O Menino Que Queria Ser Rei, uma releitura do Rei Arthur

Em O Menino Que Queria Ser Rei, Alex (Louis Serkis) é um garoto de 12 anos, que vive com a mãe (Denise Gough) em Londres. Na escola ele só tem um amigo, Bedders (Dean Chaumoo) e é atormentado por Lance (Tom Taylor) e Kaye (Rhianna Dorris).

Um dia, enquanto foge de seus perseguidores, Alex acaba em um lugar abandonado, onde encontra uma espada forjada em uma pedra. Para sua surpresa, ele consegue retirá-la sem dificuldades. O que ele não sabe é que a espada em questão é a própria Excalibur, a lendária espada do Rei Arthur.

A jornada do herói

É meio “chover no molhado” dizer que o filme é mais um exemplo da jornada do herói, uma vez que a própria lenda do Rei Arthur também o é. O Menino Que Queria Ser Rei usa bastante dessa técnica. Alex é um excluído que sofre bullying na escola, mas mesmo correndo o risco de se tornar um alvo cada vez mais fácil, ele se mantém fiel ao que ele é. Inclusive defende seu amigo Bedders, que é mais perseguido que ele.

A história de Alex ainda tem um acréscimo, uma vez que ele não conhece o próprio pai. Ele apenas sabe o que a mãe lhe contou. Como é comum em outras histórias que seguem a jornada do herói. Até a do próprio Arthur, que embora seja filho do rei, foi criado longe da corte.

Falando assim, pode fazer parecer que o filme é repetitivo, mas não é o caso. Essa jornada do herói passa despercebida pela maioria das pessoas. Afinal, see o filme pretende falar das lendas Arthurianas, não teria outro caminho.

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A diferença de O Menino Que Queria Ser Rei é o fato de que o próprio filme aponta isso. Em determinado momento do longa, assim que Alex percebe que a espada que ele encontrou de fato o escolheu, ele mesmo cita não só a teoria, mas também outros exemplos de personagens que se encaixam no caso.

Referências às lendas em O Menino Que Queria Ser Rei

O que não faltam no longa são referências às lendas Arthurianas. Além da base da história que usa a figura de Arthur, temos os nomes dos personagens. Alex seria Arthur. Bedders, o melhor amigo de Alex é uma referência a Bedivere, o cavaleiro que nas lendas é responsável por devolver Excalibur para a Dama do Lago. Já Kaye, a menina que persegue Alex seria Kay, irmão de criação de Arthur e que foi um dos primeiros cavaleiros da távola redonda. E Lance, o outro bully seria Lancelot, o cavaleiro mais famoso das lendas.

A personalidade de cada um deles também faz sentido dentro da história. Lance por exemplo, é orgulhoso e não é o mais fiel dos amigos, o que combina muito com a personalidade do Lancelot original, que manteve um caso de amor com a esposa de Arthur, Guinevere. Além disso, durante o filme vemos lojas que se chamam Pendragons e Camelots, referências ao sobrenome de batismo e ao reino de Arthur.

Merlim (Patrick Stewart e Angus Imrie) e Morgana (Rebecca Ferguson) são os únicos personagens que se mantém praticamente iguais aos da lenda. Merlim no entanto, foi um pouco modernizado. Para que ele consiga entrar em contato com Alex, ele toma a forma de um rapaz de 16 anos. Isso rende ao filme momentos divertidíssimos. A atuação de Angus Imrie, que interpreta essa versão de Merlim, é extremamente interessante.

Não é mais um filme de Rei Arthur

O fato de o filme fazer todas essas referências é uma ótima maneira de agradar o público que gosta e acompanha as lendas. É verdade que se tratando de lendas é muito difícil dizer qual é a versão “real”, mas existem versões mais famosas, que já são praticamente cânones. O filme respeita isso e as moderniza. Com a modernização, no entanto, existe uma chance maior de que o longa atraia mais gente para as lendas.

Também é importante ressaltar que O Menino Que Queria Ser Rei não é mais um filme sobre a figura do Rei Arthur, o que o cinema já tem de sobra, sem muitos resultados positivos. O filme usa a lenda como base. O espectador que não sabe nada sobre a lenda ou que sabe apenas coisas básicas, não vai sair do cinema sabendo tudo sobre o assunto. O máximo que ele vai aprender é um resumo da história que aparece no começo do filme em forma de uma animação muito bem feita.

Mas é justamente porque o filme não tenta ser mais um daqueles que promete contar a história do Rei Arthur, ou a verdade por trás da lenda ou ainda a origem do personagem, que ele se sai bem. Na teoria, o longa conta a história de Alex. Então não existe qualquer cobrança para que a trama do filme seja fiel a alguma coisa. Assim, os escritores tem mais liberdade.

“Voltarei quando a Bretanha precisar de mim”

Segundo as lendas Arthurianas, essa teria sido a última frase dita por Arthur antes de morrer. Algumas pessoas ainda acreditam que ele um dia vai voltar. O Menino Que Queria Ser Rei se baseia basicamente nisso. Merlim, logo no começo do filme, fala que o mundo anda intolerante, e que tudo que foi aprendido ao longo dos anos, parece ter sido esquecido. Portanto, esse seria o cenário ideal para a volta de Arthur, um rei que justamente por ter sido criado como plebeu sabe como governar, não é tirano e é capaz de unir povos em guerra.

O mago também fala com bastante frequência do código do cavaleiro forjado por Arthur, que prega a gentileza e a compreensão entre as pessoas. Outros aspectos muito comuns nas lendas de Arthur também aparecem com bastante força no filme. A humildade; a amizade; a ideia de que ninguém é melhor que ninguém, nem mesmo o rei; a ideia de que a inteligência é muito mais importante do que a força e a honra entre os cavaleiros. O filme é muito competente em demonstrar os preceitos que as lendas ensinam.

Nesse sentido, o filme é extremamente atual. Fala de conflitos políticos, sociais, econômicos e até ecológicos dos dias de hoje. Além disso, mostra ao público como Arthur reagiria em frente a esses problemas. E como ele de fato o fez na sua época.

Aspectos técnicos de O Menino Que Queria Ser Rei

O filme usa alguns efeitos digitais que se resumem aos momentos em que vemos Morgana e o seu exército. Eles são bem feitos, mas não são a coisa mais importante do filme. Os figurinos também estão dentro do seu contexto, assim como os cenários. Temos cenas especialmente bonitas nos momentos em que Alex e os amigos se encontram na Cornualha, o suposto local de nascimento de Arthur.

O que chama a atenção mesmo em é a trama, que é interessante e as atuações. As crianças desempenham o seu papel muito bem e é bem fácil se apegar a elas, especialmente Alex e Bedders. A atuação de Angus Imrie, o jovem Merlim é divertida e diferente da ideia que todos nós fazemos do Merlim. Boa parte dos momentos divertidos do filme são protagonizados por ele. Já a atuação do veterano Patrick Stewart, que interpreta Merlim na sua forma mais conhecida, é ótima como sempre.

O Menino Que Queria Ser Rei usa a lenda de Arthur como pano de fundo para as aventuras de outro garoto. O filme é capaz de divertir a plateia e agradar os fãs e os futuros fãs. O filme entra em cartaz no dia 31 de janeiro.