Joias Brutas, uma pedra lapidada com excelência
Depois de chamarem a atenção de Hollywood com “Bom Comportamento”, os irmãos Josh e Ben Safdie colocam Adam Sandler como um judeu falastrão, trambiqueiro viciado em apostas, que é dono de uma loja de diamantes e revelam sua vida ladeira abaixo, neste Joias Brutas, um filme frenético, completamente intenso e muito improvável.
Dos sintetizadores da trilha sonora de Daniel Lopatin (que preenche todos os espaços a todo momento), das figuras de margem que habitam a trama, passando pelos cenários atípicos, tudo nessa produção dissolve estereótipos e clichês em favor de uma narrativa perturbadora, mais pela condução naturalista dos diretores e da excelente atuação de Sandler (de longe, em seu melhor papel, estranhamente ignorado pelo Oscar), do que pelas escolhas de roteiro, que também é carregado de acertos.
Joias Brutas
Transitando da Etiópia para o centro de Nova York e saltando de um jogo decisivo de basquete para uma joalheria. Assim, Joias Brutas mescla drama, suspense, crime e humor negro para narrar a jornada de um homem que não sabe quando parar. Afinal, ele vive de esperanças vazias e é autodestrutivo sem perceber.
O longa traz ainda no elenco o jogador Kevin Garnett (competente, que fornece ainda mais verossimilhança a obra); o sempre ótimo Lakeith Stanfield; o estranhíssimo Eric Bogosian, Idina Menzel e Julia Fox (que quebram seus próprios estereótipos enquanto esposa e amante) e o assustador Keith Williams Richards. Dessa forma, o longa serve-se de cada sequência, sem desperdiçar momentos, rendendo cenas memoráveis (de como quando a porta da loja de joias quebra, do jogo durante o clímax, da balada lotada e até do apartamento vazio), enquanto que a câmera permite que Sandler brilhe sozinho e prove que pode ser muito além da figura patética de seus filmes de sempre, repetindo mais uma vez seu perdedor adorável, mas de uma maneira que ninguém nunca viu.