das primeiras fases da Marvel tinha necessariamente uma pedra do destino, a gente não precisa de multiverso em todo lugar.
Deixa o Homem Formiga quieto na dele, lutando contra idiotas de terno em maquetes de imobiliária, que isso ele faz bem e a gente gosta. (Tem cena no começo e fim dos créditos, afinal, é Marvel).