Normal People – Muito mais do que uma história de amor
Em Normal People, Marianne Sheridan (Daisy Edgar-Jones) é uma adolescente rica e inteligente, mas que tem poucos amigos e que não se mistura com seus colegas de escola. Já Connell Waldron (Paul Mescal) é um adolescente de classe baixa, inteligente e popular.
Os dois quase não se falam na escola, mas a mãe de Connell, Lorraine (Sarah Greene) é empregada da família de Marianne, e os dois começam a conversar quando Connell vai buscar a mãe na casa de Marianne e, logo, Connell e Marianne engatam um relacionamento intenso, mas escondido.
Ao longo dos anos, Connell e Marianne entram e saem da vida um do outro, sem que consigam, de fato, esquecer um do outro. Normal People é inspirado no livro Pessoais Normais, de Sally Rooney.
Normal People – Connell e Marianne
A minissérie é focada basicamente em Connell e Marianne e os dois tem o mesmo tempo de tela. Quando começa, os dois estão no colegial e fica claro desde o começo que eles são muito diferentes.
Marianne é rica, mora com a mãe (Aislín McGuckin) e com o irmão (Frank Blake), vai bem na escola e tem certeza do que quer fazer no futuro. Entretanto, ela não tem nenhum amigo e as pessoas na escola acham que ela é metida.
Connell, por outro lado, vem de uma família pobre e vive só com sua mãe, que trabalha na casa de Marianne. Ele é inteligente, gosta muito de ler e é popular na escola. Os dois parecem não combinar, mas isso não impede que comecem um relacionamento às escondidas, já que Connell não quer que ninguém na escola saiba dos dois.
Marianne aceita os termos desse relacionamento porque, embora ela pareça arrogante, ela também tem a autoestima muito baixa e essa é uma questão que a persegue ao longo da série. Connell vem de um lar mais humilde e tem menos condições, mas tem uma mãe amorosa, que apoia suas decisões, diferentemente de Marianne, que tem muito dinheiro, mas não tem nenhum apoio dentro de casa.
Romance real
O fato é que a relação de Connell e Marianne acompanha os dois durante bastante tempo, e em muitos momentos, é a única constante na vida desses dois personagens. Se o romance adolescente escondido soa estranho e não dura muito, os dois se reencontram na faculdade e nem o fato de Marianne ter um namorado (Sebastian De Souza) impede que ela e Connell engatem o romance mais uma vez.
No entanto, Normal People não é um romance e muito menos uma comédia romântica. A série não poderia estar mais distante desses gêneros. A produção acompanha mesmo um romance, que certamente pode ser considerado um grande amor, mas o faz de forma realista.
Connell e Marianne começam como um casal de adolescentes, onde ela parece gostar mais dele a ponto de aceitar um relacionamento às escondidas, mas é claro que esse não é o relacionamento ideal. Quando os dois se reencontram na faculdade e ficam juntos de novo, mas mais uma vez o relacionamento tem problemas. E esse é o padrão que se segue durante boa parte da vida.
Normal People é extremamente realista, não existe muito prazer ou muita alegria em acompanhar o casal pois, embora o telespectador perceba que eles se amam, também fica claro que aquele relacionamento tem muitos problemas. Mas é justamente por isso que a série é real, ela não retrata relacionamentos idealizados, onde tudo é perfeito e onde tudo dá certo. Connell e Marianne são personagens reais, que se amam, mas que erram, pisam na bola e estragam tudo e a vida deles também é recheada de situações que afastam os dois.
Traumas
Normal People também é uma série sobre pessoas traumatizadas. Marianne parece vir de uma família bem estruturada e ter tudo o que precisa. Seu comportamento na escola é de quem sabe tudo e que tem certeza do que vai fazer no futuro. Ela, de fato, é muito inteligente e consegue o que quer, mas também não tem nenhum apoio da mãe e do irmão.
