Lar Ideal – Uma família nada tradicional
Em Lar Ideal, Erasmus (Steve Coogan) e Paul (Paul Rudd) formam um casal rico e extravagante, que vive de festas e diversão, até o dia que um garoto(Jack Gore) aparece na casa dos dois dizendo que o pai dele (Jake McDorman) o mandou ali um pouco antes de ser preso.
Logo descobre-se que o menino, que se chama Angel, mas prefere ser chamado de Bill, é neto de Erasmus. O casal então resolve ficar com o menino enquanto o seu pai está preso, mas acaba se apegando cada vez mais a Bill e os três começam a construir uma vida juntos.
Existem muitos filmes que falam sobre adoção por casais gays, mas Lar Ideal parte de outro princípio. Primeiro que o filme é uma comédia e não tem a intenção de falar sobre as dificuldades que um casal gay pode ter ao adotar uma criança, segundo que Bill vai parar na casa de Erasmus e Paul em circunstâncias nada tradicionais. Bill vive com seu pai e, quando ele é preso, manda o garoto fugir e procurar seu avô. Assim, ele chega à casa de Erasmus, que parece nem saber que tinha um neto. Seu marido, Paul, parece ainda mais chocado.
Lar Ideal
Os dois não tem muita escolha a não ser cuidar de Bill, mas fica claro que uma criança não cabe na vida que eles levam. Erasmus é um famoso chef de cozinha e Paul dirige o programa estrelado pelo seu marido. Os dois vivem em uma mansão com decoração cara e extravagante e dedicam seu tempo às festas e aos amigos. A chegada de Bill, que até parece se divertir na casa, mostra que os dois nunca planejaram criar filhos juntos.
Mas um ponto interessante do filme é que ele não apela para estereótipos. Os personagens não são retratados como femininos, e não se relacionam com boa parte das coisas que o audiovisual costuma relacionar a personagens masculinos homossexuais. Então a relação de Paul e Erasmus é extremamente realista? Não, mas parece próxima da realidade, mesmo que a maioria das pessoas não conheça personalidades da televisão que vivem em mansões.
Lar Ideal é uma comédia cheia de piadas e momentos engraçados, mas nenhuma dessas piadas são feitas às custas das sexualidades de seus protagonistas. O filme e os próprios personagens fazem piadas sobre si mesmos e sobre os outros, mas sempre atreladas às suas personalidades e não sobre o fato de serem homossexuais. O fato dos dois serem um casal gay nem parece ser tão relevante na trama. O filme está mais ocupado em falar sobre a convivência entre Paul, Erasmus e Bill.
A convivência
O grande mote de Lar Ideal é falar sobre a formação de uma família não convencional e esse não convencional não é porque Paul e Erasmus são dois homens, mas porque eles não tinham qualquer intenção de ter um filho e Bill acaba caindo no colo deles.
O filme acompanha a vida dos dois antes da chegada de Bill e depois vai nos mostrando a mudança que acontece depois que o menino passa a viver com eles. No começo, Bill é um problema para o casal, mas os dois começam a se afeiçoar ao menino e não demora para que eles estejam vivendo como uma família.
Uma nova família
É certo que Paul e Erasmus não conseguem se comportar totalmente como pais responsáveis, Erasmus se coloca mais como um amigo do neto do que como uma figura de autoridade, e Paul tenta a todo custo fazer o garoto levar uma vida normal, mas nem sempre consegue.
A chegada de uma assistente social (Alison Pill), que revira a casa dos dois e encontra uma série de problemas, deixa claro tudo isso, mas o fato de que Paul e Erasmus estão dispostos a mudar e que eles não querem pensar na possibilidade de se afastar de Bill depois de um tempo, mostra que eles de fato sentem que são os pais de Bill.
Aspectos técnicos de Lar Ideal
A primeira coisa que tem que se ter em mente enquanto se assiste ao filme é que é uma comédia e, por isso, não tem nenhuma intenção de discutir nenhum assunto de forma séria mas, invariavelmente, o filme traz à tona questões importantes.
A coisa mais interessante é a configuração da família que se forma quando Bill chega à casa de Paul e Erasmus. Afinal, tudo é muito fora do convencional, mas funciona. O fato de Paul e Erasmus serem um casal gay é completamente irrelevante, já que o filme bate muito mais na tecla da extravagância dos dois, que poderia ser a mesma, se o filme falasse de um casal heterossexual idoso que tem muito dinheiro, ou ainda, de um casal formado por duas mulheres, que se encontrasse na mesma situação.
A relação dos dois também é retratada de maneira muito natural, o telespectador acredita que os dois são um casal. Parte disso se deve ao roteiro, que não mostra o relacionamento como perfeito. Fica claro que o casamento tem problemas e que os dois brigam e se desentendem, mas também mostra que eles estão dispostos a passar por cima dessas coisas para ficarem juntos e, eventualmente, para ficarem com Bill.
E o elenco…
No entanto, parte desse efeito se deve também as boas atuações de Coogan e Rudd, que conseguem interpretar personagens cômicos, mas que ainda tem questões dramáticas dentro de si. Os dois atores também têm muita química, o que ajuda muito. Jack Gore, que interpreta Bill, tem poucas falas, mas consegue cativar o público.
Lar Ideal é divertido e distrai o telespectador, ao mesmo tempo que faz com que ele se afeiçoe por aquela família, cheia de defeitos, mas claramente disposta a ficar junta.