O Gabinete de Curiosidades de Guillermo Del Toro

O Gabinete de Curiosidades é uma coleção de contos de terror que contém oito histórias arrepiantes e cheias de pesadelos grotescos que foram selecionadas por Guillermo del Toro.

Leia agora um pouquinho sobre cada conto apresentado nessa primeira temporada de O Gabinete de Curiosidades de Guillermo Del Toro.

Lote 36

Guillermo Navarro dirige essa história escrita por Del Toro, que não assusta, mas funciona na proposta de apresentar o ranzinza e xenofóbico protagonista de Tim Blake Nelson (que está ótimo no papel), como um cara que adquire galpões em leilões, até se ver envolvido em uma situação macabra.

A moralidade apresentada no minuto final já havia sido telegrafada muito antes, o que tira um pouco a força de seu resultado, ainda que o resultado em si, dado a temática de horror proposta, seja mais do que honesto. Nada surpreendente, Lote 36 ganha na ambientação e em situar o que está por vir, abrindo as porteiras para O Gabinete de Curiosidades, essa antologia do mestre das bizarrices.

Ratos de Cemitério

Situado na Era Vitoriana, esse curta abraça mais o humor ácido de produções do gênero de décadas atrás, ainda que fique preso no mesmo objetivo do protagonista anterior: o homem que faz de tudo para pagar uma dívida com pessoas ruins.

Vicenzo Natali dirige David Hewlett, com seu carisma boboca, sendo ele um dono de cemitério que rouba de seus mortos, até ir de encontro com os ratos do local e duas criaturas imensas e abomináveis, que prestam tributos ao cinema de horror e também remetem bastante às maquiagens de Del Toro em Blade II e nos Hellboy. Bem divertido.

A Autópsia

Para desvendar o mistério de um cadáver encontrado na floresta, um xerife experiente pede a ajuda de um velho amigo, um médico legista, nesse conto extremamente gore, que parece uma mistura de Seven com O Enigma de Outro Mundo, mas sustentado no ritmo mais moroso e analítico de um CSI.

David Prior, de O Mensageiro do Último Dia, dirige esse média-metragem com roteiro do sempre presente David Goyer, com ótimas atuações dos veteranos F. Murray Abraham e Glynn Turman, grandes responsáveis por aumentar o nível dessa produção.

Por Fora

Ana Lily Amirpour, do marcante Garota Sombria Caminha pela Noite, navega entre o drama e a sátira nesse média-metragem que se une tematicamente ao anterior, A Autópsia, na exploração de horror corporal, utilizando esse subgênero para tecer uma crítica nada sutil à indústria da estética.

Extrapolando problemas reais trazidos por padrões de beleza inatingíveis e a sordidez de quem lucra com eles, o capítulo faz uma homenagem aos Filmes B enquanto acompanha a degradação física e psicológica de sua protagonista.

A diretora consegue tomadas intimistas bastante incríveis, com seus ângulos sutilmente distorcidos, e a humorista Kate Micucci faz o resto, com uma atuação que conversa muito bem com a premissa. Por Fora começa bem e termina de qualquer jeito, justamente por perder o rumo no terço final, com um roteiro que se atropela nas intenções. Mas ainda é uma experiência bastante perturbadoramente válida.

O Modelo de Pickman

Primeira adaptação de H.P. Lovecraft presente na antologia, esse média-metragem dirigido por Keith Thomas (de The Vigil e Chamas da Vingança) consegue ambientar bem o público no cenário e contexto de perturbação de um homem, que encontra o declínio em sua vida após o primeiro contato com as obras de arte assustadoras de um artista sem igual.

Ben Barnes e Crispin Glover estão bem em seus papéis, mas o ritmo não se sustenta e logo a produção cansa o espectador. Mas talvez, os fãs mais fissurados de Lovecraft possam tirar maior proveito dessa narrativa.

Sonhos na Casa da Bruxa

Outra adaptação de Lovecraft nessa antologia, dessa vez o média-metragem conta com a direção de Catherine Hardwicke (que fez principalmente Crepúsculo, mas também os ótimos Aos Treze e A Garota da Capa Vermelha), colocando o sempre esforçado Rupert Grint como um rapaz que nunca superou a morte precoce da irmã gêmea e por isso faz e passa por várias coisas para tentar tê-la de volta, indo parar justamente nessa “casa da bruxa”.

A história tem um caldeirão de ideias, como passagens para outros mundos, a entidade em si assombrando no terço final (que tem uma boa caracterização), os momentos góticos-espíritas etc, mas mesmo assim, é impossível não remeter aos últimos filmes de Harry Potter. Para o bem e para o mal.

A Inspeção

Panos Cosmatos realiza aqui um média-metragem que traduz sobre o horror cósmico tão bem quanto outros da coletânea, por mais que essa produção não tenha relação com as obras de Lovecraft. O diretor, que já havia chamado atenção pelo curioso Mandy, com Nicolas Cage, oferece uma proposta lenta e com muitos diálogos, que pode não funcionar no grande público, mas é honesta em suas entregas.

Colocando 4 convidados reclusos com um magnata excêntrico, A Inspeção envolve pelos diálogos lisérgicos, pela fotografia densa, pelos sintetizadores que dominam os efeitos sonoros e pela estética setentista, que enchem os olhos. Além do resultado monstruoso do final, é claro.

O Murmúrio

Fechando a coletânea de maneira exemplar, esse média dirigido pela ótima Jennifer Kent (do impactante O Babadook), consegue ser sensível e horripilante em igual medida, ao colocar um casal de luto em um ambiente isolado, onde eventos estranhos acontecem (e criam, de maneira inteligente, um paralelo com o drama vivido por eles).

Como a profissão da dupla envolve o trabalho de captação de som, essa é uma parte técnica muito bem desenvolvida durante a sessão, o que amplia os resultados, seja na beleza da natureza dos estorninhos, seja nos sussurros ou gritos que vêm da escuridão. Essie Davis (também de O Babadook) e Andrew Lincoln (The Walking Dead) tem química e conseguem transmitir a dinâmica frágil do casal. Você já viu essa história antes, mas não da maneira como é contada por aqui. Kent por sua vez, prova, novamente, que sabe assustar e emocionar, em um conto arrebatador.