Paris, 13° Distrito
Um retrato da juventude atual
Émilie (Lucie Zhang) vive em Paris, no 13º distrito e precisa de uma colega de quarto. Ela então marca uma entrevista com Camille (Makita Samba), acreditando que vai receber uma jovem, mas se surpreende em ver que ele é um professor de literatura que quer morar perto da faculdade. Os dois começam um relacionamento casual e ela aceita que ele viva no apartamento.
Logo ela começa a se apaixonar por ele, mas ele deseja manter tudo casual e as coisas pioram quando ele conhece Nora (Noémie Merlant), uma universitária de trinta e três anos que larga a faculdade depois que um boato de que ela trabalha como camgirl estoura entre seus colegas, por quem Camille se encanta.
Três histórias diferentes
É impossível cravar quem exatamente é o protagonista de Paris, 13° Distrito, porque acompanhamos pelo menos três histórias diferentes ao longo do filme. Começamos seguindo Émilie, uma jovem que trabalha com telemarketing e vive no apartamento da avó, mas logo somos apresentados a Camille, um jovem professor de literatura que quer morar perto da faculdade. Ainda temos acesso à vida de Nora, uma universitária que acabou de retornar à faculdade, e que a princípio não tem nenhuma relação com Émilie e Camille. A personagem que menos ganha destaque é Amber (Jehnny Beth), a camgirl que se parece com Nora e que aqui quase sempre aparece na tela do computador.
O filme se aprofunda um pouco mais nas vidas desses personagens, e ainda que não possa se dedicar totalmente a cada um deles, eles ganham bastante tempo de tela e têm vários de seus problemas apresentados. Émilie, por exemplo, está insatisfeita com seu emprego e não consegue lidar com a doença da avó (Xing Xing Cheng); já Camille não consegue se comprometer em nenhum relacionamento e lida com a gagueira de sua irmã adolescente, Eponine (Camille Léon-Fucien). Nora, por sua vez, tem um passado misterioso e acabou de retornar à faculdade de direito, mas se vê completamente perdida entre os alunos mais jovens e a gota d’água se dá quando ela é confundida com uma camgirl e assediada constantemente.
As três histórias vão se relacionando aos poucos, Émilie e Camille se conhecem quando ele pleiteia uma vaga no apartamento dela, e Nora procura Amber depois que ela é confundida e as duas acabam virando amigas, mas em determinado momento de Paris, 13° Distrito esses personagens se conectam em maior ou menor medida.
A vida dos jovens
No entanto, a intenção do filme parece ser retratar a vida do jovem adulto e embora ele foque nesses três personagens, que tem idades variadas, ele pode falar com qualquer pessoa vivendo em qualquer cidade grande.
Para além das questões pessoais de Émilie, Camille, Nora e Amber, Paris, 13° Distrito também fala de assuntos comuns, como a dificuldade de se conseguir um emprego, a procura por relações que sejam estáveis e as dúvidas desse período.
Mais do que isso, a produção é um retrato da geração atual, e as relações que esses personagens têm mostram isso, ninguém parece querer se comprometer totalmente, ainda que não consiga evitar que isso aconteça, boa parte das relações que aparecem aqui são casuais e não tem qualquer intenção de ser algo mais. O filme não tem nenhum personagem assumidamente LGBTQIA+, mas ele dá a entender em diversos momentos que essas pessoas não definem suas orientações sexuais e se relacionam com outras pessoas independentemente de seus gêneros, o que é muito atual.
Aspectos técnicos de Paris, 13° Distrito
O que mais chama a atenção aqui é o fato do filme ser quase inteiramente em preto e branco, as únicas cenas coloridas são as de Amber quando ela está trabalhando como camgirl. Isso torna a fotografia do longa mais bonita, porque o contraste de cores no preto e branco chamam bastante atenção. O filme tem cenas de sexo bem realistas, que ficam lindas quando filmadas sem cores.
O filme ganha bastante também com as atuações, tanto Lucie Zhang, quanto Noémie Merlant se saem muito bem nos seus papéis.
A ideia de Paris, 13° Distrito parece ser querer mostrar o dia a dia desses personagens, jovens adultos tentando entender a si próprios e aos outros, através de suas relações muitas vezes confusas, então, em muitos sentidos, o que temos é um retrato de vidas comuns, o que poderia deixar o filme parado, no entanto, isso não acontece. Não existe nenhum plot twist ou acontecimento que dê um ponto de partida para essa história, mas ainda é interessante acompanhar essas vidas comuns.
Talvez seja a maneira delicada com que essas histórias são contadas ou os pequenos detalhes inusitados, ou ainda a maneira realista com que ele narra essas relações românticas nunca completamente definidas que prendem o telespectador. De qualquer maneira, o resultado é positivo.
Paris, 13° Distrito tem uma trama que poderia facilmente se encaixar em uma comédia romântica, mas prefere mostrar uma versão mais realista da juventude e ganha justamente quando mostra personagens que poderiam existir e com os quais é possível se reconhecer. O longa chega aos cinemas no dia 28 de abril.