Maus Momentos no Hotel Royale
Maus Momentos no Hotel Royale é uma obra-prima do cinema moderno que consegue desconstruir o mistério em ambiente fechado, ao mesmo tempo que entrega um entretenimento digno, apreensivo e empolgante, o que deixaria Tarantino e os irmãos Coen orgulhosos.
Drew Goddard tem um currículo vasto de acertos em sua carreira, que vão de episódios de Buffy e Lost, a criação do seriado do Demolidor ao disruptivo O Segredo da Cabana, com roteiros de Perdido em Marte, Cloverfield e Guerra Mundial Z.
Aqui ele constrói uma trama de mistério que envolve algumas pessoas hospedadas em um hotel, que tem por característica ficar bem no meio da fronteira entre a Califórnia e Nevada (e portanto, ter lados personalizados de lazer para cada estado), o que também amplia o debate que ele promove aqui, ainda mais quando situa a trama em 1969 e seu momento político.
Maus Momentos no Hotel Royale
Com personagens cativantes e uma história completamente improvável, esse neo-noir surpreende a cada minuto, pois nunca se sabe qual será a situação a seguir. E não se trata apenas de reviravolta por reviravolta, mas sim reviravoltas com funções narrativas ou escolhas de roteiro que revelam para seus personagens (e para o público), que há sempre algo por trás de tudo, e que ninguém é exatamente o que parece, ou o que diz ser.
Claramente se inspirando nos já citados irmãos Coen para direção e edição estilosa, Goddard realiza um filme agradável de se ver (mesmo quando existe violência em suas cenas) e não fica preso na premissa proposta, expandindo a ideia em prol de seus personagens. O diretor possui um talento notável para o uso de espaços e para os enquadramentos em locais restritos, como já havia provado antes em sua estreia na direção.
Com um elenco engajado, que é encabeçado pelo mestre Jeff Bridges e tem em seu coração Cynthia Erivo (que canta demais, demais e isso é muitíssimo bem aproveitado no filme), além de outros fortes nomes, como do sempre impagável Jon Hamm, das belíssimas Dakota Johnson e Cailee Spaeny (elas, ao lado de Erivo, contribuem para a pauta da misoginia, muito bem elaborada nessa narrativa), do talentoso Lewis Pullman e do queridinho do diretor, Chris Hemsworth, que aqui se diverte em um papel sádico, Maus Momentos no Hotel Royale é uma envolvente história sobre pessoas e seus segredos, que uma hora ou outra, vêm à tona, e mudam tudo para sempre.