M3GAN
Com premissa e execução ótimas, filme M3GAN entrega ao espectador exatamente aquilo que prometeu.
A parceria entre James Wan e a Blumhouse tem um ótimo fruto desde o princípio, com essa “versão feminina do Chucky”, mas relegar M3GAN a isso é simplório demais. O mundo de hoje já está repleto de robôs e inteligência artificial avançadíssimos, o que torna a existência de algo como essa boneca, que pode ser a melhor amiga do seu filho ou filha, algo bastante possível.
Por isso, o andamento da trama, dirigida pelo promissor Gerard Johnstone, parece tão crível quanto foi ELA, do Spike Jonze, dez anos atrás. Os detalhes do rosto da boneca, que ainda não atingem – propositalmente – o realismo de um humano, mas sim transitam pelo vale da estranheza, algo no meio do caminho, que quase convence, mas ainda não chegou lá, contribuem para também gerar incômodo nessa nova criatura do terror.
O roteiro de Akela Cooper e do próprio Wan (daquela parceria que deu super certo com o excelente Maligno), toma o cuidado de estabelecer as regras, tanto envolvendo a tecnologia da boneca, quanto de seus principais personagens. É quase como um episódio de Black Mirror em sua melhor fase. Allison Williams faz a antipática engenheira que trabalha para uma multinacional produtora de brinquedos (uma pessoa que maltrata a vizinha idosa e solitária, e pede o sacrifício de um cachorro, não pode ser boa pessoa), que tem de assumir a guarda da sobrinha e por isso acaba usando um protótipo para olhar a menina, já que ela não leva jeito para isso.
A criança, por sua vez, ganha corpo pela fofíssima Violet McGraw (que já tem seu histórico no terror, com passagens por A Maldição da Residência Hill, Doutor Sono e Na Companhia do Mal, entre outros), enquanto a boneca tem Amie Donald como dublê de corpo, e Jenna Davis como sua voz.
Tirando risos da plateia do começo ao fim (a minha sessão provou isso fervorosamente), com suas piadas sagazes e humor ácido (a indústria do espetáculo, as ironias sobre consumismo, a ridicularização aos adultos), os memes prontos (da dancinha de TikTok que vai superar aquela da Wandinha, às canções escolhidas para gerar um riso nervoso), até das contidas, mas brutais sequências de terror e assassinato, tudo em M3GAN é honestamente esperto, é poderosamente pop, sabendo divertir, refletir e assustar na medida certa, como todo terror de qualidade deveria ser.
E que venha mais.