In The Flesh – Muito mais que uma série de zumbis

In The Flesh se passa em uma pequena cidade da Inglaterra, depois de um evento chamado A Ascensão, onde todos os mortos voltaram à vida. Três anos depois da Ascensão, os seres que reviveram foram incorporados a sociedade e passaram a ser chamados de Portadores da Síndrome de Morte Parcial.

A série acompanha Kieren Walker (Luke Newberry), morto aos 17 anos, que retorna à vida e passa a morar com sua família, mas ainda precisa enfrentar o preconceito que ronda a cidade, ao mesmo tempo que lida com as suas próprias questões.

In The Flesh é, basicamente, uma série de zumbis, mas é bem diferente de qualquer outra. Primeiro que os zumbis não se comportam como tal, não canibalizam outras pessoas e nem andam por aí arrastando as pernas e gemendo. Os zumbis aqui se comportam como pessoas normais e só sabemos que eles são zumbis porque eles têm a pele ligeiramente apodrecida e os olhos brancos.

Kieren Walker
Kieren Walker

In The Flesh

A série, então, dá um conceito completamente diferente à ideia do zumbi. Ela não é uma série de ação, que mostra humanos fugindo de zumbis, como The Walking Dead e aliás, na maioria das vezes, nós nem acompanhamos os humanos, afinal, o protagonista é um zumbi.

A trama ainda apresenta uma questão social que fala muito com os dias de hoje. Os mortos voltaram à vida e a sociedade, depois do primeiro baque, acabou aceitando isso. As famílias receberam seus mortos de volta, os zumbis ganharam então outra denominação, que é mais politicamente correta, Portadores da Síndrome de Morte Parcial, se acostumaram a usar maquiagem e lentes de contatos para esconder suas peles e seus olhos brancos e existe um esforço para que eles sejam reintegrados na sociedade.

In The Flesh, no entanto, mostra que mesmo com tudo isso, ainda existe um preconceito rondando a cidade onde Kieran vive. Ele mesmo anda por aí medindo seus passos e com medo de se deparar com alguém intolerante. É nesse aspecto que a série apresenta um grande paralelo com a realidade.

A série fala sobre uma sociedade que aceita pessoas que ressuscitaram
A série fala sobre uma sociedade que aceita pessoas que ressuscitaram

Kieren e Rick

O principal preconceito sobre o qual In The Flesh fala diretamente é aquele contra os mortos que voltaram à vida mas, fica claro ao longo da série, que essa é só uma metáfora para uma questão um pouco mais realista. Kieran é um jovem que se matou quando tinha 17 anos, logo depois que seu melhor amigo Rick Macy (David Walmsley) morreu no Iraque. Não acompanhamos o relacionamento de Kieran e Rick, mas sabemos pelo que é dito, que os dois eram amigos de infância e que estavam sempre juntos.

Em momento algum In The Flesh fala abertamente que Kieran e Rick tinham algum tipo de envolvimento romântico, e a sexualidade de Kieran só é mostrada de maneira mais clara na segunda temporada, mas a série nos dá pistas em relação a isso. A reação de Kieren à morte de Rick parece um pouco intensa, mesmo que Rick fosse o único amigo dele na cidade e, em determinado momento da série, ficamos sabendo que o pai (Steve Evets) de Rick nunca gostou de Kieren e desaprovava a relação dos dois.

Rick e Kieren
Rick e Kieren

Tudo fica um pouco mais complicado quando Rick, que também ressuscitou, volta à cidade. A princípio o pai de Rick, diz que Kieren não vive mais ali, mas quando Kieren descobre que o amigo voltou, eles acabam se encontrando. A relação dos dois então, se torna uma mistura de desconforto e vontade de estar junto e esclarecer as coisas. De certa maneira, muito parecida com a de ex-namorados que ainda se gostam.

Homofobia

No entanto, o pai de Rick ainda não aceita a relação dos dois, assim como o resto da cidade, que vê Kieren como um morto vivo e Rick como um herói que retornou da guerra. Outro ponto interessante é que o pai de Rick não considera e não aceita que seu filho seja um dos mortos que voltaram e durante a primeira temporada ele repete com frequência que Rick não é como Kieren.

Simon e Kieren
Simon e Kieren

A série está falando abertamente sobre a condição de mortos que voltaram à vida dos dois personagens, mas não é muito difícil ler nas entrelinhas. Além do mais, Rick, que é mais popular entre os garotos da cidade, também é mais másculo e se interessa por assuntos considerados masculinos. Enquanto isso, Kieren é claramente mais sensível e mais feminino, o que aumenta a ideia que a cidade tem de que Rick “não é como” Kieran, seja em relação à condição de morto vivo, seja em relação à sua sexualidade.

A conversa que Kieren e Rick têm quando o segundo descobre que o primeiro se matou é tão profunda e cheia de sentimento que é impossível não ver a relação dos dois como a de um casal. A série ainda joga outras insinuações ao longo do caminho, como quando Kieren comenta que em Paris a condição de morto vivo é mais aceita, fazendo uma alusão ao fato da França sempre ter sido mais aberta em relação a aceitação, ou quando um dos moradores da cidade que rechaçam Kieren diz que não aceita ordens de um rapaz que usa maquiagem. In The Flesh então, usa de uma trama fantástica para falar de uma questão bem real e faz isso de maneira inteligente.

