Normandia Nua, um choque de culturas
Em Mêle sur Sarthe, uma pequena aldeia da Normandia, os agricultores são gravemente afetados pela crise. Georges Balbuzard, o prefeito da cidade, não aceita a difícil situação e decide tentar de tudo para salvar seu povoado. Por obra do destino, Blake Newman, um grande fotógrafo conceitual, que tem por estilo deixar a multidão sem roupas para suas fotos, está passando pela região. Então Balbuzard vê nesse encontro a oportunidade de salvar sua aldeia. Mas resta saber se a população está disposta a ser uma Normandia Nua…
Há queda no preço da carne, o leite é vendido com prejuízo e ocorrem apreensões do equipamento agrícola. A população da aldeia está desesperada afinal. Como diz um personagem “Nós alimentamos a França por centenas de anos e agora estamos morrendo de fome!” Essa situação faz com que os camponeses realizem manifestações e bloqueios de estradas. Porém, não conseguem o destaque que necessitam na mídia.
Que tal tirar a roupa?
A ideia genial de tirar uma foto de todos os habitantes da aldeia pelados parte do fotógrafo americano que estava procurando o cenário ideal. Ele o encontra em Mêle sur Sarthe, no Champ Chollet, um campo disputado por dois fazendeiros há anos. Para o prefeito, essa foto é uma forma de atrair a atenção da mídia. Afinal, a nudez se tornou uma arma. Vide o streaking, o ato de correr nu em locais públicos como forma de protesto.
Em Normandia Nua, os personagens não falam com uma só voz, porém, todos têm em comum o fato de estarem desesperados, pois se sentem solitários, humilhados, com o sentimento de não serem nem vistos, nem ouvidos. Então, o prefeito Balbuzard passa o filme todo tentando convencer seu povo a tirar as roupas. Tarefa bem complicada em uma sociedade conservadora.
Normandia Nua
Por causa de um relatório sobre os riscos de cânceres causados pela carne vermelha, os moradores decidem reagir e posar para a tal foto. Assim, eles terão que percorrer todo o caminho para se livrar da vergonha e dos segredos que os sufocam. Há um personagem que diz o tempo todo que ele não tem nada a esconder e, por acaso, ele é o único que manteve um segredo que o sufoca e de que ele terá que se libertar. Posteriormente, quando todos concordam em ir em frente, eles encontraram uma espécie de inocência original, um impulso vital e feliz.
Inesperadamente, são os verdadeiros aldeões, as pessoas reais da vila que posaram para a foto. Todos eles venceram suas limitações! No final, o efeito da multidão obscurece a nudez. Com todos esses corpos juntos, não podemos ver nada! O íntimo desaparece em favor de uma imagem primitiva que transpassa liberdade e alegria. Eles têm corpos que estão longe dos chamados ‘padrões de beleza’. E isso é ótimo, pois faz com que o público possa se reconhecer naquelas pessoas tímidas que se recusavam a se despir.
E o que mais?
O filme é repleto de historinhas paralelas que dão um tom íntimo e divertido à obra. Começando pela família parisiense que resolveu mudar para o campo. A filha analisa os pais com raiva por terem mudado de Paris sem pedir sua opinião. Porém, o campo não está fazendo realmente bem para o pai empresário. Há também a história do rapaz que é filho do antigo fotógrafo da cidade. Ele está descobrindo coisas que não sabia sobre si mesmo. E ainda tem a ajuda de uma moça bem ousada e simpática que trabalha na fábrica de leite.
O prefeito é uma figura à parte. É quase como um pai com seus cidadãos, seus filhos turbulentos. Ele os critica, mas tem ternura por eles. Conhece cada um deles e é amigável e gentil quando pode e firme e convincente quando necessário. Não posso deixar de mencionar o açougueiro ciumento que se vê recebendo “ameaças” em forma de pichação em seu estabelecimento pedindo que sua esposa participe da foto. E os fazendeiros que brigam o tempo todo por conta do terreno mal dividido. Dizem que a documentação da área foi perdida quando a aldeia foi bombardeada.
Considerações finais
Assim, o elenco traz rostos recorrentes no cinema francês como François Cluzet, François-Xavier Demaison, Arthur Dupont, Patrick D’assumçao e Grégory Gadebois. Além dos próprios moradores da localidade, não-atores enfrentando o grande desafio de gravar um filme e… tirar a roupa!
Enfim, vale conferir esse filme francês bem humorado que toca constantemente nos contrastes, no cômico e no trágico, na modernidade e nas tradições. Normandia Nua é uma comédia bem criativa e capaz de entreter e libertar algumas mentes. Entra em cartaz no dia 31 de janeiro.