Robin Hood de 1973, uma das melhores adaptações
O herói do povo
Com aspecto de esboço, de um material malacabado, o clássico animado da Disney, Robin Hood de 1973, ganha charme justamente por isso (nessa figuração atípica da produtora, tão atenta a detalhes). Traz um discurso mais contemporâneo do que nunca. Um rei tirano e patético que assumiu o trono após um golpe e que suga a população pobre em prol de sua própria riqueza. E enquanto isso, aplica um sistema ditatorial sobre aqueles que o denigrem, sejam com as palavras, sejam com as canções.
Wolfgang Reitherman, um dos memoráveis Nove Anciões da Casa do Mickey, dirige esse longa repleto de ritmo, bom humor, dramaticidade, ação e crítica política sem perder o rebolado. Realizando aqui uma das adaptações mais fiéis que se conhece a respeito da lenda do Príncipe dos Ladrões.
Robin Hood de 1973
E é tão genial a maneira como ele associa os animais e suas características com as contrapartes do conto; portanto, uma ligeira, esperta e audaz raposa não poderia ser outra que não Robin; e um grandioso e sensato urso como João Pequeno; um galo como bardo-narrador (por que não?); além de um lobo, uma serpente e dois abutres como aliados do inimigo; um leão (o Príncipe João), tal qual seu bondoso irmão que traz a raça no sobrenome (Rei Ricardo Coração-de-Leão).
Sendo o diretor o mesmo de outros clássicos da casa, como “101 Dálmatas”, “Aristogatas” e principalmente “Mogli – O Menino Lobo”, muito do seu estilo de sketch retorna aqui, assim também como alguns dubladores, como os de Baloo e Kaa.
A dublagem nacional confere ainda mais charme à produção, com o saudoso Cláudio Cavalcanti como o protagonista e Orlando Drummond como seu melhor amigo, entre outros. Atenção ainda a marcante cena de musical “Abaixo Este Rei de Imitação”, quando animais da floresta de Sherwood e até do condado de Nottingham, pobres ou da burguesia, se unem para cantar contra a tirania.
Aqui é antifa
Essa união volta a acontecer no corajoso e enérgico clímax, que envolve uma trama engenhosa, seguida de uma perseguição repleta de tensão, como somente os melhores dentre os melhores criadores da Disney seriam capazes de realizar. Não à toa, essa animação inspirou outra obra-prima moderna do estúdio: “Zootopia”.
Em tempos onde o fascismo aponta no horizonte e encobre o sol e a esperança, resgatar heróis da infância e do povo certamente é um alento que se une ao entretenimento para salvar sessões dos pequenos e dos grandes espectadores.
https://www.youtube.com/watch?v=2p_OJcPZKno