Por Que as Mulheres Matam (2ª Temporada)
Várias histórias pelo preço de uma
Alma Ficcot (Allison Tolman) é uma pacata dona de casa que sonha em fazer parte do clube de jardinagem da sua cidade. Quando uma das integrantes morre, Alma vê uma chance de finalmente concorrer. Porém, logo que ela conhece as outras integrantes e é menosprezada pela presidente, Rita (Lana Parrilla), ela percebe que o trabalho não vai ser tão fácil assim.
Alma decide então que vai se reinventar e que está disposta a tudo para entrar no clube de jardinagem.
Diferentemente da primeira temporada, que explorava três histórias diferentes em três décadas diferentes, a segunda temporada de Por Que as Mulheres Matam, se foca em apenas uma história com muitos personagens. A trama se passa em 1949 e tem como protagonistas duas mulheres que são, aparentemente, muito discrepantes: Alma e Rita.
Alma e Rita
Alma é uma típica dona de casa de classe média, completamente fora dos padrões estéticos. Ela é casada há muito tempo com Bertram (Nick Frost), um veterinário bonachão, e tem uma filha, Dee (B.K. Cannon). Tudo que Alma mais ama é cuidar do seu jardim. Mas ela também é uma mulher que se sentiu menosprezada a vida inteira e que acha que nunca pôde escolher os caminhos que sua jornada tomou. Ela chegou onde está simplesmente com as migalhas que lhe foram dadas.
Já Rita é completamente diferente. Ela é uma mulher rica e elegante que está sempre arrumada e cheia de joias, é casada com um homem (Daniel Zacapa) muito rico e também muito mais velho que ela, que Rita espera que morra logo e lhe deixe uma grande fortuna. Ela mantém um caso com Scooter (Matthew Daddario), um jovem e não muito talentoso aspirante a ator.
Todos os conflitos da temporada são resultado do encontro entre essas duas mulheres.
Muitos personagens e várias histórias
A segunda temporada não tem histórias diversas que se passam em épocas diferentes, embora a série volte no tempo em alguns momentos para mostrar a juventude de Alma (nessa fase interpretada por Rachel Redleaf) e de Rita. A espinha dorsal é uma trama que apresenta algumas histórias paralelas, de outros personagens, que complementam as vidas de Alma e Rita.
Rita é casada com Carlo, um homem rico e bem mais velho, que a acusa de ter um amante. Rita nega, mas realmente está tendo um caso com um rapaz bem jovem, que ela praticamente mantém financeiramente. Como as histórias de Rita e Carlo são um espelho uma da outra, Rita também desconfia que Scooter, seu amante, está tendo um caso com outra mulher e contrata o detetive Vern (Jordane Christie) para seguir Scooter. Ao mesmo tempo, ela também tem que lidar com Catherine (Veronica Falcón), a filha de Carlo, que aparece na mansão dos dois disposta a ficar de olho na esposa do pai.
Leia aqui a resenha sobre a primeira temporada
Vern logo descobre que Scooter tem mesmo um caso com Dee, a filha de Alma, que vai até a casa dele vestida como uma faxineira mais velha, para não chamar a atenção de ninguém. Vern não acha que a situação em que Scooter coloca Dee é justa, e acaba se afeiçoando da garota, mesmo percebendo que ela aceita o caso com Scooter porque é uma garota gordinha, que sempre se sentiu inferior às outras e agora se alegra só com o pouco que recebe de um rapaz jovem e bonito que parece estar genuinamente interessado nela.
Como todas essas histórias estão, de uma maneira ou de outra, interligadas, parece natural imaginar que uma hora todas essas vidas vão colidir e que talvez o resultado disso não seja o melhor possível. Por Que as Mulheres Matam se esforça não só nas tramas de suas duas protagonistas, mas também nas tramas dos personagens coadjuvantes, que muitas vezes têm histórias até mais interessantes do que as de Alma e Rita e isso faz a diferença, já que o telespectador rapidamente se vê preso não só às duas protagonistas da série, mas também a todos esses personagens, em maior ou menor medida.
