John Wick 4: Baba Yaga

Um espetáculo de performance sensorial

Dá para analisar Baba Yaga, que encerra a jornada do assassino como um legítimo jogo de FPS, com uma realidade simulada onde a polícia não atua e os assassinos possuem guildas e as próprias regras. Uma mitologia rica e colorida, onde cada personagem tem suas características, cores e habilidades, como nosso protagonista interpretado por Keanu Reeves, com seu terno à prova de balas, a maneira de atirar e de jogar o cartucho contra os oponentes, sempre saindo quase ileso de grandes quedas ou ataques. Cada sequência é uma fase, como seu próprio subchefe e chefe, com desafios complexos para se resolver entre uma fase e outra. Os figurantes são como NPCs, que não se afetam com a intervenção no cenário.

Depois de um primeiro filme que prestava tributo e ao mesmo tempo satirizava o cinema de ação dos anos 1980, e dois filmes meio cheios de si, o quarto se prova o melhor da franquia e uma das maiores produções de ação de todos os tempos, consciente de sua loucura e de sua própria linguagem, do domínio dos dublês e das sequências de luta e tiroteio que Chad Stahelski conduz com maestria, abraçando o exagero como parte da narrativa, que é toda performance, pirotecnia e homenagem (tanto às produções oitentistas hollywoodianas, quanto ao cinema asiático e aqueles filmes de artes marciais de baixo orçamento). Essa mistura funciona aqui, do começo ao fim e as 3h de sessão passam voando.

Baba Yaga

John Wick 4: Baba Yaga

Com uma fotografia espetacular, o capítulo 4 entrega as melhores cenas de ação do cinema moderno, superando tudo o que já foi apresentado até aqui. Cada sequência é melhor do que a anterior, mas vale destacar o embate no hotel em Osaka, o confronto em meio ao trânsito ao redor do Arco do Triunfo, a perseguição na boate em Moscou, além do clímax sufocante na escadaria até Coeur. O diretor sabe colocar momentos de respiro entre uma pirotecnia e outra, dando tempo do drama ou do humor acontecer, sem jamais deixar o ritmo cair. Cada cenário salta aos olhos, os detalhes de água, fogo e luz. As performances continuam suntuosas, dá para ver cada movimento e o CGi é imperceptível.

Esqueça a história. Apesar de existir uma, o disco continua arranhando: John Wick quebrou as regras e precisa morrer. Mundos e fundos são movidos para esse fim, agora com um Marquês (do sempre excêntrico Bill Skarsgård) como mandante da grande destruição, colocando um dos adversários mais poderosos que o protagonista já enfrentou: Caine, o assassino cego (com o grande Donnie Yen repetindo seu papel de Rogue One, só que melhor), repleto de maneirismos, gravidade e carisma. Além do Sr. Ninguém de Shamier Anderson, que tem uma cadela feroz e um faro aguçado. Outras figuras de antes retornam, mas nem todos sobrevivem, nesse derradeiro ato final.

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