Mortal Kombat (1995) – Sobrevivendo a regra dos 15 anos
Com sua adaptação sendo lançada apenas três anos após o primeiro jogo, essa divertidíssima versão de Mortal Kombat consegue muita autonomia ao vir da vertente das produções de artes-marciais que marcaram o final dos anos 1980, como “O Grande Dragão Branco” e mesclar com obras de fantasia daquele período, realizando aqui a melhor adaptação de um game para as telonas até então.
Paul W. S. Anderson, que depois faria — para o bem ou para o mal — a franquia “Resident Evil“, debuta aqui com muita inventividade juvenil, pegando os principais personagens e elementos do primeiro jogo, embalando em um fiapo de história e criando, assim, um clássico viciante dos anos 1990.
O diretor brinca com ângulos ousados de câmera e recicla outros da década anterior (especialmente do terror), à medida que dá muita energia para suas cenas de porradarias conduzidas por música eletrônica, execução essa que anos depois seria aperfeiçoada em “Matrix“.
Mortal Kombat
Robin Shou se encaixa como uma luva na figura do protagonista clássico de artes marciais, com seu Liu Kang contido em ira pela morte do irmão (inventado aqui para criar um arco emocional para o personagem), à medida que Cary-Hiroyuki Tagawa é o típico vilão de sorriso fácil e muita malignidade disfarçada, oriundo de produções menores oitentistas.
Enquanto que Linden Ashby se torna o melhor ator do elenco, com seu ego gigante e extremo carisma (que, aliás, ajudou a contribuir para melhor definir Johnny Cage para os games seguintes), as exuberantes Bridgette Wilson e Talisa Soto são incapazes de emular mais de uma expressão facial.
Anderson consegue agradar na escolha de modelos para papéis assim, mas peca ao esquecer que rostinho bonito nem sempre vai além disso. Christopher Lambert se diverte e joga toda sua canastrice para cima de Raiden.
Pode assistir sem medo
E mesmo que o filme conte com as divertidas participações dos ninjas coloridos, com dois deles sendo derrotados pelos próprios poderes (Scorpion é decapitado por um escudo pegando fogo de seu corpo, e Sub-Zero é empalado pelo gelo que havia disparado) — e não nos esqueçamos da eletrizante luta contra Reptile –, é o trabalho de maquiagem e animatrônico de Goro que realmente impressiona, com uma criatura fiel aos jogos e que consegue transmitir todo o pavor do campeão.
É claro que Mortal Kombat conta com inúmeros furos de roteiro, frases prontas breguíssimas e efeitos especiais pavorosos (esse, mais do que outros, fruto de seu tempo… mesmo de um tempo que já tinha visto em “Jurassic Park” um trunfo visual até os dias de hoje), entregando a produção de baixo orçamento que sempre foi.
Honesta, divertidíssima e que marcou uma geração (eu tinha o VHS, portanto foi o filme que mais assisti na adolescência, a ponto de decorar até os dias de hoje cada fala e sequência), sobrevivendo tranquilamente a memória afetiva para ver e rever até o fim dos tempos.