Mocinhas e vilãs
Por Que as Mulheres Matam também trabalha muito com conceitos muito clássicos da ficção, como a ideia de mocinha e vilã e depois os deturpa de maneira bem interessante. Quando a série começa não existe qualquer dúvida de que a mocinha da trama é Alma, mesmo porque ela é a primeira personagem a quem somos apresentados. Alma é gentil, dedicada e simpática.
Quando conhecemos Rita, que logo na primeira cena em que aparece desmerece Alma pela sua classe social, aparência e pela maneira que ela se veste, parece natural imaginar que Rita é a vilã dessa temporada. Seu comportamento maldoso em relação ao marido e sua torcida para que ele morra logo aumentam essa sensação.
No entanto, com o tempo descobrimos que não é bem assim. Alma quer entrar no clube de jardinagem mais do que tudo e está disposta a fazer o inimaginável para tal. Quando ela descobre que seu marido, Bertram, é, na verdade, um serial killer que mata pessoas doentes e, de maneira atrapalhada e não intencional se envolve em um assassinato, Alma parece finalmente passar por cima da barreira que fazia dela uma boa pessoa e a série vai aos poucos revelando a verdadeira personalidade dela.
Altos e baixos
Enquanto a vida de Alma melhora, a de Rita só piora, em uma série de acontecimentos terríveis. Rita se vê cada vez mais derrotada e rapidamente começa a caber de maneira certeira na vaga de mocinha, especialmente quando pensamos que muito da sua tragédia tem relação com as ações de Alma, e quando tomamos conhecimento do passado sofrido de Rita através de um flashback.
Por Que as Mulheres Matam faz uma mudança bem interessante e bem sucedida de suas protagonistas, mas isso não é porque a série trabalha com maniqueísmos óbvios, mas porque retrata personagens realistas, que mudam de opinião e que fazem coisas para conseguir o que querem, de acordo com seus interesses, mesmo que isso prejudique outras pessoas.
Aspectos técnicos de Por Que as Mulheres Matam
A segunda temporada desta série prefere eleger apenas uma trama principal e se dedicar com afinco aos seus personagens coadjuvantes e, de certa maneira, funciona. A série é interessante justamente porque vende várias histórias pelo preço de uma. Essa temporada não vai e volta no tempo, como a anterior, mas tem tramas que se conectam e que prendem o telespectador.
O que é especificamente instigante nessa temporada é a maneira com que a série constrói suas protagonistas, para depois modificá-las completamente. É inesperado, mas também muito realista. Outro ponto alto é o fato de que, mesmo tratando de temas sérios e, em muitos aspectos, assustadores, a série é muito engraçada e tem uma espécie de humor negro que deixa os assuntos tratados mais leves.
Por Que as Mulheres Matam se passa nos anos 1940 e tem um figurino e uma ambientação impecável. As roupas são lindas e pendem sempre para os tons fortes, que aumentam a sensação de que estamos assistindo uma série retrô, que retrata outras décadas, mas foi produzida nos dias de hoje. Alma e Dee, que são mulheres de classe média e que não estão dentro dos padrões, usam roupas mais simples e que em muitos momentos, as escondem.
Alma, no entanto, começa a mudar assim que resolve se reinventar. Suas roupas vão ficando cada vez mais chiques e requintadas. Rita faz o caminho inverso, no começo da temporada ela é extremamente elegante e sensual, está sempre bem maquiada e com o cabelo perfeito mas, quando cai em desgraça, suas roupas se tornam mais simples, seu cabelo está sempre sujo e ela já não usa mais maquiagem. Como na trama, Alma e Rita trocam de lugar.
O elenco
A série tem também boas atuações, especialmente de suas duas protagonistas. Allison Tolman faz a passagem de sua personagem com perfeição e, ainda assim, com muito humor e Lana Parrilla não só parece a escolha ideal para o papel de Rita, como também se sai muito bem. Nick Frost, que interpreta o marido de Alma e B.K. Cannon, que entrega uma Dee de quem é muito fácil gostar, são outros destaques da segunda temporada.
A segunda temporada de Por Que as Mulheres Matam não é tão boa quanto a primeira, mas ainda é uma série acima da média, que se preocupa não só com sua estética, mas também com seu roteiro e que usa do humor para falar de temas pesados e assustadores.