Love – A História de Lisey, de Stephen King
O amor mata
Em Love – A História de Lisey, Lisey Landon é a viúva de um famoso escritor. Dois anos após a morte de seu marido, ela resolve arrumar o escritório dele. Enquanto luta com a falta que sente do esposo, Lisey também luta contra um fã maníaco de seu marido que passa a persegui-la.
O passado e o presente em Love – A História de Lisey
O enredo é contado em dois tempos. O presente, onde acompanhamos Lisey lidando com o luto; e o passado, onde acompanhamos a relação de Lisey e Scott, seu marido. Dessa maneira, podemos conhecer a relação dos dois.
Isso torna o livro interessante, pois, de certa maneira também entramos no luto junto com Lisey e, por isso, podemos compreender o que ela está sentindo. Quando o maníaco começa a persegui-la, já estamos tão colados na personagem que nos sentimos como ela. Automaticamente, também nos vemos ameaçados.
Love – A História de Lisey é um livro imersivo, que deixa o leitor tão preso à sua protagonista que é impossível deixá-la sequer por um minuto.
Violência
A violência é um aspecto comum nos livros de King e esta obra vai bem fundo nesse aspecto. O maníaco que começa a perseguir Lisey é extremamente violento. O leitor está com Lisey em diversas cenas terríveis de torturas brutais, mas quando vamos nos embrenhando no livro, percebemos que a violência permeia toda a história.
Scott, o falecido marido de Lisey, já vem de uma família violenta. Conforme Lisey se lembra do seu passado com ele, ela também relembra detalhes sobre a família dele. Assim descobre como a violência não surgiu na sua vida apenas com o aparecimento do maníaco.
O amor machuca
Embora Love, como o próprio nome sugere, fale sobre uma história de amor, certamente não é uma história de amor comum. Lisey amava seu marido e era correspondida por ele. Assim como o maníaco também amava Scott, embora não houvesse retribuição. Quando Lisey se recusa a dar a atenção que o maníaco quer, ele se torna violento, porque não teve seu amor correspondido.
Pode-se dizer que a família de Scott também se amava, embora ela fosse cheia de membros violentos e perigosos. O próprio Scott amava seu pai, mas isso não impediu que ele se tornasse violento em relação ao homem e vice e versa. No caso dos personagens do livro, o amor também machuca e até mata.
Relações com outros livros
Como todos os livros de King, Love – A História de Lisey também faz menções a outras obras do autor. A ideia para escrever o livro, também surgiu logo depois que King sofreu o acidente que quase o matou, assim como Duma Key. O autor viu seu escritório depois de arrumado por sua esposa, Tabitha, e chegou à conclusão que era assim que o lugar ia ficar depois que ele morresse.
A obsessão que existe por parte do maníaco em relação a Scott, e que culmina em picos enormes de violência contra Lisey, lembra muito a relação entre Anne Wilkes e Paul Sheldon, de Misery – Louca Obsessão e de uma certa maneira, esse é um assunto que é próximo de King, já que ele mesmo é escritor e provavelmente já teve sua cota de fãs obcecados.
Leia mais sobre os livros de Stephen King
Em determinado momento do livro ficamos sabendo que, quando escrevia, Scott se transportava literalmente para outro mundo. Essa é uma metáfora interessante para o trabalho de um escritor, já que um autor de ficção depende de um “outro mundo” para escrever. Mas também é um fenômeno que acontece com bastante frequência com pessoas que foram vítimas de algum trauma ou abuso, como Scott. Esse mundo onde Scott se refugiava, de certa maneira, faz referência ao lugar onde se passa O Talismã. E porque não, a série A Torre Negra, que se passa inteiramente em mundos diversos.
Love – A História de Lisey ainda faz referências A Coisa, O Apanhador de Sonhos, Insônia, O Iluminado e em certo momento, descobrimos que a irmã de Lisey está lendo um livro de Mike Noonan, protagonista de Saco de Ossos.
Saco de Ossos, aliás, é quase um Love às avessas, já que nesse livro acompanhamos um homem lutando com o luto em relação a morte de sua mulher.
Love – A História de Lisey é uma história de amor, bem diferente das que estamos acostumados, que ainda traz diversos aspectos comuns às obras do autor.