Já Connell é quase o oposto de Marianne. Ele vem de uma família mais pobre, vive com a mãe que o cria sozinha mas, diferentemente de Marianne, ele tem todo o apoio que precisa em casa. Quando os dois estão juntos, mesmo que às escondidas, Marianne consegue ter um pouco de apoio e consegue viver uma vida saudável. Porém, quando eles se separam, Marianne cai em armadilhas que arma para si mesma e das quais outras pessoas, eventualmente, se aproveitam.
Mas, ao longo da vida, não é só Marianne que tem problemas. Connell também tem momentos de altos e baixos e esse é outro aspecto que torna Normal People realista, afinal, os personagens são profundos e a sensação que se tem é que eles são pessoas reais. Também é importante ressaltar que, embora a série fale sobre um romance e dê bastante ênfase a esse aspecto, não é só sobre o romance. Seus protagonistas são muito mais do que um casalzinho apaixonado.
Aspectos técnicos de Normal People
Normal People é inspirada no romance de Sally Rooney e o roteiro é, sem dúvida nenhuma, o seu ponto forte. Uma coisa que chama atenção é a profundidade de seus personagens, pois nenhum deles é plano, nem os personagens secundários. Existe um cuidado ainda maior na criação dos protagonistas.
Acompanhamos a trama do ponto de vista tanto de Connell, quanto de Marianne. No começo a vida dos dois é mais misturada, porque eles estudam juntos e passam boa parte do tempo juntos, mas conforme os anos passam, eles começam a se separar, mas o telespectador ainda assiste à vida dos dois, mesmo que ela esteja separada.
A honestidade de Normal People também chama a atenção. A série é muito realista, em todos os seus aspectos e especialmente na maneira com que retrata a relação do casal. Os protagonistas são pessoas reais, que cometem erros e que depois tem que lidar com esses erros, e isso os aproxima muito de personagens da vida real.
Realismo de Normal People
Todos os aspectos da produção seguem essa ideia de realismo. Os atores são atraentes, mas ainda tem cara de gente normal, que poderíamos encontrar no nosso dia a dia. Eles não se vestem de maneira impecável e não vão à escola usando roupas de grife, como acontece em séries adolescentes americanas. Marianne é até representada como uma adolescente um pouco desleixada, que ainda não sabe muito bem o que cai melhor nela. Seus figurinos, assim como seus penteados, vão evoluindo com o tempo e ela vai ficando mais bonita, mais ou menos como acontece na vida real, conforme uma pessoa vai entendendo o que lhe cai bem.
Também é importante ressaltar que existem muitas cenas de sexo e que elas são bem explícitas, mas o grande diferencial é que não são apelativas ou sexualizadas. Fica claro que a série não quer explorar o corpo feminino – ou o masculino – embora apresente cenas de nudez completa. As cenas de sexo também são muito naturais e nada idealizadas, por isso parecem com experiências reais, o que deixa o telespectador ainda mais preso àquele casal.
Elenco
Normal People também tem grande ajuda das incríveis atuações de seu elenco e não só dos protagonistas. Fionn O’Shea, que interpreta um dos namorados de Marianne, está incrível e consegue deixar o público dividido sobre seu personagem, mas claro que o grande destaque é para os seus dois protagonistas.
Paul Mescal entrega um Connell com quem o público consegue se identificar, mas também desgostar e sentir pena em alguns momentos. Ele é uma ótima pessoa, mas pisa na bola muitas vezes e, mesmo assim, o telespectador ainda sente vontade de acompanhar sua história. Já Daisy Edgar-Jones soa como a escolha perfeita para o papel de Marianne. Ela tem a aparência delicada, mas se comporta como uma mulher agressiva e esnobe, que faz a gente compreender logo de cara todas as contradições que fazem parte da sua personalidade.
Com atuações de tirar o fôlego e uma produção extremamente realista, Normal People transforma uma história comum em algo extraordinário, com o qual é possível se identificar, sofrer e se apaixonar junto com seus protagonistas.