Joana, a Louca – Revisitando a história

No século XV, os reis da Espanha enviam sua filha Joana (Pilar López de Ayala) a Flanders para se casar com Filipe (Daniele Liotti) da Áustria. O casamento tem intenções políticas, mas Joana se apaixona perdidamente por Filipe e os dois vivem bem por um tempo, até que ela descobre que ele mantém relações extraconjugais.

A partir daí, Joana fica cada vez mais ciumenta e neurótica, perseguindo o marido, criando um problema com ele e comentários na corte toda. Quando os dois assumem o trono da Espanha, Filipe e outros membros da corte resolvem começar um movimento para declarar Joana como louca, dando todo o poder a Filipe.

Joana e Filipe

É óbvio que Joana e Filipe fizeram muitas coisas, mas o filme Joana, a Louca é focado, pelo menos em um primeiro momento, no relacionamento dos dois, dando mais ênfase aos sentimentos da protagonista, Joana. Ela nasce como princesa da Espanha e, ainda bem jovem, é mandada a Flanders, onde deve se casar com Filipe I de Castela. Os dois nunca se viram e o casamento tem fins políticos mas, logo que eles se encontram, a química é intensa e Filipe pede para receber a benção naquele momento, pois deseja consumar o casamento antes mesmo da festa.

Filipe
Filipe

Joana que, antes de conhecer o futuro marido estava nervosa e com medo, se apaixona perdidamente por Filipe e o casamento dos dois funciona por um tempo, com Joana dando à luz dois filhos rapidamente.

No entanto, a relação não tem nada de saudável. Embora pareçam apaixonados, tudo é extremamente intenso. Joana tem um amor quase irracional por Filipe e ele mantém casos extraconjugais que não são do conhecimento dela, mas que são comentados pela corte. Quando Joana descobre o marido na cama com uma mulher que ela não consegue reconhecer, ela começa a ficar neurótica, perseguir o marido pelos cantos e passa a escolher suas damas de companhia de acordo com a falta de beleza física. Isso causa um problema para Filipe, que precisa se esconder e nunca deixa de lado suas amantes. Para o príncipe, Joana está “louca” e ele começa a expressar isso com frequência.

Fica claro para o telespectador, principalmente o atual, que o casamento de Joana e Filipe não tem nada de saudável. Ele mantém vários casos amorosos que a irritam e magoam e ela o persegue e não faz questão nenhuma de esconder seu ciúme, agindo de maneira intempestiva e passional, o que dá a Filipe a desculpa ideal para chamá-la de louca.

Filipe e Joana tem um casamento nada saudável
Filipe e Joana tem um casamento nada saudável

Joana, a Louca?

A ideia por traz do filme é mostrar como Joana passou a ser conhecida como “a louca”. Na trama, Filipe passa a chamar a esposa de louca depois que ela começa a ter crises de ciúmes sérias e a cometer erros devido a esse sentimento e, mais tarde, acha que é plausível usar isso como desculpa para declarar a mulher como louca e afasta-la definitivamente da vida política.

No entanto, o longa é muito claro em relação ao fato de que Joana não está clinicamente louca e isso é ressaltado por uma de suas damas de companhia. Esta pede que a rainha controle seu ciúme, justamente para não dar desculpa a quem lhe chama de louca. Além disso, um médico atesta que Joana não é louca. Nesse aspecto, o filme tem uma trama muito atual e que conversa com os dias de hoje.

Joana é, de fato, ciumenta e passional e comete uma série de erros enquanto tenta a todo custo manter seu marido perto dela, mas ela é sã. Quando o filme deixa claro, através até da opinião médica, que ela não é louca, e mostra uma cena de Filipe discutindo com outros homens na corte a possibilidade de declarar a esposa louca e assim ter todo o poder para si mesmo, o longa deixa explícita sua opinião sobre a suposta loucura de Joana.

Joana é ciumenta e muito passional
Joana é ciumenta e muito passional

Aspectos técnicos de Joana, a Louca

É desnecessário dizer que existe um cuidado especial em relação ao figurino do longa, que remonta ao século XV mas, para além disso, a produção aposta em roupas que têm tons escuros, e que ficam entre o vermelho e o preto. Essa é a lógica que segue todo o filme, que tem cenários escuros, com muita madeira, e uma fotografia que preza por esses tons. O palácio onde Joana e Filipe vivem é opressor, o que emula o sentimento de Joana, presa no lugar e no seu próprio ciúme, mas também nas conspirações contra ela.

É interessante acompanhar a evolução de Joana, que chega a Flanders assustada e em dúvida, mas vai aos poucos se tornando uma mulher forte, que é capaz, inclusive, de enfrentar as acusações do marido. A experiência da princesa pode começar como a de uma jovem garota que casa sem amor, o que reflete a experiência de uma série de mulheres da época, tratadas como moeda de troca, mas quando ela de fato se apaixona por seu marido, sua situação muda bastante.

Pilar López de Ayala se sai muito bem como Joana e consegue transmitir essas várias fases da personagem, ao mesmo tempo que deixa claro que ela não está louca, embora suas ações e reações não sejam sempre corretas e soem muito exageradas em diversos momentos. O que Joana, a Louca parece querer discutir é a veracidade sobre a condição médica de Joana e, em muitos aspectos, lembra obras mais recentes, como Maria Antonieta e The Great, que também visam esclarecer as histórias de vidas de mulheres com má fama.

O filme questiona a suposta loucura de Joana
O filme questiona a suposta loucura de Joana

Filme de época, porém moderno

Joana, a Louca, no entanto, soa atual e moderno, porque discute, mesmo que de maneira leve, a opressão feminina e mostra com clareza a conspiração para que Filipe tenha o poder do reino da Espanha, que era por direito de nascimento, de Joana.

O filme se torna um pouco cansativo com o tempo, mas não é nada que prejudique a obra de maneira geral, que conta com boas atuações e com uma trama que leva o telespectador a pensar e questionar se a fama que Joana – ou qualquer outra mulher famosa e histórica – ganhou, é justa.

Joana, a Louca faz parte do catálogo do festival Volta ao Mundo: Espanha e está disponível no Belas Artes à La Carte, do dia 3 ao dia 16 de junho.

Joana, a Louca

Nome Original: Juana la loca
Direção: Vicente Aranda
Elenco: Pilar López de Ayala, Giuliano Gemma, Rosana Pastor, Willy Toledo, Susi Sánchez
Gênero: Histórico, Biografia, Romance
Produtora: Enrique Cerezo Producciones Cinematográficas S.A.
Distribuidora: Columbia TriStar Film
Ano de Lançamento: 2001
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