O Homem Invisível – O poder da sugestão

Em um horror formidável

O diretor e roteirista Leigh Whannell (do ótimo “Upgrade”, de 2018), faz uma reimaginação do livro de H. G. Wells (de 1897), ao trazer a história para os dias de hoje, com temas atuais e muita criatividade. Ele coloca uma mulher vítima de um relacionamento abusivo, entrando em paranóia com a possibilidade de ainda estar convivendo com o ex, mesmo que não possa vê-lo, e as consequências disso, em O Homem Invisível.

Os acertos do filme começam com o bom uso da narrativa. Whannell coloca a câmera no lugar certo, em espaços vazios e fazendo uso inventivo do poder da sugestão e de momentos de silêncio para imprimir ali o melhor do horror atemporal. Nesse sentido, ele empresta elementos de “Atividade Paranormal” e os melhora, expandindo a ferramenta em cenas honestamente sufocantes, ora de alarme falso, ora de terror real, mas seus trunfos residem na criação de expectativas (sejam elas cumpridas ou não), afinal, o gênero surgiu e vem se mantendo até então justamente sustentado no que pode ou não ocorrer (mesmo que a maioria das produções atuais tenham se esquecido disso).

O homem invisível

O Homem Invisível

Para tanto, as tão malfadadas e mal usadas jumpscares não sofrem abuso nesse longa. Elas até existem, mas são pontuais e utilizadas da maneira correta (torço para que outros diretores aprendam agora como fazer), sem qualquer excesso. O foco do diretor e do enredo reside na força de sua protagonista, da ameaça invisível e das metáforas poderosas que quer realizar.

Um espectador desavisado pode, a princípio, acreditar em duas frentes: ou de que o trauma da mulher ganhou forma, mas ainda não passa de um suspense psicológico, onde nada é o que parece e, portanto, ela realmente está vivendo tudo e vendo o mal acontecer ao redor com seus entes queridos, mas não passa de sua imaginação pós-traumática (como em “O Operário” e “Amnésia”); ou de que uma força sobrenatural opera naquele ambiente, provavelmente o espírito do ex suicida (como uma versão sobrenatural de “Dormindo com o Inimigo”), mas logo descobrirá que essa obra-prima é, de fato, uma nova interpretação do clássico literário (que já teve uma adaptação em 1933 e outra em 2000, com “O Homem Sem Sombra”), só que melhor do que todos os citados, em um nível além.

Tem mais!

Inventivo em todas suas escolhas técnicas, o diretor ainda é apoiado pela brilhante trilha de Benjamin Wallfisch. Esta leva o público a imersão na trama, com sugestões enervantes de sensações diversas, tornando o primeiro e segundo ato um tipo de “panela de pressão”.

O elenco de apoio também está ótimo, a começar por Aldis Hodge, reagindo como uma pessoa normal reagiria na situação dele, Harriet Dyer trazendo conforto e sensatez ao clima, e também as participações curtas e eficazes de Storm Reid, Michael Dorman e Oliver Jackson-Cohen (do primoroso “A Maldição da Residência Hill”).

Mas o show é todo de Elisabeth Moss, uma das melhores atrizes de seu tempo. Ela consegue entregar medo, resiliência e ansiedade em camadas complexas, em uma atuação espetacular, que transita o tempo todo de acordo com as sequências brilhantes que são entregues ao longo de duas horas super bem desenvolvidas. Cada ação, uma consequência, cada gesto pensado para refletir lá na frente. Só por ela, o filme já valeria a sessão.

O homem invisível

Uau…

Mas O Homem Invisível é muito mais do que um habilidoso longa técnico com grandes interpretações. É também um tratado sobre relacionamentos abusivos, pessoas tóxicas e o que pode ocorrer com o psicológico das vítimas.

O filme não promove fetiches com situações desnecessárias de violência (que ainda caminham num campo gráfico que o gênero solicita), assim também como não entrega soluções sociais para o problema, permitindo ao escapismo inerente do entretenimento consciente que é, a vingança que todos podem saborear em seu desfecho).

Leigh Whannell consegue, contudo, realizar duas reviravoltas marcantes e fornecer um dos maiores filmes de horror já realizados na década. Uma aula de cinema e isso é visível.

O Homem Invisível

Nome Original: The Invisible Man
Direção: Leigh Whannell
Elenco: Elisabeth Moss, Oliver Jackson-Cohen, Harriet Dyer
Gênero: Horror, Mistério, Ficção Científica
Produtora: Universal Pictures
Distribuidora: Universal Pictures
Ano de Lançamento: 2020
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