Nona – Se me molham, eu os queimo
Quando a vida real encontra a ficção
Nona (Josefina Ramirez) é uma senhora de sessenta e seis anos que vive isolada, mas que é especialista em coquetéis Molotov. Ela decide se vingar de um ex-amante e, obrigada a fugir, se muda para uma propriedade no Chile. Quando vários lugares perto da casa dela começam a pegar fogo inexplicavelmente, Nona se torna a principal suspeita.
A parte ficcional de Nona
O filme tem uma trama real e uma trama ficcional. A trama ficcional é toda a história que circunda Nona e sua mudança para o Chile após se vingar de seu ex-amante. O que acontece no Chile também é ficcional, mas essa história se conecta com a história real.
A ideia do filme é bem interessante e a trama ficcional tem bastante potencial. O resultado final, no entanto, é um pouco decepcionante. Embora o filme tenha uma trama, ela é lenta e demora muito tempo para desenvolver seus acontecimentos, deixando a plateia entediada.
A parte real
A trama real de Nona então, é um pouco mais interessante. A protagonista de fato é a avó da diretora, Camila José Donoso, que durante a ditadura militar chilena fez parte da resistência e era especialista em coquetéis Molotov.
A trama ficcional, que retrata Nona, interpretada por Josefina Ramirez, avó de Camila, tem aspectos que dizem respeito a vida real de Josefina, mas é impossível negar que a vida real de Josefina é bem mais interessante que a vida de Nona.
O filme tem cenas que mostram Nona conversando e respondendo perguntas de alguém que está atrás da câmera e que muito possivelmente é a neta. Existe também um ar documental, mas em momento nenhum fica claro que aquela é, pelo menos em parte, uma história real, o que prejudica o longa.
Aspectos técnicos de Nona: Se me Molham, eu os Queimo
O filme parte de uma história de vida extremamente interessante: a de Josefina Ramirez, ativista na ditadura chilena especialista em coquetéis Molotov. Não existe qualquer dúvida de que uma história como essa não só é instigante e digna de um filme, como também é muito relevante para os dias de hoje.
O que o longa faz, no entanto, é se inspirar na história de Josefina, avó da diretora, e misturar com uma ficção não tão boa. A protagonista é muito atrativa e Josefina Ramirez se sai bem no seu papel, mas gasta-se muito tempo com a história ficcional.
A produção tem muitos elementos de documentário, como as cenas em que Nona responde perguntas de alguém que está atrás da câmera e as filmagens caseiras que são apresentadas, mas ele não deixa claro que é um documentário ou sequer que aquela é uma história real. Para um telespectador mais desatento, toda a história de Nona pode soar ficcional.
Ficção e realidade
Uma vez que Nona: Se me Molham, eu os Queimo conta uma história real e tem aspectos de documentário, a única questão que permanece é por que não produzir um documentário sobre Josefina Ramirez – mesmo que fosse pelos olhos de sua neta, onde pudéssemos ver a dicotomia entre a revolucionária piromaníaca e a avó carinhosa – ao invés de um filme um tanto quanto confuso que mistura realidade e ficção?
O que acontece é que, enquanto o filme se preocupa contar uma história ficcional sobre a vingança de Nona, ele perde tempo para falar da vida real dessa mulher, que parece ser incrível.
O longa mistura imagens caseiras com imagens profissionais, mas é, de maneira geral, escuro. Existe, no entanto, um cuidado em mostrar várias cenas com fogo e fazer referências a coisas queimadas, como o filme queimado de algumas imagens caseiras e o comentário de Nona de que sua vista estava queimada.
A história ficcional tem uma certa sincronia com a história verdadeira, mas o filme é lento e tudo demora muito para acontecer, o que faz com que o público se canse.
A sensação que fica no final é que o longa perde uma incrível história real para falar de uma ficcional bem menos instigante.
Nona: Se me Molham, eu os Queimo estreia hoje, dia 18 de fevereiro.