Rede de Ódio – Um inquietante thriller sobre fake news
Tomasz Giemza, estudante de direito expulso da universidade por plágio, é obcecado pela família progressista de classe alta (principalmente sua prima), e trabalha em uma empresa de relações públicas, que o leva para os ramos obscuros da internet, onde ele se destaca no negócio de espalhar notícias falsas e ódio on-line atacando personalidades famosas, celebridades da web e políticos.
O thriller e drama polonês, dirigido por Jan Komasa e escrito por Mateusz Pacewicz, ganhou o prêmio de melhor longa narrativa internacional no Festival de Cinema de Tribeca. Apesar de fictício, o filme se relaciona a situações da vida real, como o uso do Twitter, Facebook e até jogos para manipular psicologicamente os usuários e navegar na opinião pública.
É uma representação de como o ódio impulsionado pela internet pode levar a graves consequências. Komasa e Pacewicz sabem trabalhar a questão das fake news de maneira tão forte e realista, que a história se comunica muito além da Polônia, sendo relevante em outros lugares do mundo, como os EUA e principalmente o Brasil, onde a prática assomou as estratégias políticas na última eleição presidencial. Isso torna essa obra não só relevante para os dias de hoje, como um reflexo do cenário global.
Rede de Ódio
E apesar do elenco forte, é Maciej Musiałowski quem brilha impressionantemente em seu protagonista claramente sociopata, mas que dado o talento do ator, acaba fazendo com que o espectador se afeiçoe por ele, por seus olhinhos caídos, suas lágrimas de crocodilo, boca retorcida e muitos gestos impressionantes, onde acompanhamos claramente um rapaz vendendo a alma para compensar outras coisas que jamais conquistou, reverberando em eventos catastróficos e, por mais que vagamente exagerados, ainda muito próximos da realidade.
Atenção inclusive a belíssima Vanessa Aleksander, que vai muito além disso, construindo uma personagem complexa, mas tão próxima de nós, seja representada como namorada, paquera ou melhor amiga. Agata Kulesza, Maciej Stuhr e Jacek Koman também dão significativo peso à narrativa, que mesmo convencional, explora bem as nuances de todos os personagens, enquanto constrói o ambiente para o apocalipse inevitável, repleto de gravidade e crueza.
O filme ainda guarda uma repercussão trágica, que se relaciona com a trama ficcional: três semanas após o término das filmagens, Paweł Adamowicz, prefeito de Gdańsk (cidade portuária da Polônia) e político liberal frequentemente alvo de inimigos online (tal qual o candidato do longa), foi esfaqueado até a morte durante um evento de caridade transmitido ao vivo. E com essa, fecha-se uma reflexão, é a arte que imita a vida ou a vida imita a arte?