O Que Ficou Para Trás – Bem original
Filme busca aceitação social e explora outras vertentes do terror
A trama de O Que Ficou Para Trás segue um casal que foge do Sudão do Sul e passa a viver no Reino Unido. Saindo de um centro de detenção para uma casa aos pedaços repleta de restrições feitas pelo governo, eles terão de se adaptar não só a nova vida, como também a coisas que se escondem entre as paredes do lar.
Em seu longa de estreia, Remi Weekes (aliado ao roteiro pensado por Felicity Evans e Toby Venables) compõe uma história que envolve a crise dos refugiados, eventos de trauma e busca de asilo com toques de terror psicológico, emprestando elementos do folclore africano, o que contribui para oferecer novas características para esse tipo de “filme de casa mal assombrada” (que traz sim os típicos sustos fáceis, mas não depende deles), fazendo bom uso de efeitos práticos, da luminosidade (em uma bela harmonia da fotografia e da temática) e da abstração, que muitas vezes flerta com o realismo mágico nos devaneios do marido e da esposa durante certas situações, inclusive as de flashback.
O Que Ficou Para Trás
O suspense construído é eficiente em certa medida, assim como a sensação de estranheza que a comunidade causa, principalmente na esposa, que em dado momento parece caminhar por um labirinto. Sope Dirisu e Wunmi Mosaku estão ótimos; ele, como o homem esperançoso por uma nova vida, que não pretende abrir mão da oportunidade; ela, como a mulher presa ao passado, que está disposta a ceder, mas não teme as assombrações pois, de fato, não são piores do que a guerra civil que viveu em sua tribo. Matt Smith tem uma participação especial, pontuando a indiferença dos nativos com os refugiados.
Weekes até acerta na construção do terror e de prender a atenção nas surpresas da casa, ora com seus fantasmas, ora com seus malucos, mas a base do texto o impede de desviar de inúmeros clichês, que antecipam as soluções horas antes do filme acabar. O que, é claro, não diminui seus atributos.
Afinal, O Que Ficou Para Trás consegue aliar comentário social com um horror realmente original, que discursa sobre xenofobia e a força da memória, onde a resolução reside na união do casal. E definitivamente não tem feiticeiro ou espírito que assuste mais do que os horrores de uma guerra ou da sobrevivência em um bote durante uma tempestade no oceano.