Cobra Kai – As duas primeiras temporadas

Nostálgica e engraçada, história fala sobre rivalidades e legado de maneira divertida, dramática e envolvente

Surgindo como websérie no YouTube Premium em 2018 (e comprada pela Netflix em 2019), a produção de artes marciais criada por Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg e Josh Heald, se situa exatamente 34 anos depois do clássico (primeiro) filme da Sessão da Tarde: ”Karatê Kid – A Hora da Verdade”, criado por Robert Mark Kamen em 1984, resgatando parte do elenco original e os situando como “tiozões do pavê” nos dias de hoje.

Dessa maneira, a escalação já acerta fazendo com que William Zabka e Ralph Macchio (Johnny Lawrence e Daniel Larusso, respectivamente) reprisem seus antigos papéis, rivais no colégio e que continuam da mesma maneira até agora, o que desencadeia todos os eventos do enredo e oferece toda a personalidade dessa série enervante e extremamente divertida.

Cobra Kai

Ainda que ”Karatê Kid” nem de longe seja um grande filme de sua época (marcou sim muitos espectadores que hoje estão na casa dos 30-40 anos, como eu e você, mas isso não significa “qualidade” exatamente), o seriado acerta do começo ao fim a dar continuidade em tempo real à trama do passado e ao situá-la nos tempos atuais, com os dois rivais apresentando características distintas, mas que ainda refletem quem eram antes.

Cobra Kai

Lawrence é o típico branco conservador de direita (que provavelmente nem sabe da classificação onde se enquadra), repleto de preconceitos, machismos e outros ismos, uma figura torpe e errada da cabeça aos pés; enquanto que Larusso representa a elite coxinha que vive o “american way” idealizado, mas não esconde as hipocrisias por baixo das mangas.

O que esperar da série

O roteiro não passa pano para nenhum dos dois e evidencia e brinca com suas falhas o tempo inteiro – o que rende momentos engraçadíssimos da chucrisse de ambos em tela, em algo politicamente incorreto, mas tão identificável em adultos cinquentões por aí, em qualquer lugar do globo, principalmente nas Américas.

E Zabka e Macchio conseguem nos convencer dessas figuras de maneira muito autêntica. Enquanto o primeiro, limitadíssimo como ator e sem qualquer expressão, representa melhor do que nunca o “brucutu ignorante”, do outro lado, o segundo representa como ninguém o bem sucedido de moletom na gola e sapatênis.

A trama, porém, consegue nos manter atentos e simpatizantes a esses dois caras extremamente falhos, justamente porque eles seguem aprendendo com seus erros do passado e falhas do presente através dos jovens, através das mulheres sensatas que os rodeiam e através da consciência que vão ganhando, inclusive quando fazem uma trégua e ouvem um ao outro.

O legado

Cobra Kai é sobre artes marciais, sim, mas também sobre legado (do “bem” e do “mal”, seja representado na forma de Miyagi, seja na sombra de Kreese) e sobre, é claro, rivalidades (das saudáveis, que alguns conseguem sustentar, ou das brutais, das quais outros não conseguem desapegar).

Então, se a dupla de adultos é a alma da história, os adolescentes são o coração. Xolo Maridueña, Mary Mouser, Tanner Buchanan, Jacob Bertrand, Gianni DeCenzo e tantos outros, são ecos de seus senseis (seja do Cobra Kai, que doutrina no agressivo e heavy metal “soque primeiro, pergunte depois”; seja no Miyag-Do, que ensina a pintar cercas e a se defender antes de tudo) e, portanto, replicam seus gestos, em um vaivém que sustenta os fundamentos da série com novas rivalidades que vão se formando (com amigos que viram inimigos, com garotas que não se bicam, com dois moleques de ideais opostos, tem de tudo por aqui) e, sempre que pode, o enredo gosta de retornar à luta final do primeiro filme, mas agora incorporado no corpo dos jovens e isso acontece em alguns momentos-chave da primeira e da segunda temporada. São ecos bem-vindos e efetivos na narrativa.

Cobra Kai

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Enervante e dinâmico, o seriado nunca deixa a peteca cair. Os 10 episódios de cada ano são curtos (algo em torno de meia hora cada) e, portanto, funcionam perfeitamente para maratonar. O número elevado de personagens contribui para subtramas que sempre se coligam ao fio principal e que sempre tem algo a dizer. Para o público dessa geração, a trama funciona com os temas atuais e a série se preocupa em realizar flashbacks para dar contexto, sem deixar ninguém boiando (em dado momento, os autores vão para as continuações do filme para encorpar ainda mais o drama).

Para o público dos anos 80-90, ela é ainda mais poderosa, por deixar a nostalgia rolar solta, tanto na trilha sonora, quanto em piadas pontuais, diálogos certeiros e comportamentos que só fariam sentido no passado (atenção ao episódio focado no personagem de Rob Garrison, que tanto na ficção quanto na vida real, está morrendo… é bem forte e poderoso). São peças fora do tabuleiro que procuram se encaixar de alguma maneira. Já as lutas, são a cereja no bolo. Sempre bem coreografadas, muito bem executadas, se atrelam certeiramente na história. Tem torneio, tem briga no colégio, na rua, para todos os gostos.

Cobra Kai consegue ser uma continuação perfeita de um clássico, consegue alimentar a nostalgia dos antigos e uma ótima opção de entretenimento para os jovens. Sabe fazer rir e chorar na mesma medida. Sabe prender o público na frente da TV, sem barrigas entre um episódio e outro. Aplausos, por favor… e uma bicuda no queixo de outras séries teens, logo em seguida.

Cobra Kai

Nome Original: Cobra Kai
Elenco: Ralph Macchio, William Zabka, Courtney Henggeler
Gênero: Ação, Comédia, Drama
Produtora: Hurwitz & Schlossberg Productions, Overbrook Entertainment, Sony Pictures Television
Disponível: Netflix
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