Amy e Kieren
Amy e Kieren
Luto

Mas a produção também fala sobre luto, já que também acompanha os familiares dos personagens que reviveram e as reações que eles tiveram quando souberam do falecimento de seus entes queridos. Os pais (Steve Cooper e Marie Critchley) de Kieren, por exemplo, aceitam sua volta, e parecem dispostos a aprender sobre a sua nova condição.

No entanto, ainda é doloroso para eles terem que lidar com o fato de que o filho se matou. É a mesma sensação que Amy Dyer (Emily Bevan), a nova amiga de Kieren, que também ressuscitou, tem. Para ela, que morreu vítima de uma doença, parece impensável que alguém desperdice a sua própria vida como Kieren fez. Jem (Harriet Cains), a irmã mais nova de Kieren também tem dificuldades de entender o que levou Kieren a se matar. No começo, ela nem quer falar com ele, porque sente que merecia uma explicação.

Luke Newberry em cena da série
Luke Newberry em cena da série

Por outro lado, o pai de Rick se mostra extremamente feliz com a volta do filho, mas não consegue assumir para si mesmo que o filho é um dos mortos que ressuscitou, para ele, o filho é diferente de Kieren.

A dificuldade de se aceitar

In The Flesh também é sobre Kieren se aceitando como ele é, seja na sua insinuada homossexualidade ou bissexualidade, que fica mais explícita na segunda temporada, seja na sua nova condição de morto que voltou à vida. Ele luta com as duas questões, não se assume e nem toma muitas providências em relação a Rick, passa maquiagem e usa lentes de contato para disfarçar sua aparência.

Ainda por cima, ele precisa lidar com o fato de que embora ele quisesse morrer, ele está de volta à vida e não tem muita escolha a não ser vivê-la. Na segunda temporada Kieren parece mais à vontade com quem ele é, principalmente porque Amy, que se recusa a disfarçar a sua aparência, o ajudou, mas também porque ele conhece Simon Monroe (Emmett J.Scanlan), que também não esconde sua condição e parece confortável com a sua sexualidade, o que chama a atenção de Kieren.

In The Flesh usa de elementos fantásticos para falar de questões reais
A série usa de elementos fantásticos para falar de questões reais
Aspectos técnicos de In The Flesh

A produção da série é simples, e ela parece ter uma trama simples, mas que na realidade é um pouco mais complexa e bem pensada. A série quer obviamente falar sobre questões muito reais, como luto, depressão, preconceito e homofobia e usa de elementos fantásticos para tal.

A série se vende como uma série de zumbis, mas tem um ponto de vista completamente diferente, primeiro porque ela não é uma série de terror ou de suspense, segundo porque o protagonista é um zumbi. É como se acompanhássemos pela primeira vez, a outra versão. In The Flesh é uma série que trabalha mais no gênero do drama, e que se foca nas relações entre os seus personagens.

In The Flesh usa de muitos tons escuros
In The Flesh usa de muitos tons escuros

No entanto, a produção é bem dedicada quando se trata de retratar os zumbis sem maquiagem, o que, na prática, corresponde aos atores, com muita maquiagem. Ela também tem boas atuações, Luke Newberry parece perfeito para o papel do protagonista e é muito difícil não simpatizar com ele. A química entre ele e Emily Bevan, que interpreta sua amiga Amy, também é muito boa, o que ajuda a série.

O que esperar

In The Flesh tem um ar um macambúzio, quase como se combinasse com a personalidade de Kieren, que no começo quase não fala e que ainda parece ter resquícios da sua antiga vida. Os cenários, a trilha sonora e os figurinos seguem essa ordem, tudo é escuro e em tons outonais. A única pessoa que se distancia disso é Amy, que usa roupas coloridas e que é uma pessoa alegre.

In The Flesh trata de temas como homofobia e depressão
A série trata de temas como homofobia e depressão

Infelizmente só fizeram duas temporadas e não teve uma finalização, o que certamente pode dar uma desanimada no público que pode se interessar em assistir, mas a ideia é tão original e a série passa mensagens tão boas que ela vale a pena mesmo assim. Existem boatos de que a série pode ganhar uma terceira temporada, pelo menos para receber uma finalização, mas isso nunca foi para frente.

In The Flesh é uma série que, como os seus personagens, se disfarça de série de terror e de zumbis, para falar de coisas extremamente relevantes sobre o mundo real.

Nome Original: In The Flesh
Elenco: Luke Newberry, David Walmsley, Emily Bevan, Harriet Cains, Emmett J. Scanlan
Gênero: Comédia, Terror, Drama
Produtora: BBC Drama Productions
Disponível: Ah, só baixando, eu acho...

2 Comentários

  1. De inicio eu fiquei sem entender o contexto da serie, foi preciso assistir mais de uma vez, é uma das series que eu mais me identifiquei, me emocionei em cada episodio , hoje estou acompanhando mais uma vez pelo NOW da net que tivw o prazer de encontrar na lista.

  2. Oi, William, tudo bem?
    A série começa meio sem explicações mesmo e ao longo das duas temporadas não existe uma explicação muito clara de como as pessoas voltaram a vida, mas acho que a ideia nem é focar tanto nessas questões, e sim em tudo que a série quer dizer por traz dessas metáforas.
    Mas concordo, a série é emocionante mesmo e tem uma premissa bem inteligente, uma pena que foi cancelada.

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