Horácio, estrelado por Zé Celso do Teatro Oficina

Horácio (Zé Celso) é um contrabandista de cigarros que se esconde em seu apartamento no bairro do Bixiga em São Paulo e precisa sair do país após decretarem sua prisão. Para isso, ele tranca sua filha Petula (Maria Luísa Mendonça) em um quarto e conta com a ajuda de seu capanga Milton (Marcelo Drummond), por quem é apaixonado. Milton, por sua vez, está envolvido com uma loira misteriosa que se comunica com ele apenas por telefone.
Horácio tem a prisão decretada por um juiz, e simplesmente manda matá-lo. Ele mantém sua filha de 40 anos, Petula, trancada num quarto e às vezes até a acorrenta à cama. Enquanto Petula tenta fugir com o seu amante, Horácio fantasia uma relação com Milton. Mas seu capanga predileto, por sua vez, está apaixonado por uma mulher jovem e misteriosa.

Horácio então percebe que o cerco está se fechando e ele pode ser preso. Assim, tenta convencer Milton a fugir para o Paraguai e começar uma vida nova. Nesse drama, nenhum dos personagens sabe se é amado e por quem é amado. Portanto, mentira, chantagem, sequestro e assassinato constroem um universo que progressivamente desmorona e torna o improvável possível.
Personagens
Horácio é um contrabandista que, apesar dos momentos calculistas em que parece insano e violento, ainda guarda um amor no coração. Milton, por outro lado, é frio e obedece a todas as ordens de Horácio, até conhecer uma mulher misteriosa por quem começa a mudar. Petula já é uma personagem mais ligada à espiritualidade e se mostra fanática por Iemanjá e desesperada por estar sempre presa.

Os secundários, Faraó e Nadia, estão presentes como bandidos menores, que nunca conseguem finalizar uma tarefa sem se dar muito mal. Nesses momentos o drama toma traços de comédia e ficamos até com dó do casal azarado.
O elenco de Horácio
O filme se constitui majoritariamente por atores vindos do teatro, o que dá um tom mais expressivo aos personagens. Horácio é um homem totalmente caricato, um velho babão e mandão que fuma charutos e se veste de mulher.

Zé Celso é um dos nomes mais importantes ligados ao teatro brasileiro desde a década de 60. Não teve muitas participações no cinema, mas aqui é a estrela do filme de estreia do diretor Mathias Mangin. “Apesar da imensa experiência que ele tem, foi um ator paciente com um jovem diretor, generoso com suas ideias. Graças às dicas que o Zé me deu, aos textos que ele me leu do Stanislawski durante a pré-produção e a sua grande capacidade de improvisação, conseguimos dar ao seu personagem a textura e a vida que estavam nas páginas do roteiro“, avalia Mangin.
Trilha Sonora
Com exceção de uma música de Ronnie Von, a trilha sonora foi composta especialmente para o filme. Ou seja, se encaixa muito bem em seu ambiente excêntrico. Grande destaque para “Se Eu Fosse Mulher”, que exalta ainda mais os momentos andrógenos do protagonista, interpretada pelo cantor Pélico.
“Tudo foi feito buscando o contraponto, e tenho certeza que a trilha, mistura de uma música clássica profunda com arrasta pé ou músicas mais alegres, contribuiu muito para a construção desse efeito tragicômico“, explica Mangin.

Considerações finais
Horácio é um filme com uma trama pouco previsível, com personagens muito caricatos e expressivos. Inclusive em alguns momentos lembram cenas teatrais e pouco críveis. Por conta disso e pelo fato de ser a primeira vez que Mathias Mangin dirige um longa metragem e de ter que trabalhar com atores tão experientes como Zé Celso e Maria Luisa Mendonça, é possível que o diretor tenha dado aos atores liberdade o suficiente para aliviar o teor dramático.
Apesar de Horácio ser um criminoso e demonstrar muita frieza no tratamento com as pessoas, inclusive sua filha, o filme é divertido. Ocorrem alguns erros de continuidade, mas nada que atrapalhe a experiência. O ambiente mostra a imprevisibilidade dos personagens, como as reações, falas e ações do protagonista, além dos momentos em que ele se veste de mulher.
Horácio é uma metáfora do Brasil, o retrato de uma sociedade ao mesmo tempo fascinante e brutal, alegre e amedrontadora, em que a ausência de civilidade torna a vida impossível. O filme entra em cartaz dia 11 de abril.