Os Produtores, um musical nonsense
Em Os Produtores, Max Bialystock (Nathan Lane) é um produtor teatral que acabou de lançar um fracasso comercial, inspirado em Hamlet. Para arrumar suas finanças ele contrata o contador Leo Bloom (Matthew Broderick), que logo surge com um plano para que eles arrumem dinheiro: produzir uma peça que seja um fracasso garantido.
Assim, nenhum dos patrocinadores cobraria o lucro, permitindo com que Max e Leo embolsem tudo. Os dois então escolhem o musical Primavera Para Hitler, escrito por Franz Liebkind (Will Ferrell). O que eles não imaginavam é que a peça fosse acabar sendo um sucesso.
A Origem de Os Produtores
Os Produtores é um filme de 2005, dirigido por Susan Stroman e escrito por Mel Brooks e Thomas Meehan. Mas a história por trás do musical é um pouco mais longínqua.
Originalmente, Os Produtores é um filme de 1967, que aqui no Brasil ganhou o nome de Primavera Para Hitler, com Zero Mostel e Gene Wilder e escrito pelo próprio Mel Brooks. Mas em 2001, o filme foi transformado em um musical para a Broadway, mais uma vez por Brooks. O filme de 2005, por sua vez, é inspirado no musical da Broadway.
O que chama atenção é o fato de Mel Brooks estar envolvido em todas as adaptações e processos da obra. No caso do musical da Broadway, por exemplo, ele não só o adaptou, como também compôs e escreveu as músicas.
Um musical sobre musicais
Existem diversos musicais que falam sobre a indústria, como por exemplo Cantando na Chuva, que aborda a transição do cinema mudo para o falado e All That Jazz- O Show Deve Continuar, que acompanha um coreógrafo. Mas Os Produtores é um musical que fala especificamente sobre um musical da Broadway e todos os processos envolvidos.
Os Produtores coloca o espectador dentro da produção de um musical. Claro que tudo com muito humor, mas não por isso completamente irrealista. Max e Leo fazem a seleção da peça que pretendem produzir, depois levantam dinheiro para tal, fazem teste de elenco e, finalmente, apresentam o seu trabalho.
O filme lança uma luz sobre uma profissão que muitas pessoas, especialmente as que não estão na indústria, não compreendem totalmente. O filme também acompanha o momento em que o musical finalmente entra em cartaz, que é sem dúvida, uma etapa de ansiedade e medo. Embora no caso de Max e Leo, seja no sentido contrário.
Comédia musical
O que torna Os Produtores tão diferentes é justamente o fato de ser uma comédia. O filme poderia facilmente se tornar sério e também mais parado se fosse a intenção do roteirista demonstrar com total veracidade a produção de uma peça musical. Mas não é o caso. O longa, na verdade, quer tirar sarro dos produtores, que são conhecidos por se importarem apenas com os lucros das peças.
Max é representado como um produtor desesperado por dinheiro, que topa até produzir um fracasso e manchar seu nome, desde que isso lhe renda algo. Já Leo aparece como um homem mais honesto e controlado, mas que se mostra disposto a embarcar na peça junto com Max.
O que Max e Leo fazem, por sua vez, é o exato oposto do que um produtor de verdade faria. Eles escolhem o roteiro que, aos olhos deles, é o pior possível. Então produzem a peça da pior maneira possível. E ainda por cima escolhem um elenco que também não é grande coisa. Dessa maneira, o filme tira sarro de toda uma indústria, ao mesmo tempo que fala sobre ela.
Claro que o filme tem defeitos. Como exemplo temos a piada com a palavra “gay”, que pode significar tanto uma pessoa que sente atração por pessoas do mesmo sexo, quanto “alegre”. Uma piada que já está completamente batida, principalmente porque ninguém mais usa a palavra “gay” no sentido de “alegre”. Em diversos momentos o filme também reforça o estereótipo da loira burra, através da personagem Ulla (Uma Thurman).
Aspectos técnicos
Os Produtores é muito competente em retratar os bastidores de uma produção musical. Mesmo que a peça em questão seja pensada para ser um fracasso. Esse aspecto, aliás, é uma coisa que aparece no roteiro, mas que não se reflete na produção, que é muito suntuosa e digna de um grande musical.
O elenco também é interessante e composto por atores que conseguem atuar bem tanto em dramas, quanto em comédias, como Matthew Broderick e Uma Thurman. Will Ferrell, que é majoritariamente um comediante, também aparece no filme no papel do roteirista de Primavera Para Hitler.
O maior destaque do elenco é Nathan Lane, que também varia muito bem entre a comédia e o drama. Sua carreira é extensa no teatro musical. Ele e Broderick, inclusive interpretam no filme os mesmos personagens que interpretaram na montagem original da Broadway.
As músicas usadas no filme são as mesmas do musical de 2001, que foram compostas por Brooks. Entre elas estão Opening Night, I Wanna Be a Producer, Keep It Gay, That Face, Betrayed e Prisoners of Love.
Os Produtores no teatro
A produção original ficou em cartaz de 2001 a 2007. Foi indicada para 15 Tonys e ganhou 12, incluindo o de melhor musical. Depois a peça fez um tour pelos Estados Unidos, durante três anos.
Os Produtores chegou em West End em 2004 e ficou em cartaz até 2007. Depois disso, foi montado em diversos lugares como Berlin, Sydney, Tel Aviv, Buenos Aires, Tokyo, Caracas, Moscou e Manila.
No Brasil, Os Produtores teve uma montagem em 2008, com Miguel Falabella, Vladimir Britcha e Juliana Paes no elenco. Depois teve montagens no Rio de Janeiro e em São Paulo, em 2018 com Miguel Falabella, Danielle Winits e Marco Luque.
Os Produtores é um musical sobre o teatro musical, mas que com um humor quase nonsense, consegue transformar situações corriqueiras em momentos engraçados e absurdos.