Irma Vep – minissérie

A melhor minissérie que ninguém está comentando é um produto exclusivo para os apaixonados pela sétima arte, sem ser cult demais, pop demais ou repleto de pedantismo.

Os oito episódios de Irma Vep, que muitas vezes vão do nada para lugar nenhum, estão atulhados de paixão, autenticidade e uma narrativa deliciosa, povoada por personagens carismáticos, em um drama metalinguístico sagaz, que entre aleatoriedades (bem-vindas dos dramas humanos, em especial de atrizes e figuras da produção), apresenta uma visão bem interessante dos bastidores, assim como discute qual a função do entretenimento nos dias atuais, em que produções antigas são repaginadas de modo frenético, e convida o espectador para uma viagem delirante no mundo do cinema (e da TV). A confusão apresentada pela narrativa é só um dos aspectos curiosos e fascinantes da minissérie, que propõe um olhar crítico sobre os bastidores da indústria do entretenimento.

Irma Vep
Alicia Vikander

Irma Vep

Para aumentar a dose excêntrica da obra, Irma Vep foi criada por Olivier Assayas, cineasta francês que, por sua vez, fez um filme de verdade chamado Irma Vep, lançado em 1996, também baseado no longa Les Vampires, um marco do cinema mudo francês da década de 1910.

A atração da HBO acaba sendo uma versão adaptada desse longa moderno, o remake do remake… produto de uma indústria que adora fazer remakes. E está plenamente consciente disso. A narrativa ainda promove três vieses: no presente, com os atores durante as filmagens da minissérie; os recortes reais do filme clássico (que em certos momentos intercala com a filmagem recente); e alguns saltos nos bastidores do original, mas atuados pelos atores do presente. Essa brincadeira, que visa confusão, faz parte do charme da obra.

Mais aspectos

O elenco é magnético e com interpretações maravilhosas, com atores realmente envolvidos de coração nesse projeto (atenção às participações especiais de Tom Sturridge, o novo Sandman, e até de Kristen Stewart), mas Alicia Vikander e Vincent Macaigne estão espetaculares, com personagens profundos que discorrem o tempo inteiro em debates sobre o meio artístico, mas principalmente sobre criatividade, o que pode arrebatar não só apaixonados por cinema e TV, mas também literatura.

Os diálogos, aliás, são parte do grande trunfo dessa saborosa produção. Alicia interpreta Mira Harberg, uma celebridade americana da mais alta prateleira em Hollywood, famosa por fazer filmes de heróis tipo Marvel, sucessos absolutos de bilheteria. Desiludida, ela decide dar um breque nesses trabalhos comerciais e aceita ser protagonista de um projeto experimental, gravado em Paris. Alguns dos momentos dela com Adria Arjona, exalam uma tensão sexual poderosa e marcante.

Irma Vep

Por outro lado, o diretor René Vidal de Macaigne, é um artista no real sentido da palavra, que vê nesse reboot um filme de oito horas (mas é uma minissérie mesmo, por mais que não admita), assombrado pelo espírito de Irma Vep, uma espécie de musa dos sets, que foi invocada na primeira filmagem de 1915 e agora persegue a produção. Flertando com o realismo mágico, mais no aspecto metafórico do que literal, a obra se faz de invencionices brisantes para estofar seu enredo.

Não busque coesão narrativa ou desfechos redondinhos para subtramas e histórias, apenas se deixe levar pela experiência criativa que Irma Vep se propõe a ser. Não existe uma resposta, mas as perguntas são colocadas na mesa e você vai encontrar sua saída, de um jeito a outra. E quando tudo terminar, nada mais será como antes. Aplausos, por favor.

Nome Original: Irma Vep
Elenco: Alicia Vikander, Vincent Macaigne, Nora Hamzawi, Antoine Reinartz
Gênero: Comédia, Drama
Produtora: A24
Disponível: HBO Max
Etiquetas
Botão Voltar ao topo
Fechar