O Último Chefão, livro de Mario Puzo
Mais um romance sobre a máfia
Escrito por Mario Puzo, O Último Chefão foi publicado em 1996 e faz parte da Trilogia da Máfia.
Domenico Clericuzio é o chefe de uma família da máfia, que está prestes a se aposentar. Ele quer legalizar os negócios da família. Para isso ele precisa da ajuda de seu neto, Dante e de seu sobrinho neto, Cross. No entanto, quando Cross se recusa a participar do assassinato de um antigo amigo, Dante acaba tomando parte no plano, o que pode custar caro para a família.
A máfia italiana
O Último Chefão é o segundo livro que integra a Trilogia da Máfia (os outros dois são O Poderoso Chefão, de 1969 e Omertá, de 2000). Esta que fala de um assunto sobre o qual Puzo é quase um especialista. Uma vez que O Poderoso Chefão, seu romance mais famoso, é quase um livro guia sobre a máfia italiana. A maioria das referências que nós temos da máfia vieram desse livro (e dos filmes).
O primeiro livro era livremente inspirado em famílias da máfia que Puzo de fato conheceu. Já a história de O Último Chefão é fictícia. Embora advenha da experiência do próprio Puzo com as pessoas da indústria do cinema e com Las Vegas.
Nesse aspecto, o autor diz que embora ele tenha escrito sobre mafiosos por boa parte da sua vida, os verdadeiros vilões são, na realidade, os que estão no cinema.
A máfia mais modernizada
O interessante de O Último Chefão é que ele fala do mesmo assunto que O Poderoso Chefão, mas de uma maneira mais moderna e portanto, mais perto do público atual. Se no primeiro livro a família Corleone só chega a Las Vegas no meio da obra (que corresponde a história do segundo filme), nesse livro, os Clericuzio já mandam na cidade há um tempo. É mais fácil para o público de hoje se identificar com personagens que vivem nos anos 90, do que com personagens que vivem no começo da década de 70.
A inclusão de personagens que fazem parte da indústria cinematográfica também é interessante. Mas O Poderoso Chefão já fala sobre isso. O Último Chefão vai mais fundo no assunto, deixando claro como que a indústria realmente funciona. Além disso, o interesse romântico de Cross, Athena Aquitane, é uma atriz que é considerada a mulher mais bonita do mundo.
Temas recorrentes
Além da máfia, que é um assunto que permeia e liga os dois livros, O Último Chefão tem outros temas que são recorrentes nas obras de Puzo. Por exemplo, a ideia de tornar a família, construída e enriquecida no crime, legal. Em O Poderoso Chefão, Vito Corleone vem tentando isso há um tempo. Em um dos diálogos mais bonitos da obra ele diz para seu filho Michael que àquela altura já deveria existir um senador ou um governador Corleone.
Essa também é a principal preocupação de Domenico, o chefe da família Clericuzio, que construiu sua fortuna na máfia, mas que deseja uma vida diferente para o neto, para o sobrinho neto e consequentemente, para seus futuros descendentes. Essa ideia mostra que embora os membros mais antigos da família tenham recorrido a meios ilegais e a crimes para vencerem na vida, só o fizeram porque assim foi necessário. Mas que eles não desejam a mesma vida para seus filhos e netos. Eles entraram naquela vida para que seus descendentes pudessem ter uma vida melhor.
Mas a realização desse sonho não é tão simples em nenhuma das tramas. Em O Poderoso Chefão, Michael, o filho mais novo de Vito acaba tendo que assumir o comando da família. Em O Último Chefão, Cross e mais tarde, Dante, é designado para cometer um último crime em nome da família.
O autor também fala sobre violência doméstica, uma vez que Athena é perseguida por seu ex-marido inconformado com a separação. Em determinado momento do livro ele ainda a ataca com um líquido, que ele diz ser ácido. Em O Poderoso Chefão, Connie, a única filha de Vito também sofre agressões por parte do marido. Também é interessante notar que embora Puzo tenha nascido em uma época onde a agressão a mulher era mais relativizada (quando não totalmente), o autor não parece aceitar esse comportamento. Já que esse assunto aparece nos seus livros de maneira extremamente negativa, como claro, deveria ser sempre.
Cross e Dante
Cross é o personagem principal de O Último Chefão. Ele é descrito como um homem gentil e educado. Ou seja, o exato oposto do que a gente imagina que um mafioso seja. Já Dante, seu primo, é violento e mal-educado, embora ele consiga disfarçar seu caráter relativamente bem, ele se encaixa perfeitamente no estereótipo de mafioso.
Cross e Dante são opostos entre si e é por isso que logo no começo, o leitor percebe quem é o mocinho da história. Mas isso também é uma questão um tanto curiosa, afinal, estamos falando sobre mafiosos, criminosos que matam pessoas. Portanto, é meio complexo dizer que qualquer um dos personagens em O Último Chefão seja um mocinho.
O livro fica ainda mais dúbio quando Cross, o suposto mocinho do livro, é designado a cometer o último crime da família. Claro que o personagem trava uma enorme batalha interna, entre sua família e seus princípios. O serviço sobra para Dante, que está mais do que disposto a fazê-lo.
Mas essa mudança de planos pode custar caro para todos os personagens do livro, dando a entender que embora ninguém seja bonzinho nessa história, Dante é definitivamente mal. Ele não só mata de acordo com as leis da máfia ou de acordo com os interesses da família. Ele está disposto a se voltar contra a sua própria família.
Adaptação de O Último Chefão
O Último Chefão foi transformado em minissérie em 1997. No elenco estão Danny Aiello como Domenico, Daryl Hannah como Athena, Jason Gedrick como Cross e Rory Cochrane como Dante. Em 1998, a série ganhou uma continuação, que não é inspirada no livro.
O Último Chefão nos apresenta Mario Puzo falando sobre um assunto pelo qual é famoso. A leitura é divertida e a escrita é, naturalmente, maravilhosa. O livro é uma ótima dica para os fãs do clássico que desejam ler mais sobre a máfia pelos olhos de Puzo.